E a Ciência brasileira foi para o Espaço!…

“Astronauta libertado, minha vida me ultrapassa em qualquer rota que eu faça. Dei      um grito no escuro… sou parceiro do futuro… na reluzente galáxia.” (Tom Zé/2001)

A viagem do astronauta Marcos Pontes colocou pela 1ª vez o Brasil no espaçoApesar      do grande alvoroço da mídia, ela recebe críticas contundentes…como as do astrônomo Ronaldo Rogério de Freitas Mourão (Bruno Aires, Jornal Folha Dirigida,12/04/2006)

Criador, e primeiro diretor do ‘Museu de Astronomia e Ciências Afins’… (localizado no Centro do Rio) e autor de mais de 75 livros, Ronaldo Mourão defende que esta foi uma viagem precipitada…que poderia aguardar até 2009, quando seria feita gratuitamente, considerando ainda, a necessidade de investimentos para o projeto espacial brasileiro.  Mesmo com tantas críticas Mourão admite que a viagem de Marcos Pontes…abriu o precedente para que a Astronomia ganhasse espaço em escolas. Atualmente, alunos       de todo o país estão interessados em descobrir mais – sobre os…”mistérios do espaço”.

Em entrevista à “Folha Dirigida”… – Ronaldo Mourão lamenta os poucos                    investimentos, e a ínfima atenção que se dá ao projeto espacial brasileiro,                            bem como ao ensino científico no país…  —  Leia toda a entrevista abaixo:

Qual a importância da viagem do astronauta Marcos Pontes para a Ciência brasileira?

issRonaldo Mourão – Para a Ciência brasileira, não é muito importante… – A não ser algumas experiências…como uma que estuda proteínas,  e, é interessante… ou outra que usa vagalumes. Porémacho que estas experiências poderiam ser feitas em 2009, ano em que o Brasil teria a possibilidade de mandar (gratuitamente)…um outro astronauta; desde que cumprisse dentro do prazo firmado, o acordo de construir as peças da ISS (‘Estação Espacial Internacional’).

Mas que acordo é este?

Mourão – É um acordo segundo o qual o Brasil é uma das 16 nações que colaboram com a ‘estação espacial internacional’ … e teria de construir algumas peças que seriam usadas na estação.  Pelo acordo,  o astronauta Marcos Pontes iria de graça, sem a necessidade de pagar US$10 milhões…E isso seria só depois, não agora – Acho mais importante para o Brasil investir no seu programa espacial, e o próprio Pontes tem essa noção. Obviamente, essa viagem tem um lado muito interessante, pois estimula os jovens a se entusiasmarem pela ciência espacial. Mas o governo deve incrementar incentivo…e verbas na pesquisa.

O nosso projeto começou na mesma época que os projetos da Índia e da China. Isso foi em 1961 com Jânio Quadros, há mais de 40 anos. A China já conseguiu colocar um astronauta no espaço por conta própria, e a Índia tem sua sede lançadora de satélites… O Brasil ainda não conseguiu construir um ‘lançador’ — que seria do tipo “combustível sólido”, enquanto todos os outros países já estão com líquido… Agora, vão reformar todo o projeto para usar combustível líquido. – O lançamento de Marcos Pontes só iria acontecer em outubro, mas como neste mês já teriam acontecido as eleições, o Lula forçou a antecipação, fazendo um acordo comercial com a Rússia… e pagando a viagem. — Tanto que a NASA não colocou o brasileiro como parte da tripulação que vai colaborar na construção da estação espacial. 

O senhor afirmou que a viagem de Marcos Pontes não tem tanta importância                  para a Ciência brasileira…Acredita mesmo que nossos cientistas não poderão                aproveitar nada, daquelas experiências desenvolvidas pelo nosso astronauta?

Mourão – Acho que seria mais importante para a Ciência brasileira desenvolver um programa de pesquisa espacial em que universidades participassem — estimulando a formação de astronautas e de pessoal técnico, influenciando também a construção de  infra-estrutura necessária para lançamentos…  Isso acarretaria o desenvolvimento eletrônico no campo de diversas indústrias, e o comércio de transporte espacial…que          é o que está sendo feito agora internacionalmente de forma muito lucrativa.

Acho que o mais interessante que houve até hoje no Brasil, foi no governo                    Dilson Funaro, quando 2 ministros da Ciência e Tecnologia conseguiram                              verba para o programa espacial, muito maior do que neste período todo.

terra-vistada-luaVejo com preocupação, pois pode ser apenas uma viagem… que não trará recursos depois. Precisamos nos tornar independentes, sobre o aspecto comercial e industrial. — Um bom exemplo é a França país onde o programa espacial cresceu…no objetivo de incentivar a indústria eletrônica… A “Corrida à Lua” era, no fundo – uma maneira de desenvolver sua eletrônica. – A China também usou a pesquisa espacial como meio de desenvolver Ciência.

O senhor possui restrições quanto à relação custo-benefício desta viagem?

Mourão –  Tenho… Inegavelmente não precisávamos gastar com esta viagem.              Deveríamos aguardar. Às vezes, a pesquisa espacial é vista pelas pessoas como                sem importância. Não vejo assim; acho muito importante inclusive lucrativa.              Mas o valor dela sem dúvida é chamar a atenção para a questão espacial.

Como o senhor avalia a forma com a Ciência é transmitida nas escolas brasileiras?

Mourão – Não é boa…Quando houve a crise dos Sputniks nos Estados Unidos, houve um inquérito e um levantamento para verificar como fariam para rever o ensino de Física e de Matemática, ou seja, o ensino científico nas universidades e nas escolas secundárias. Tudo isso foi revisto por causa de uma crise… pois eles verificaram que o ensino estava atrasado. No Brasil, deveria haver … como houve nos EUA uma reforma do “ensino secundário”.

Acredito que o Brasil já deveria ter feito uma ‘Comissão Parlamentar                                  de Inquérito’ para verificar a razão pela qual estamos tão atrasados.

O senhor acredita que há incentivo nas escolas para                                                                     que as crianças busquem o conhecimento científico?

Mourão –  Tenho a impressão que há pouco incentivo. No  Brasil  deveria  haver  mais museus de Ciências, mais museus técnicos. A gente tem muitos campos na Biologia que não são explorados. Um hospital abandonado poderia ser transformado num museu da História da Medicina, por exemplo…Em um hospital desativado, com seu equipamento abandonado, não há aquela ideia de conservar nossa história científica. Tais iniciativas seriam benvindas, incentivando alunos a visitarem museus para uma melhor formação. 

