“E preciso uma certa dose de determinismo, para se chegar ao livre-arbítrio” (D. Hume)
Duzentos anos depois… À luz da “mecânica quântica”…das teorias da…“complexidade”, e…do “Caos”…constatamos que Laplace era por demais otimista. Nem uma inteligência superior poderia conhecer…’exatamente’…a posição e velocidade de todas partículas do universo – e mesmo conhecendo, não seria possível calcular o seu passado … ou futuro. Apesar disso… a ideia de definir o movimento da matéria…por seu passado e condições iniciais — ideia surgida muito antes de Laplace … parece chocar-se com outra, também a princípio, muito evidente… – de que…”somos capazes de decidir nossas ações“.
O “mundo determinista” Quem reflete sobre esses temas – se encontra logo numa encruzilhada de 3 vias – ou a livre escolha é mera ilusão, ou devemos reinterpretar profundamente seu significado…ou, ainda… – a matéria não é de fato determinista. – O pior é que, todas as opções são difíceis de se aceitar.
A grosso modo o ‘determinismo’ afirma que a maneira como as coisas estarão futuramente – é o resultado de como as coisas estão agora…e do funcionamento das leis da natureza a partir destas “condições iniciais”…Portanto, afirmar que o mundo é determinista, requer acreditar que o futuro é o resultado necessário de condições preexistentes…Ou ainda, pela “Stanford Encyclopedia of Philosophy“:
“Determinismo causal…é a ideia de que qualquer evento acontece – necessariamente, devido a causas anteriores, regidas por leis naturais… assim, dado um modo como, num certo instante, as coisas estão – a forma como estarão mais tarde … se torna previsível”.
Determinismo não é o mesmo que Fatalismo Para os fatalistas…o futuro é decidido (pelos deuses, por exemplo). Já aos deterministas, o que Édipo faz hoje…é determinado por seu passado…e determina seu futuro. – Para os fatalistas … não importa o que Édipo faz, ou deixou de fazer… “ele está destinado a cumprir sua tragédia”… Já o determinista…ao invés do ‘fatalista‘…parece de acordo com inúmeros fatos empíricos…regidos por regularidades internas bem perceptíveis. – Mesmo assim, para o filósofo Elliott Sober… quando pensamos em…”seres humanos”, o “determinismo pode parecer absurdo”; pois:
“Se as partículas elementares são deterministas, então também o será, tudo que for feito destas partículas…Se a mente de uma pessoa for algo material, então – seus desejos e comportamento são regidos por… leis deterministas”.
Eis a “encruzilhada”… – É possível decidir por levantar ou não um braço?… – Se sim, os átomos de nosso braço podem fazer uma coisa ou outra, em função de uma livre escolha de nossa vontade… Então, ou nossa “livre escolha” está determinada, ou os átomos de nosso cérebro e corpo podem fazer algo não determinado pelo passado…ou leis da física. A primeira possibilidade parece chocar-se com a forte sensação de que…a cada instante, podemos tomar decisões. Mas a segunda possibilidade parece comprometer as ‘ciências naturais’. Se nosso pensamento pode causar mudanças no ‘mundo material’ – as leis da física, a cada instante, seriam violadas bilhões de vezes. O que seria um milagre…muito estranho… — que todos os instrumentos baseados em leis físicas — funcionem tão bem:
Se átomos podem fazer coisas não inclusas nas equações da física… — por que satélites, computadores…e telefones funcionam com enorme precisão, independentemente de nossos pensamentos?…Eis a grande…”enxaqueca”.
Alguns dizem que a ‘física quântica‘ atenua o problema, mostrando que o comportamento dos átomos só pode ser descrito em termos de probabilidade. Mas segundo o filósofo John Searle, nem a mecânica quântica nos liberta…como escreveu em seu livro “Mente, Cérebro e Ciência”… – “Mesmo se no comportamento das partículas físicas existir um elemento de ‘indeterminação‘, isso não dá…por si próprio, livre curso à liberdade humana da ‘vontade’; porque o ‘indeterminismo’ não constitui evidência de qualquer tipo de ‘energia mental’ da ‘liberdade humana’, que deslocasse moléculas para direções as quais, de outro modo, não se moveriam. Portanto é como se tudo o que sabemos sobre a física nos forçasse de algum modo à negação da liberdade humana”. – Assim… estamos perante um ‘enigma filosófico’ característico. Por um lado, um conjunto de argumentos poderosos nos força à conclusão de que não há ‘livre vontade’ no Universo. Por outro, uma série de argumentos poderosos nos indica a existência de alguma ‘liberdade de vontade‘, pois todos a experimentamos, a todo momento…E, sobre isso, por outras palavras, Elliot Sober chega à mesma conclusão:
“Se nossas ações são determinadas não apenas por desejos e crenças…mas por desejos, crenças e a roda de uma roleta, isso não nos torna mais livres”.