A última vez que a atenção nacional voltou-se para a questão espacial no                         Brasil foi quando houve o acidente na Base de Alcântara (MA)…em 2001.

Mourão – Falaram que houve sabotagem externa, mas o que houve realmente, foi uma sabotagem do governo, que retirou todos os recursos, deixando os técnicos de Alcântara sem as condições necessárias para o trabalho. — As razões do acidente, no fundo, foram cortes na pesquisa, que mesmo depois de 20 anos, ainda mantinha seu projeto obsoleto.

Falando especificamente da Astronomia, ela é pouco abordada nas escolas brasileiras?

Mourão – É pouco explorada… Há 40 anos havia na “Geografia Física” um espaço maior para a Astronomia. O problema é que o ensino da Astronomia foi ficando de lado. A gente vem tentando incentivar, dando aulas nos colégios. No Museu da Ciência, nós oferecemos conferências aos colégios com este objetivo. Eu já dei conferências no Rio de Janeiro para escolas secundárias, e acho que isso é muito interessante, porque você estimula, e explica qual é o sentido da pesquisa espacial. — E isso é importante, não apenas para estimular a formação de astrônomos… mas até para uma melhor formação dos políticos brasileiros.

Tais políticos não entendem a importância da pesquisa espacial; acham uma ‘coisa menor’.Alcântara
É realmente difícil convencer um brasileiro dessa importância; como aconteceu na China. Hoje, a China é uma potência! E nós poderíamos ser uma China… Se desse nos jornais do Brasil o espaço para a Ciência que se dá ao futebol, seríamos um país diferente. 
Aqui, se a gente perder a Copa vai ser uma crise…Todos vão querer saber o que aconteceu. Já com oacidente de Alcântara…passou e todo mundo esqueceu… Nele, em 22 de agosto de 2003, morreram 21 engenheiros técnicos (civis)… — Mas, se o Brasil perder a Copa, será pior!…

A questão do ensino também inclui professores… O senhor acredita que os professores de Ciências são capacitados e atualizados para passar o conhecimento necessário aos alunos?

Mourão – Os professores têm dificuldade de se atualizar; o salário de professor é muito baixo no Brasil. O salário do professor primário, então, é vergonhoso. Eles não podem se atualizar porque os livros são caros… Os colégios também não estão preparados. Deveria haver mais informática nas escolas… E, além disso, se vê uma grande falta de bibliotecas.

Como esta viagem espacial pode ser bom momento para                                                         que os professores envolvam seus alunos com a Ciência?

Mourão – O professor deve ter um certo sentido crítico para mostrar que já                  deveríamos estar mais adiantados na pesquisa espacial. – É preciso também                  mostrar o valor das‘telecomunicações‘ – hoje toda feita através de satélites.

O senhor acredita que falta também uma questão prática mais forte nas escolas?          Muitas vezes as aulas de Ciências são apenas teóricas, quase sem a parte prática.

Mourão – De fato…falta a parte de ‘laboratório instrumental nas escolas. Isso, tanto na Física, quanto na Química, como na própria Matemática. — Poderíamos fazer um ensino muito mais direto e didático. Sendo que, para isso, também é necessária uma reciclagem dos professores. – Maso maior problema dos professores – sem dúvida… – é o salário.

Além disso independente de ensino público ou privado – 4 horas por dia é muito pouco.  O aluno sai da escola e muitas vezes nem lembra o que foi dito. Sou a favor de um horário integral…com um maior acompanhamento por parte dos professores. E, por fim, o ensino deveria ser financiado por empresas, através de imposto — apesar deste ser um programa que — no Brasil… não funcionaria… — mesmo sabendo que ele funciona em outros países.

O problema no Brasil é o desvio do dinheiro. Se o dinheiro fosse realmente aplicado no setor para o qual foi arrecadado…teríamos um país melhor… Nossas universidades e instituições de pesquisa estão hoje em crise porque não recebem o quanto deveriam.

Ronaldo_Mourão_AstrônomoMuitas crianças têm o sonho de se tornar astronauta… porque é uma profissão que gera um certo…fascínio…apesar de ser arriscada. Mas afinal, o que existe de tão especial assim na vastidão do espaço?

Mourão – Se trata do mesmo fascínio que a Aviação tinha no início… A aventura, porque o espaço é uma esperança… Logicamente é o mesmo…que já aconteceu nas “Navegações”.  Agora é a vez da Astronáutica. – Só que isso passa…mas mesmo assim espero que algo segmentado permaneça…Este é o lado positivo. Esperança do governo ter consciência de que deve investir no “projeto espacial brasileiro”.  ***********************************************************************************

Perspectivas astronômicas“… Jacques Lépine (ago/2007)                                                  “As principais descobertas… serão aquelas mais inesperadas”.

O contexto internacional deve ser visualizado para um melhor entendimento, do que vem a ser a astronomia no Brasil… — Nas últimas 2, ou 3 décadas… a astronomia ganhou enorme impulso devido a grandes investimentosda ordem de bilhões de dólares… a cada projeto.    Os resultados científicos então esperados…já para o próximo decênio…são muitos – e bem diversificados … abrangendo a descoberta de planetas com possibilidade de vida…galáxias primordiais se formando; explosões de raios gama (gamma-ray bursts); identificação da origem dos raios cósmicos de alta energia, e até mesmo, deteção de ondas gravitacionais.

Investimento em recursos humanos                                                                                    O fato de universidades privadas se envolverem com astronomia                            demonstra uma nova percepção a respeito desta área; que conta                                    ainda com ajuda voluntária de grupos de astrônomos amadores.

Ao abordar a astronomia nacional…vamos primeiro quantificar os recursos humanos. A Sociedade Astronômica Brasileira (SAB) conta com 520 membros, sendo 320 doutores. As principais instituições que realizam pesquisa são o IAG-USP (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas) os órgãos do governo federalMCT, ON, Inpe, LNA; universidades federais (do norte para o sul – UFRN, UFMG, UFRJ, UFSC, UFRGS); uma universidade estadual em Ilhéus – e universidades privadas: Mackenzie, Unicsul…e ‘Vale do Paraíba’ (UNIVAP), sendo que essas 2 últimas são recentes…tendo seus cursos de pós-graduação em astronomia aprovados pela Capes em 2007.A “produção científica” (em termos de artigos) – e a formação de mestres e doutores – têm crescido de forma regular, elevando o ranking internacional do BrasilA realização no país de cerca de uma dezena de simpósios internacionais com a chancela da “União Astronômica Internacional” (IAU) nesta última década, bem como a programação de sua Assembléia Geralem um evento  que contou com a participação de cerca de 3 mil astrônomos em 2009 no Rio de Janeiro, são causa e consequência inconteste – de uma reconhecida maior inserção e visibilidade.

Outro investimento de grande importância… é a participação brasileira no ‘Gemini. Mesmo tendo apenas…2,5% do tempo, como são 2 telescópios…Norte e Sulisto representa cerca de 15 noites… — E os astrônomos brasileiros estão fazendo ‘bom uso’ do tempo do Gemini, com grande nº de publicações…em termos de “tempo disponível”.

Demais colaborações

Existem outras colaborações internacionais bem sucedidas – com participação brasileira.   O observatório internacional Pierre Auger, para chuveiros de raios cósmicos, produzidos pela chegada de partículas de altíssima energia que incidem na atmosfera terrestre…com uma rede de detetores…cobrindo uma extensa área na Argentina – está colhendo os seus primeiros resultados (a participação brasileira é liderada por pesquisador da Unicamp). Já o Satélite francês ‘Corot’  que conta com uma participação basileira coordenada por pesquisador do IAG/USP, foi lançado em dezembro/2006, por um foguete russo Soyuz.  O sinal do satélite é recebido…em parte, pela estação rastreadora de Alcântara” (MA).  A missão do satélite é estudar ‘sismologia estelar‘…cujas vibrações permitem analisar    a estrutura interna destas estrelas além de detetar possíveis… “planetas extra-solares”.

O Brasil está dando seus primeiros passos na área de astronomia espacial. Em 2004, foi lançado com sucesso, o experimento em balão ‘Masco’ do Inpe, com detetor imageador     de raios X…A experiência obtida com o ‘Masco, antes mesmo de seu lançamento…deu origem a um projeto de satélite liderado pelo Inpe… o Monitor e Imageador de Raios-X  ‘Mirax‘, com várias colaborações internacionais. – Na radioastronomia, os projetos      de interferômetro solar BDA (‘Brazilian Decimetric Array’), desenvolvido pelo Inpe em Cachoeira Paulista – com apoio da Índia… bem como o telescópio solar submilimetrico, instalado pelo CRAAM (Mackenzie) em ‘El Leoncito’, Argentina, além do experimento GEM, também do Inpe, mapeando a ‘radiação galática’ em diversas frequências… são mais exemplos bem-sucedidos de ações conjuntas envolvendo grupos internacionais.

Frente à evolução da astronomia mundial em torno de grandes investimentos, parece evidente que há pouco espaço para pequenos projetos nacionais…e que a inserção em grandes colaborações internacionais é o melhor caminho para se manter competitivo.

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Nesse sentido, nosso país acaba de dar um grande passo, com a inauguração em 2004     do telescópio Soar, de 4,1 m de diâmetro, em Cerro Pachón, Chile. – Temos direito a     31% do tempo de observação – tempo considerável…para a eficiência do instrumento.        Os parceiros no Soar são a Universidade Carolina do Norte…a Universidade Estadual        de Michigan e o Observatório Nacional dos EUA (‘NOAO‘). O telescópio possui ótica            ativa (espelho principal) e correção de flutuações atmosféricas no refletor secundário.        — O tempo brasileiro é administrado pelo Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA).

As dificuldades inerentes                                                                                                          Lançar um projeto de um pequeno satélite astronômico é uma                                    operação mais fácil do ponto de vista técnicodo que político.

Nossa descrição dos projetos em execução parece indicar que tudo está no melhor dos mundos… No entanto, as dificuldades existem. O aspecto com o qual não devemos ter preocupação é a qualidade e criatividade de nossos cientistas. – Mas essa criatividade        se encontra frustrada pela falta de oportunidade aos jovens. Alguns institutos veem      seus quadros se aposentarem sem perspectiva de novas contratações, forçando assim jovens doutores a batalhar a construção da infra-estrutura para instalar uma “cultura        de pesquisa” em lugares onde se pensa que professor só tem que dar aula…nada mais.

Outro problema…é que não há no país uma instância representativa…junto ao governo,   que pense nos rumos da ciência. A ‘SAB promove debates, mas não tem poder de decisão. Existe uma distância enorme entre o governoe os responsáveis por projetos; ou mesmo, entre pesquisadores e agências financiadoras. Os cientistas, na maioria, não têm vocação para lobby junto ao governo. Mesmo assim, tomam iniciativas – a nível nacional e global,   e conseguem auxílios pontuais de agências de fomento. — No entanto, trocas de governo, ou de prioridades em agências de fomento…podem assim…de repente, pôr tudo a perder.

Por exemplo; a decisão da Fapesp, há poucos anos, de suspender qualquer                    importação por um prazo de mais de 1 ano teve forte impacto negativo no                            desenvolvimento do instrumento ‘Soar Integral Field Spectrograph’ — em                      construção para o telescópio Soar. Tudo aconteceu sem qualquer diálogo.

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Uma câmera fabricada no Brasil, que está sendo instalada no ‘Telescópio SOAR’, no Chile fará imagens do céu com nitidez sem precedentes…   [IAG/USP]

Após o sucesso do envolvimento no ‘Soar‘ e no ‘Gemini‘, parece ter acontecido uma parada nos projetos atuais…Porém, esses  2 projetos representam uma ‘participação modesta’… — em termos de… “consórcios internacionais”… e, 1 década transcorrida,  desde que … tais decisões foram tomadas, novas parcerias deveriam ser procuradas.

Por outro lado, existe uma assimetria entre o desenvolvimento da astronomia óptica, e da radioastronomia – que, embora tenha à disposição o radiotelescópio de 13,7 ms em Atibaia…oferecido pelo Inpe, para o uso da comunidade, não conta com o apoio – do tipo de um laboratório nacional (‘LNA‘), como a astronomia óptica. – O ‘radiotelescópio’ é bem antigo…e o Brasil não participa de projetos internacionais de radioastronomia. – Seria portanto oportuno o país ingressar como sócio no projeto SKA, garantindo um melhor acesso futuro a um instrumento bem competitivo.