Deterministas e Libertários “O que cabe hoje ao Homem em sua relação com a verdade, como nunca antes em sua história, é uma extraordinária medida de liberdade e responsabilidade.” (F. Nietzsche)
Filósofos e cientistas se dividem … sobre o problema da relação entre ‘livre arbítrio’ e ‘determinismo’… Para os deterministas, devemos admitir… que a livre escolha é só uma ilusão. — O filósofo Baruch Spinoza, por exemplo… – já escrevia em sua ‘Ética‘: “Não há na mente… – ‘vontade livre‘… ou ‘absoluta’ – pois a mente é determinada a querer isto ou aquilo por uma causa…que por sua vez é determinada por uma outra, e essa outra…por mais outra, e assim…ad infinitum”… “Os homens se consideram livres porque estão cônscios das suas volições e desejos — mas são ignorantes das causas pelas quais são conduzidos a querer e desejar”.
Por que os leitores estão lendo este texto?… Porque querem… é a reposta fácil. Mas, querer alguma coisa, perguntaria Spinoza, é uma escolha livre?… Sendo nossas decisões definidas por nosso querer…ou não querer – ou seja – por nossas crenças e desejos… que dependem do ambiente…de nossa história…da biologia, etc. — podemos não querer o que queremos?
No lado oposto do front há os filósofos chamados “libertários”, que creem na existência do livre arbítrio, e que o mundo…de fato, não é determinista. – Alguns estudiosos… inclusive, consideram liberais as ideias de Kant (1724-1804), e Fichte (1762-1814). – Contudo, há ainda outra curiosa vertente… – É possível sustentar que… ‘determinismo’, e ‘liberdade de escolha’ possam existir juntos… tal ideia se chama ‘compatibilismo‘, e foi historicamente a posição de muitos filósofos… – Os ingleses David Hume (1711-1776), e John Stuart Mill (1806-1873) por exemplo, foram considerados defensores do “compatibilismo“, com base em que, mesmo tendo “causas determinadas”…nossas escolhas não seriam “obrigatórias“.
Até em áreas bem deterministas da ciência…como a física clássica, são estudados diversos exemplos em que o determinismo parece ter falhas. E, mesmo no contexto da relatividade geral… mecânica quântica… ou teoria da evolução, filósofos e cientistas… depois de gastar muito tempo pensando nas implicações da relação entre “determinismo” e “livre arbítrio”; muitas vezes chegaram a uma conveniente acomodação, entre ambos os “pontos de vista”.
Determinismo & Livre Arbítrio
Hoje em dia… é de lei denegrir determinismos. Sabe-se que é simplório, ingênuo… tendencioso atribuir as causas do “comportamento humano” … às condições econômicas, genéticas, ao ambiente em que vivemos, ao clima, etc. Nenhum desses fatores, por si só, pode definir o procedimento cultural de ‘grupos humanos’ e…talvez, nem todos juntos… – Entretanto… mesmo considerando o “determinismo causal”… como um modo, às vezes grosseiro, de formular hipóteses… — é difícil imaginar um… “saber acumulativo”… — sem algum tipo de bisturi.
O ‘determinismo causal‘ tornou-se associado com ideias profundamente impopulares, tais como o determinismo racial ou biológico. Contudo, sua premissa básica, qual seja…’o que acontece no futuro é determinado…de certa forma, pelo que se passou antes’, é quase essencial para que a vida e o mundo a nosso redor façam algum sentido. — Muito embora queiramos acreditar que algum tipo de ‘livre arbítrio‘ existe – ou agir como se existisse (especialmente ao atribuirmos culpas) – é difícil imaginar como poderíamos agir… senão, assumindo que existe algum tipo de…”determinismo” oculto por trás dos acontecimentos.