O Brasil foi candidato a hospedar o maior projeto de radiotelescópio da atualidade (‘SKA‘). Mas provavelmente ninguém no governo federal tomou conhecimento do que este projeto representaria realmente. Dessa forma, seria útil que o ministro de Ciência e Tecnologia…e também os diretores científicos das agências financiadoras…estabelecessem o hábito de receber uma vez ao ano, uma delegação de representantes internos de cada área científica.  Esse planejamento incrementaria ações fundamentais – como indústrias de instrumentos astronômicos (consequência natural do envolvimento em projetos do tipo Soar e Gemini), com benefícios tecnológicos para o desenvolvimento científico…de modo geral. – Embora obtendo progressos consideráveis com alguns projetos inovadores; avaliados e aprovados por ‘comitês internacionais’ – percebe-se ainda muitas dificuldades … “emperrando” esse desenvolvimento… Em particular  a ausência de uma estável…equipe técnica de apoio.

Jacques Lépine é professor do Departamento de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas, da Universidade de São Paulo             (IAG-USP)… texto base…  ‘Perspectivas na área de Astronomia’ (ComCiência)  ^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^

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A “Odisseia Espacial Brasileira”    O espaço não é só ciência, pode também ser negócio. — E o Brasil já atentou para isso, quando construiu emAlcântarao seu ‘Centro de Lançamento de Foguetes’. Afinal…é mais barato lançar satélites de lá, do que qualquer outro local terrestre.

Isso acontece por que a Terra  –  literalmente… “dá um empurrãozinho extra” no foguete, permitindo economia de combustível e rendimento superior. Não é tão difícil de imaginar como isso ocorre. – Imagine o planeta girando. – Se você estiver exatamente sobre o polo geográfico Sul no meio da Antártida…apenas girará sobre si mesmo… – sem sair do lugar.  Entretanto, quanto mais você se aproxima da linha do equador…maior a “volta” que você dá junto com a Terra… Mas, não importando em que faixa esteja… você completaria uma volta no mesmo tempo…Afinal, o planeta gira como um todo coeso, num mesmo período.

Moral da história: quanto mais perto do Equador… – maior é a distância percorrida junto com a Terra, embora o tempo seja igual. Uma forma mais simples de dizer isso, é que sua velocidade (distância/tempo) é maior…Isto é, quanto mais perto da linha do Equador um foguete for lançado, mais “velocidade inicial“… – de um ponto de vista externo … ele terá.

Alcântara está a apenas 2 graus da linha do Equador. Seu principal concorrente é o Centro de Lançamento de Kourou, instalação europeia localizada na Guiana Francesa…que está a 3 graus do Equador; só um pouco mais longe. Então por que ninguém construiu uma base exatamente na linha do equador ainda?…Porque nem só disso vive um centro espacial – é preciso que a localização cumpra uma série de pré-requisitos… para a segurança dos voos.

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Mar por perto é altamente desejável… baixa densidade                                  populacional nos arredores, boas condições climáticas                                    na maior parte do ano para lançamentos. (Alcântara)

O investimento em Alcântara, de fato, pode ser interessante do ponto de vista comercial. Mas não estamos esquecendo de nada, não?… Ah, além da base para os “lançamentos comerciais”, precisamos também de foguetes e satélites. Pois é, são 2 coisas que o Brasil ainda não tem. – No campo dos foguetes…o país desenvolve por conta própria seu “VLS” (‘Veículo Lançador de Satélites’) desde os anos 1980…e que até hoje não conseguiu fazer nem um voo ‘bem-sucedido’. – É porém, importante prosseguir nessa ‘teimosia’, porque      o VLS” é pequeno demais — para poder lançar… “satélites comerciais“… ao espaço.    A solução então encontrada pelo governo para ativar futuros lançamentos comerciais foi uma parceria com a Ucrânia, que herdou a tecnologia dos foguetes da antiga URSS, mas não tem uma base boa para fazer o negócio sozinha. Resultado: Brasil e Ucrânia criaram uma companhia binacional para usar o foguete…Cyclone 4…em Alcântara. Segundo Sergio Gaudenzi…presidente da ‘Agência Espacial Brasileira’ – o 1º lançamento da joint-venture ‘Alcântara Cyclone Space’ deve acontecer por volta de 2010 – mas não colocaria minha mão no fogoa considerar o ritmo letárgico em que essas coisas andam por aqui.

Ainda há dúvidas entre os especialistas se o “Cyclone 4” é uma boa opção ao mercado de satélites…especialmente na competição com gigantes, como “Ariane 5”, que serve a base de ‘Kourou’, e lança 2 ou 3 satélites de uma só vez na ‘órbita geoestacionária’. Todavia, o fato é que com um empurrãozinho extra da Terraem Alcântara – o “Cyclone 4” levaria um satéliteaté mesmo de médio porte, à mesma ‘órbita de ouro’ das telecomunicações.

Dependendo do custo de operação, seu uso pode se tornar economicamente                  interessante para os potenciais clientes…  —  Legal…  se tudo isso der certo,                        poderemos ter a base e o foguete em 2010…Contudo, ainda vai faltar o que                            talvez seja o principal ingrediente nessa massa… ‘satélites para lançar‘.

Temos um programinha de satélites científicos      e tecnológicos mas apenas essa demanda não justificaria o investimento no projeto Alcântara Cyclone Space. Como se sabe…o negócio aqui é ganhar dinheiro, e para isso, o esforço tem que angariar atrativos clientes internacionaisE aí, esbarramos num problema — entre os satélites comerciais, ao menos 80% deles portam peças americanas…ou são totalmente fabricados por    lá. Isso então significa que, para lançá-los…é preciso autorização por escrito do governo dos EUA – que teme que sua preciosa…”tecnologia espacial”…caia na mão de países como o nosso.

Há uma solução para o impasse, mas para isso é preciso de um acordo de salvaguardas tecnológicas; basicamente um documento que diz… “podem lançar seus satélites daqui,    que a gente promete não espiar o que tem dentro deles”. Durante o governo ‘FHC’ esse acordo chegou a ser redigido…e acertado com os americanos – mas tinha uma série de cláusulas que feriam nossa soberania, e a mais grave delas é que…o dinheiro ganho em Alcântara não poderia ser utilizado…no desenvolvimento dos nossos próprios foguetes.