Há Determinismo quando ‘escolha’ e ação humanas…não são fruto do ‘livre-arbítrio’, o que todavia não significa uma ‘incompatibilidade’…à noção de liberdade – mas sim, à sua espontânea concepção, cujo conceito abarca “ato voluntário”. – Indeterminismo…uma condição considerada necessária para o livre-arbítrio, mas não suficiente…é a tese de que escolha e ação humanas não são efeitos de ‘eventos cósmicos‘. Já o Livre-arbítrio é um tipo de liberdade, que pode ser visto como um “ato voluntário”… independente de causas cósmicas anteriores… – Liberdade, por sua vez, muitas vezes é confundida com…”livre-arbítrio”, e por isso se diz que a liberdade individual é incompatível com o determinismo.
Compatibilismo é a posição, segundo a qual o “determinismo cósmico” é logicamente compatível com uma concepção de liberdade que dá conta satisfatoriamente do conceito de responsabilidade moral. O ‘compatibilismo estrito’ não afirma o ‘determinismo’, mas defende a compatibilidade do mesmo – com a “liberdade”, e a “responsabilidade moral”. Incompatibilismo é a posição segundo a qual o determinismo cósmico é logicamente incompatível com uma concepção de liberdade…que incorpora ‘responsabilidade moral’.
O problema da relação entre…liberdade, determinismo e responsabilidade moral é conhecido como o…’problema do livre arbítrio’ … e consiste no conflito entre 2 teses fundamentais… o “determinismo”, e a “liberdade”. A primeira sustenta que tudo o que há no universo…todo evento, incluindo-se as “ações humanas” – está determinado por ‘leis causais’. Uma vez que toda ocorrência de um evento…é precedida por causas necessárias e suficientes a ele, a ocorrência de qualquer evento…obrigatoriamente, será resultado de sua causa anterior.
Para o determinismo, uma vez que tudo, inclusive a ação humana, é resultado de leis causais, o sentimento que temos de que somos livres, de que poderíamos ter agido de outra forma…é ilusório, e advém da incapacidade em conhecermos causas anteriores, que determinem nossas ações…Uma das dificuldades na defesa dessa tese, é mostrar, diante disso, como podemos ser moralmente responsáveis. Ora… se não somos livres em nossas decisões … então também não podemos ser ‘responsáveis morais’ por elas. *******************************************************************************
Ética, moral, liberdade e determinismo Nas conversas diárias, muitas vezes falamos de “ética” e “moral” como se fossem palavras sinônimas. Embora originalmente tenham um sentido parecido…é possível diferenciá-las. Nós vivemos numa sociedade com normas estabelecidas do que é certo, e do que é errado. Percebemos assim, que a moral é um conjunto de normas ou valores, por meio do qual as pessoas guiam seu comportamento. De acordo com esses valores, suas ações são julgadas.
A ética pode ser entendida como uma reflexão sobre o comportamento moral que analisa os fatos a partir de noções do bem e do mal…do justo e injusto; ela não diz a forma como as pessoas devem comportar-se, mas sim, pretende elaborar princípios de vida para orientar, com responsabilidade, as ‘ações humanas’. – Quando falamos que alguém é responsável…ou, tem responsabilidade sobre alguma coisa – significa que essa pessoa tem condições de pensar (do latim … “respondere“) sobre seus atos, tanto no passado quanto no presente, tendo assim liberdade para escolher a melhor forma de agir no futuro. Dentro da discussão filosófica…há pensadores discutindo a liberdade humana acima das determinações, como Sartre; e aqueles que analisam a ‘relação’, a partir do Ser humano livre e determinado…assim como Marx e Espinoza.
Liberdade x Determinismo
a) O ser humano é sempre livre
Os pensadores que defendem essa ideia sabem que há determinações externas e internas; fatores sociais e subjetivos, mas a liberdade de decidir sobre suas escolhas, é superior à qualquer dessas forças. Segundo Jean-Paul Sartre…“O homem está condenado a ser livre; condenado por não criar a si mesmo; e livre, pois uma vez no mundo, irremediavelmente, se faz responsável por seus próprios atos”. Sem determinismo, o homem é pura liberdade.
b) O ser humano é livre e determinado ao mesmo tempo
Entre os pensadores que defendem uma relação entre liberdade e determinismo, estão Espinoza e Marx…Segundo eles, as ideias de liberdade e determinismo não se excluem. Se há fatores objetivos que limitam a liberdade humana… como leis, normas…situação social, é possível uma ação para expandir esses limites. Para isso, precisamos conhecer os “determinismos”…e, quanto maior for nosso conhecimento a respeito deles – maior será nosso poder de ação. Para Karl Marx: “Os homens fazem sua própria história mas não a fazem como querem – como circunstâncias de sua escolha – e sim… sob aquelas condições…legadas e transmitidas pelo passado – com que se defrontam diretamente.”