Embora a exigência para nós fosse inócua (fontes então no MCT diziam que o dinheiro ganho em Alcântara ia para um ‘bolo‘ e de lá ficaria impossível rastrear o que foi gasto onde), ela era essencial para que o acordo fosse aceito pelo Congresso americano… que   tem por princípio o esforço de não-proliferação de ‘mísseis balísticos intercontinentais’     (versão militar dos lançadores de satélite). Ainda assim, a administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva achou muita prepotência deles, nos dizer onde gastar o nosso dinheiro, e derrubou aquele acordo, logo no início de seu 1º mandato… Desde então, o Brasil vem tentando um diálogo aberto para renegociar esse acordo – que…a princípio, emperra qualquer chance de sucesso comercial em Alcântara; mas o esforço ainda não resultou em um outro texto que fosse “minimamente aceitável”para ambas as partes.

Disso, sobretudo, depende o futuro da base brasileira…Não de instalações,                          não de tecnologias, não de clientes…Para variar, o grande entrave para o                          sucesso, ontem, hoje e sempre é a burocracia. (Salvador Nogueira – 2007) **********************************************************************

Na área espacialBrasil continua com os pés no chão…   (16/12/2010)                      O Brasil é classificado como um dos competidores menos atuantes no cenário internacional devido à carência de investimentos e formação de especialistas.

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A conclusão acima é do… ‘Conselho de Estudos e Avaliação Tecnológica’, órgão técnico da Câmara dos Deputados – responsável pela elaboração de estudos críticos…e especialização tecnocientífica, além de análises de viabilidade e impactos — em relação à tecnologia…ou, política governamental.

A publicação…A Política Espacial Brasileira”         revela o resultado de conferências e reuniões         com ‘autoridades’… e “especialistas” do setor.

O trabalho aponta que — embora o Brasil seja um dos pioneiros na área espacial, hoje não dispõe de recursos adequados para desenvolver o setor. – E, por incrível que pareça… – apenas 4 anos…após o lançamento pelos russos do satélite “Sputinik I“, considerado o marco zero da exploração espacial, o Brasil montou um grupo de trabalho para ingressar nesse seleto clube (o clube continua seleto mas o Brasil não faz parte dele).

No período de 2005 a 2014, os investimentos previstos pelo ‘Plano Nacional de Atividades Espaciais’ eram de R$ 3,12 bilhões. – Mas, os recursos efetivamente gastos…até dezembro de 2009 somam apenas R$ 502,36 milhões. Para se ter uma ideia, só em 2008 apenas em atividades civis a China investiu 1,3 bilhão de dólares (cerca de R$ 2,25 bilhões) conforme o estudo. Este valor é praticamente o mesmo do aplicado pela Rússia no mesmo ano…1,31 bilhão de dólares. – Por outro lado, a maior potência mundial em tecnologia espacial os EUA, destinaram 18,9 bilhões de dólares (R$ 32,68 bilhões) à NASA, naquele mesmo ano.

“Projeto de lei espacial”                                                                                                            “O total previsto de desoneração dará novo impulso ao setor industrial                                  espacial que hoje vive praticamente de contratações da União”.

Com base nas conclusões do estudo, o deputado Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) apresentou o Projeto de Lei 7526/10 – que institui incentivos para as indústrias espaciais, e recomendações ao ‘Poder Executivo’ para atuar na área… — A proposta concede uma série de benefícios fiscais para as ‘indústrias espaciais’…assegurando,          por exemplo… – isenção total do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) na comercialização de bens, produtos e serviços do setor espacial; assim como do PIS/ PASEP…Mesmos benefícios aplicam-se à venda ou importação de “softwares” para              a área espacial. Como contrapartida as empresas beneficiadas anualmente deverão  investir ao menos 5% de seu ‘faturamento bruto‘…em pesquisa e produção no País.

Rollemberg ressalta que o ‘orçamento público’… além de escasso… é          dirigido majoritariamente para institutos executores do programa;          restando assim, pouquíssimos incentivos à “indústria aeroespacial”. 

Ainda segundo o projeto…nas compras por órgãos e entidades da administração pública    e nos financiamentos por entidades oficiais de crédito – as empresas brasileiras do setor espacial… e, os bens considerados de fabricação nacional – terão prioridade. A proposta também prevê a criação de linhas de crédito especiais para pesquisa, e desenvolvimento tecnológico da área… – Outra fonte de recursos destinados ao setor, prevista na medida,    é a transferência de 15%, no mínimo, da arrecadação com a ‘contribuição de intervenção no domínio econômico (Cide) para o ‘Fundo Setorial Espacial’. – O estudo do conselho, contudo, mostra que hoje o fundo é insignificante; ou sejamenos de 1% dos recursos é destinado ao “programa espacial”; isto é cerca de R$ 9,6 milhõesentre 2000 e 2009.

Já por meio da Indicação 6480/10, Rollemberg sugere ao Executivo, entre outras medidas, a substituição do Conselho Superior da Agência Espacial Brasileira pelo Conselho Superior de Política Espacial – vinculado diretamente à “Presidência da República”… Na opinião do parlamentar, a Agência Espacial Brasileira também deve ser reformuladaadquirindo um quadro próprio de servidores…além da tão sonhada ‘autonomia orçamentária’. ‘texto base’  ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Satélites brasileiros atrasam por falta de tecnologia, e orçamento (junho/2011)  “Há uma curva de aprendizagem…que não se consegue acelerar mais do que a um certo ritmo, independente da quantidade de pessoas…ou do dinheiro que se coloque no setor”.

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O satélite Amazônia 1 de 550 kg é totalmente brasileiro, e está em construção utilizando componentes criados por 15 empresas nacionais. [Imagem: INPE]

O Brasil ainda não lançou o satélite de observação Amazônia 1inicialmente previsto para abril/2010, por carência    de ‘domínio tecnológico’…Conforme o responsável por gestão tecnológica do Inpe (‘Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais’) Marco Antônio Chamon, o projeto do satélite, também tem como objetivo, desenvolver tecnologia local:

“A adaptação da ‘indústria nacional’ aos padrões espaciais foi mais demorada do que o previsto. – As indústrias penaram para aprender…como fazer. ‘Aprender a fazer tecnologia’ é muito complicado”.