(texto base) Yurij Castelfranchi, 2007 outras fontes… “Determinismo & Livre Arbítrio” ‘Determinismo & Liberdade’ ‘Idealização e Abstração’ ‘Ética, Liberdade e Determinismo’ ***********************************************************************************
O que é Determinismo? A origem do termo “determinismo” vem do verbo… “determinar” — do latim “determinare”…que significa: “não-terminar”…ou…“não-limitar”.
De modo geral, é a corrente de pensamento baseada na ideia de que ‘decisões humanas‘ não decorrem do livre-arbítrio…nesse caso, todas as nossas escolhas estão relacionadas a casualidades maiores do que percebemos. Sendo assim, tudo o que existe no Universo está limitado a leis imutáveis…e todos fatos e ações humanas são atributos da ‘natureza’.
O determinismo é um princípio filosófico, onde tudo no universo é determinado pelas leis da natureza e acontecimentos prévios…onde até a vontade e comportamento humano são predeterminados por esses acontecimentos – o que torna a liberdade…apenas uma ilusão subjetiva. – Contudo, para entender isso melhor … precisamos esclarecer o significado de “acontecimento”…que – nesse contexto – deve ser entendido de uma forma totalmente abrangente; podendo ser, tanto uma ação da natureza, quanto humana…como um desejo. Todos acontecimentos se determinam por causas anteriores; então…é o mesmo que dizer que não poderiam ter sido diferentes, devido às leis naturais, e causas que os precederam.
Classicamente…esse pensamento foi usado como conceito para explicar o universo, especialmente para tentar explicar os fenômenos naturais. Pela teoria determinista, seria possível “prever” acontecimentos futuros baseados em fatos atuais…pois toda realidade estaria… “interligada”… por propósitos em comum. – Assim…a realidade seria… “imutável” – pois tudo o que estava previsto para acontecer… – aconteceria.
Tipos de Determinismo Existem vários conceitos para definir o ‘determinismo’ – de acordo como a casualidade e a determinação são entendidas. Assim temos:
a) Pré-determinismo
É visto como um ‘determinismo mecanicista’…a determinação das ‘causas’, encontra-se no passado. Acontecimentos presentes e futuros são causados por ‘fenômenos’ explicados em suas ‘condições iniciais‘. Elementos do pré- determinismo existem na ‘psicologia behaviorista‘…onde a mente humana é um…’sistema mecânico’ — cujos estímulos resultam em precisas reações.
b) Pós-determinismo
O ‘pós-determinismo’ é baseado na “teleologia” (doutrina baseada em metas) dos propósitos e finalidades. Esse conceito se funda na alegação de que a determinação dos fatos está no futuro. Noutras palavras, tudo acontece por um motivo, propósito ou razão de alguma entidade metafísica. Como “a vontade de deuses”, por exemplo.
c) Co-determinismo
O ‘co-determinismo’ defende a ideia de uma ‘relação ocasional de causas’ como geradora de novas realidades. Assim, os efeitos de uma causa podem se transformar nas causas de outros efeitos, de uma realidade diferente das causas anteriores, e assim sucessivamente.
Nessa concepção, o determinismo não é posto nem no futuro, nem no passado, mas sim no presente…ou na “simultaneidade” dos processos e acontecimentos. Dessa maneira, tal ideia também se encontra dentro da…“teoria do caos“…que prevê que a aplicação de erros resultam em múltiplos resultados imprevisíveis.
d) Determinismo Genético
Essa vertente se baseia na afirmação genérica, de que os genes, e as condições genéticas de uma pessoa determinam a sua vida.
e) Determinismo Geográfico
No determinismo geográfico, é o “meio ambiente” – quem determina o comportamento dos indivíduos que nele vivem. O geógrafo e antropólogo Friedrich Ratzel, no entanto, pontua que através da utilização de recursos naturais e da cultura é possível transpor efeitos deterministas desse meio.
f) Determinismo Social
Uma aplicação do “determinismo geográfico” – porém, nos meios sociais capitalistas das sociedades urbanizadas industriais. Ao acredita que o meio social onde o indivíduo nasce determina sua vida e suas ações…para essa concepção, portanto, pessoas que nascem em meio a lugares violentos, por exemplo, tendem a ser violentos. – O “determinismo social”, hoje em dia — é ainda usado como forma de explicar a classificação social dos indivíduos, fomentando, dessa maneira…o “preconceito“ e exclusão de determinados grupos sociais.