Para Chamon, a dificuldade principal está nos…”componentes eletrônicos”:                      “Em toda parte mecânica já temos maior segurança. – O problema é que,                          algumas peças produzidas não resistem às câmaras, que simulam vácuo,                        variação de temperatura, e de impacto…Às vezes quebram. Voltam para                              a bancada, daí são refeitas…e estudadas…É um questão de aprendizado”.

Prioridades, compromissos e metas

Para a consultora legislativa da área de ciência e tecnologia da Câmara dos Deputados, Elizabeth Veloso, a indústria espacial nacional tem dificuldade de se desenvolver…por falta de continuidade do “Programa Espacial Brasileiro”… “Não há fluxo de compra,    não há prioridade… – faltam recursos… e compromisso com o atendimento de metas”.

Em sua opinião… o mau desempenho do programa deixa o país à mercê das grandes potências, e totalmente dependente para monitorar por satélite a ocupação de terras,  desmatamento florestal… vigiar fronteiras…prestar serviços de previsão do tempo, e prevenção de catástrofes (como enxurradas e grandes estiagens), descobrir riquezas,    além de atender à demanda da telecomunicação – como ampliação da “banda larga”.

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O satélite Lattes será voltado estritamente para experiências científicas. [Imagem: INPE]

Para o empresário Célio Costa Vaz, diretor da Orbital Engenharia ltda,  o programa espacial brasileiro está em uma ‘espiral descendente’, pelo embaraço das empresas… no setor, em sobreviver como fornecedoras exclusivas do programa espacial; além da dificuldade competitiva no “mercado internacional”. – Por exemplo… a “Orbital” acabou de entregar ao…INPE o modelo de voo do gerador solar do ‘Cbers 3‘, satélite que o Brasil desenvolve em parceria com a China … com o lançamento previsto para mais de    1 ano após ser lançado o Cbers 2b.

Conforme comentários do empresário… a indústria espacial brasileira sofre com a falta    de encomendas tecnológicas, e maior volume e regularidade nas contratações realizadas para os projetos operacionais. – Além do…Amazônia 1″…há atrasos e indefinições no cronograma do satélite do…Programa Internacional de Medidas de Precipitação, uma parceria com os EUA)…do ‘Satélite de Sensoriamento Remoto’ com o ‘Imageador Radar’ (Mapsar, parceria com a Alemanha), e do Satélite Lattes (para experiências científicas).

Em julho, o governo federal deverá estabelecer metas que pretende atingir, e valores a serem gastos com o desenvolvimento e a aquisição de satélites artificias no período de 2012 a 2016. Até o fim de agosto a proposta será encaminhada ao Congresso Nacional,    no Projeto de Lei do Plano Plurianual que o governo está elaborando. Por enquanto, a expectativa é que o Brasil consiga lançar…nos próximos anos…o satélite Amazônia 1 –  (previsto para 2013), e dois satélites com a China, o Cbers 3 e 4 (previstos para 2012 e 2014…respectivamente). O gasto com o desenvolvimento e lançamento dos 3 satélites,    está orçado em torno de US$ 200 milhões…e, conforme Marco Antônio Chamon, que coordena a gestão tecnológica do “Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais” (INPE),       há recursos já empenhados…para o pronto desenvolvimento da tecnologia necessária:

“A questão orçamentária para esses satélites é menos complicada… diz o coordenador. Segundo ele, há orçamento definido no governo. – Todos os pedaços desses satélites já estão contratados na indústria, pois a intenção é evitar, no futuro, que aconteça o que está ocorrendo agora: esse período sem nenhum satélite sob nosso controle no espaço”.

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O satélite de sensoriamento remoto equipado com o Imageador Radar (Mapsar) será feito em parceria com a Alemanha. [Imagem: INPE]

Continuidade incerta

O que virá após esses lançamentos, contudo, é mais incerto — porque a continuidade dos projetos é uma questão em aberto… – Esses projetos…e outros, já anunciados (inclusive, parcerias com EUA, e Alemanha) ficarão na dependência de orçamento…De acordo com o ‘Caderno de Altos Estudos’ elaborado pela Comissão de Ciência e Tecnologia (“Câmara dos Deputados”)… – o gasto orçamentário é insuficiente e irregular. – O gasto brasileiro com satélites artificiais…que fica abaixo dos US$ 150 milhões… é cerca de 10% da China, Rússia e Índia, os outros países emergentes do Brics’…que inclui agora a África do Sul.

Contudo, apesar do futuro incerto, e do atual “apagão” de satélites próprios…o país            continua contando com imagens de satélite para observação da terra como ocorre              com o monitoramento do desmatamento. George Ferreira, responsável pela área no Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), assegura que a situação do monitoramento é tranquila… – sem temor de que faltem imagens para a defesa do meio ambiente. — O instituto utiliza imagens obtidas pelo            INPE, que mantém cooperação com os EUA, a Europa…e Índia, no monitoramento              em tempo real do… desmatamento… — com avaliações periódicas. (texto base) ******************************************************************************

Brasil terá nova… ‘política espacial‘… com participação privada(dez/2011)      O Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), e a Agência Espacial Brasileira (AEB) elaboraram o modelo da nova política espacial brasileira. O objetivo é estimular      a indústria aeroespacial, e o domínio de tecnologias consideradas críticas pelo governo,    no desenvolvimento de satélites de comunicação…observação espacial e meteorológica.

A nova política fará parte de uma “Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação”, que o governo planeja lançar, ainda em 2011. A proposta também inclui – a criação de um Conselho Nacional de Política Espacial, com vínculo à Presidência da República; além de um novo planejamento para satélites…onde se inclui a participação da iniciativa privada agilizando a…”indústria nacional”…do setor. Conforme Marco Antonio Raupp…(“AEB“):

“É um nosso corolário incrementar o número de projetos ao                                        repassá-los às empresas… não dependendo, exclusivamente,                                                    dos institutos de governo, porque estes estão sob um regime                                                legal – que atrapalha a condução de um projeto industrial”.

A preocupação do presidente da agência agora, é criar carga para a indústria, para          que ela possa investir em capacitação. A falta de continuidade das encomendas do ‘programa espacial brasileiro’ é apontada por especialistas, como um dos entraves            para o estabelecimento – no Brasil…de uma sólida indústria no setor. (texto base)    ***************************(texto complementar)****************************

Qual a situação atual do Programa Espacial Brasileiro?  maio/2018                  “Picuinha com os EUA… — explosões… — sabotagem… — e alguns sucessos”. 

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Talvez você não saibamas assim como os EUA tem a NASA, o Brasil tem seu próprio programa espacial, e embora nosso fato mais notável tenha sido enviar Marcos Pontes      ao espaço, temos outros feitose desastres no currículo. – Confira agora as principais conquistas da nossa missão espacial, como chegamos até aqui, e ainda uma análise do porquê ainda não termos… decolado… e os problemas vão além da falta de dinheiro.

O início militar

Embora possa surpreender a ideia de existir um “programe espacial nacional” … ele não é novo. As 1ªs tentativas de construção de um foguete remontam aos anos 40, quando após o final da – 2ª Guerra Mundial – o país viu que necessitava modernizar sua aeronáutica e exército. – Com a fundação do “Centro Técnico de Aeronáutica” em São José dos Campos em 1947reacendeu-se um debate sobre os modos de voo que estávamos empregando. A discussão rebateu no “Instituto Militar de Engenharia”…e, como projeto final do curso de autopropulsão, os alunos resolveram construir um foguete em 1949. Não foi fácil mas ele decolou. E depois vieram outros. Ao todo entre 1949 e 1972 foram concluídos 36 projetos de foguetes movidos à combustível sólido. – Alguns, inclusive, criados pela marinha, que precisava de uma maior precisão nas informações sobre ventos…e “condições climáticas”.

O programa espacial

Pode-se dizer que o nosso “programa espacial” começou em 1956 quando técnicos brasileiros começaram a montar uma ‘estação de rastreio’ em…Fernando de Noronha… – A iniciativa foi  resultado da parceria Brasil/EUA como um efeito direta da “Guerra Fria”onde os países se aliavam aos EUA – ou à URSS. Sua missão, rastrear transmissões de cargas, lançadas por foguetes. O projeto foi útil até 1958 – quando a criação da NASA tornou o ‘centro brasileiro’ ultrapassadosendo descontinuado em 1960.

No início dos anos 60 as coisas andavam rápido na corrida espacial. Cada qual de seu lado, as potências não economizavam recursos, para se saber qual seria a 1ª nação a mandar um homem ao espaço. O feito foi conseguido em 1961 quando o soviético Yuri Gagarin orbitou o planeta. O fato talvez não tivesse tanta importância para nós se não fosse um detalhe: no mesmo ano o astronauta iniciou uma excursão mundial; que passou pelo Brasil. A ocasião fez o então presidente Jânio Quadros assinar um decreto “pondo o Brasil rumo ao espaço”.

O canetaço foi o suficiente para que o Ministério da Aeronáutica, Instituto Tecnológico de Aeronáutica, Centro Técnico da Aeronáutica e o Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento, juntassem forças para criar – entre outros…o “Grupo Executivo de Trabalho e Estudos de Projetos Espaciais” (GETEPE)… o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)… o Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) e o Centro de Lançamento “Barreira do inferno” (CLBI), a primeira base aérea de foguetes da América do Sul, localizada em Natal, e com capacidade para foguetes de pequeno e médio porte. – E assim…com capacidades físicas, faltava capacidade técnica. Então o próximo passo foi enviar brasileiros para a NASA em treinamento. Pronto…já estávamos com tudo ok para começar nossos projetos espaciais.

Os primeiros resultados

sonda IV

Sonda IV

O primeiro protótipo dessa nova fase da ‘pesquisa brasileira’ foi o Sonda I…foguete lançado em 1967. Ao todo mais de 200 unidades seriam disparadas. O sucesso e empenho na pesquisa … garantiu aos brasileiros participação no projeto South Atlantic Anomaly Probeparceria que dava aos membros acesso a informações avançadas… sobre foguetes de última geração… Com isso, em 1969, teríamos    o Sonda II… – Os anos 70 foram ainda melhores, pois com ele vieram mais parcerias…como China, países africanos, França e Alemanha…Entre idas    e vindas de ideias e treinamentos em 1976 já tínhamos o Sonda III, e em 1979era formada a Comissão Brasileira de Atividades Espaciais“… já preparando uma ‘missão completa’: ‘satélites’, veículos lançadores‘, e “centros de lançamento”.

Nos anos 80 aconteceria a mudança do nosso ‘local de lançamentos’…A base de                Natal passou a ser pequena demais, e então os lançamentos passaram a ocorrer                  em Alcântara, no Maranhão… – Foi de lá que decolou a…Sonda IV… – em 1984. Interessante é que esse modelo já continha os sistemas de guiagem, que seriam incorporados nos veículos lançadores que o país já estava planejando construir.

O Brasil entra na era espacial                                                                                                  O lançamento a partir de Alcântara tinha como ideia aproveitar-se do posicionamento geográfico que coloca o Brasil em vantagem…Lançando a partir de uma base próxima da Linha do Equador… – como é o caso… os gastos com combustível caem em até 30%,    utilizando para isso… – como auxílio no lançamento … o próprio movimento da Terra.

Não demoraria muito para que o Brasil entrasse, de fato, na era espacial…Isso ocorreria      em janeiro de 1990, quando o primeiro satélite totalmente brasileiro, o Dove-OSCAR 17 decolou da base Kourou, na Guiana Francesa…O mais interessante do modelo é que ele      foi feito pelo radioamador Junior Torres de Castro utilizando apenas recursos próprios,      e até onde se sabe…tornou-se a única pessoa do mundo a ter um satélite particular. Sua intenção era promover a paz e o conhecimento. Reza a lenda que por conta disso ele foi indicado ao Nobel da Paz. Alguns anos depois…em 1994, foi criada a “Agência Espacial Brasileira” (AEB) para fomentar ainda mais as pesquisas no paísO resultado é nossa inserção no Programa da “Estação Espacial Internacional” (ISS) 3 anos depois. – Com isso, estávamos então com tudo preparado para enviar o primeiro brasileiro ao espaço.

Desconsiderando…a lentidão que as coisas avançavam – tudo ia muito bem para o nosso programa espacial. Tínhamos satélites próprios em órbita (em 2003 o SCD-1 completara 10 anos em órbita) – e nosso 1º astronauta Marcos Pontes já estava em treinamento (em 2006 seria o primeiro sul-americano a ir ao espaço) – quando, em 22 de agosto de 2003 uma tragédia ocorreu em Alcântara. O protótipo VLS-1 (‘Veículo Lançador de Satélites’) explodiu 3 dias antes do lançamento, durante preparativos finais … matando 21 pessoas.

Com isso o ‘projeto espacial brasileiro‘ precisou passar por readequações,                      e um novo lançamento só ocorreria em 2010…num voo fretado até lá em cima.            Enquanto isso o aperfeiçoamento em nosso lançador continua, e a previsão de                  voo está marcada para 2019…quando seria colocado o ‘Amazônia-1‘ em órbita.

Os maiores desafios                                                                                                                    As causas atestadas foram parcos investimentos no ‘programa espacial’                          (cerca de 30 milhões de reais naquele ano) que fazia com que projetos e                                protótipos operassem no esforço limite, para não dizer na superação.

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Ok, tivemos percalços no caminho, mas já vimos que o nosso ‘programa espacial’ não é  tão ruim assim, afinal já colocamos nossos satélites 100% nacionais em órbita, e nosso veículo lançador está perto do sucesso, porém, nações como Índia e China, começando mais ou menos na mesma época estão disparadas em tecnologia à nossa frenteO que aconteceu?…Lógico que podemos apontar o problema de ‘recursos financeiros’ como o maior de todos, pois enquanto a NASA, ou o Programa Chinês tem orçamentos na casa  dos bilhões de dólares nossos cientistas tentam fazer milagre… com poucos milhões, para ser mais exato: pouco mais de 10 milhões em 2017. Para piorar, cerca de 30% são destinados a aposentadoriasdiáriasmaterial de consumo, etc. – Dos 39 milhões de reais disponíveis para 2017, cerca de 29 deles se destinam a investimentos e pesquisas.

Até mesmo os campos de lançamentos brasileiros estão com problemas, enfrentando de um lado a especulação imobiliária, e do outro demarcações de terras quilombolas… Mas esses até podem ser considerados problemas…”leves”, se compararmos ao próximo, que nada mais é do que a obstrução dos EUA...Documentos vazados pelo Wikileaks revelam que o governo dos EUA escreveu à embaixada da Ucrânia em Brasília informando que… “não apoiavam o programa nativo dos veículos de lançamento espacial do Brasil” dando mais força à teoria da explosão em Alcântara como fruto de sabotagem estado-unidense.

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Concepção artística do Cyclone IV, que nunca decolou

O medo deles é que nossos foguetes poderiam ser convertidos em mísseis, já que usamos combustível sólido na propulsão, e temos militares atrelados ao programa espacial. Por conta disso, os EUA são contra a transferência de tecnologia para o Brasil – gerando mais atrasos  ao nos “obrigar” a fazer as pesquisas do zero. – Nesse mesmo documento…eles afirmam que os EUA não se opõem a uma plataforma de lançamentos em Alcântara, contanto que uma tal atividade não resulte em transferência de tecnologia de foguetes ao Brasil O medo é com o Alcântara Cyclone Space, foguete então programado para colocar satélites em órbita, a partir da base maranhense. Após tantas polêmicas – o projeto foi encerrado pelo governo brasileiro em 2015alegando que falsas estimativas de lucro  não poderiam custear as pesquisas e lançamentos do ‘projeto’.

E para fechar a lista de empecilhos…podemos citar mais um ponto que acaba atrasando nossas pesquisas e avanços – deficiência da iniciativa privada. Sabe-se que nem sempre investimento governamental é a melhor opção…sobretudo no Brasil, onde interesses de 3ºs sempre acabam interferindo…de um modo ou de outro…  – Mas, para embasar este ponto vejamos o caso dos EUA Nas últimas décadas, apenas Rússia e Estados Unidos tinham condições de levar pessoas ao espaço. — Estado-unidenses o faziam através dos famosos…e caros ‘ônibus espaciais’, e os russos através da nave Soyuz. Com o passar do tempoe um novo alinhamento de prioridades…(missão tripulada a Marte), o governo estado-unidense precisou interromper o envio de astronautas através do seu método (o programa consumia quase todo dinheiro da NASA). – A saída encontrada foi pagar aos russos para que seus astronautas pegassem uma carona na Soyuz. Ou melhor…essa era      a saída. Desde a década de 2000 empresas privadas de exploração espacial começaram      a mostrar resultados positivos nos EUA, sendo os casos mais famosos a “Blue Origin”      (Jeff Bezos), a “Virgin Galactic” (Richard Branson) e a” SpaceX” (Elon Musk)…além de empresas como ‘Lockheed Martin’ e ‘Boeing’; contribuindo há décadas para tal cenário.

Nosso futuro

Enquanto isso, no Brasil, estamos presos à iniciativa governamental, de baixo orçamento, ao alinhamento militare interesses (às vezes, nem sempre tão nobres). – Até mesmo as universidades brasileiras ficam de fora da pesquisa espacial, por ser uma demanda muito custosa. – Hoje o Brasil trabalha no… “Programa Cruzeiro do Sul” – uma nova família de lançadores que atenderá tanto missões oficiais, como clientes internacionais. A iniciativa faz parte do “Programa Nacional de Atividades Espaciais” – lançado em 2005, com custo total de 700 milhões de dólares – e que até 2022 pretende deixar o país independente no transporte espacial de satélites, pequeno e grande porte. Maximiliano Meyer (texto base)

Sobre Cesar Pinheiro

Em 1968, estudando no colégio estadual Amaro Cavalcanti, RJ, participei de uma passeata "circular" no Largo do Machado - sendo por isso amigavelmente convidado a me retirar ao final do ano, reprovado em todas as matérias - a identificação não foi difícil, por ser o único manifestante com uma bota de gesso (pouco dias antes, havia quebrado o pé uma quadra de futebol do Aterro). Daí, concluí o ginásio e científico no colégio Zaccaria (Catete), época em que me interessei pelas coisas do céu, nas muitas viagens de férias ao interior de Friburgo/RJ (onde só se chegava de jeep). Muito influenciado por meu tio (astrônomo/filósofo amador) entrei em 1973 na Astronomia da UFRJ, onde fiquei até 1979, completando todo currículo, sem contudo obter sucesso no projeto de graduação. Com a corda no pescoço, sem emprego ou estágio, me vi pressionado a uma mudança radical, e o primeiro concurso que me apareceu (Receita Federal) é o caminho protocolar que venho seguindo desde então.
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