Determinismo e Liberdade
O conceito de “determinismo” é bastante criticado entre pesquisadores e filósofos que defendem a ‘livre escolha’, livre-arbítrio — ou uma “não-casualidade”. Tais críticos baseiam seu ponto de vista na ideia de que o espírito…a alma, o desejo, a escolha e vontade humana não podem coexistir no mesmo “universo casual”…e assim, não são regidos pelas mesmas ‘leis imutáveis’ da natureza. – Os deterministas, por sua vez, rebatem essas alegações com o argumento de que, desta forma, eles ignoram o “co-determinismo”… Ou seja, a ideia fundamental de que existem diversas relações entre várias realidades diferentes, seja molecular, social, planetária, psíquica…etc.
Apesar disso, existem vários estudiosos, como Nietzsche e Deleuze, que não enxergam o determinismo e a liberdade como ideias contraditórias. Isso porque, a liberdade não seria “livre-arbítrio”, mas sim uma capacidade de “criação”. Portanto, o ‘livre-arbítrio’ seria apenas uma escolha – entre opções – que já foram anteriormente determinadas.
Alguns (principais) Autores Deterministas
Friedrich Nietzsche: filósofo e filólogo alemão, que acreditava numa força criativa natural que geraria todo o movimento da vida. – Ele chamou essa força de “vontade de poder“…e ela seria a força motriz – causa de tudo.
Charles Darwin: biólogo, criador da teoria da evolução das espécies, não mencionou diretamente ‘determinismo‘, nem se preocupou em defender o ‘determinismo’. Todavia, sua teoria denota um princípio determinista, qual seja: a sobrevivência de uma espécie depende de seu poder de adaptação ao meio (se há adaptação há sobrevivência).
Baruch de Espinosa: para o filósofo holandês… — qualquer ação de um ser humano não é uma ação isolada, mas resultado de ações anteriores que ele mesmo tomou – sendo estas ações – resultados de mais outras. Assim, o ser humano se vê numa…espiral sem fim… – até a sua morte.
Gilles Deleuze: inspirado por Nietzsche e Espinosa, Deleuze afirma que a liberdade é a capacidade de criar – e o pensamento que distingue o…”ser humano” dos demais animais, é também fruto desse ‘poder de criar‘. Tal capacidade, contudo, não exime o ser humano de medidas de força…nas suas ações, e de outros, o que lhe dá infinitas possibilidades. (texto base) ******************************************************************
“Causalidade” (origens históricas) A primeira sistematização do conceito de ‘causa‘ se encontra na filosofia de Aristóteles, sistema predominante por toda Idade Média, distinguindo 4 tipos: A “causa material” e a “causa formal” se entendem – respectivamente… como a matéria e a forma que se combinam para dar existência às coisas e aos seres. – A “causa eficiente” equivale ao agente que determina diretamente o fenômeno considerado. Já a “causa final“, ligada ao “objetivo” da consequência… – é o…”propósito“…para que um ato possa então se realizar… – “finalidade“ de algo…ou razão por que este algo exista… ou passe a existir.
‘Causalidade prática’
Desse modo, pode-se explicar, por exemplo, uma ‘casa‘… Sua “causa material“ são os tijolos… e demais materiais, sua “causa formal“…é o projeto; sua “causa eficiente“…é o trabalho do pedreiro, e sua “causa final“…é a finalidade da casa…sua função, a de prover abrigo. Sendo que causas ainda se dividem em:
‘Causalidade acidental‘…é uma causa que pode ou não ocasionar um efeito, do qual a causa não depende (acaso). Exemplo: uma cadeira pode ser de madeira, ferro ou plástico; mas para ser cadeira não depende de qual desses materiais foi escolhido para construí-la.
‘Causalidade essencial‘…é uma causa cujo efeito é necessário e de cujo efeito a própria causa depende… – Exemplo: ser um “ser humano”… – acarreta…necessariamente, o efeito de ser um “bípede”; ou ainda – uma cadeira, para tal, deve ser algo em que se possa sentar.
A partir do Renascimento, principalmente com o desenvolvimento da ‘ciência moderna’ (sobretudo astronomia e física…da época de Copérnico, Galileu e Newton), a relação de causa e efeito passa a responder uma indagação científica – como se dão os fenômenos de mudança? A procura da causa eficiente cedeu lugar à busca de leis gerais, ou seja…a ideia de relação de causalidade entre fenômenos foi substituída por “sistemas teóricos”. Como consequência podem-se distinguir na tentativa de conceituar a causalidade duas perspectivas gerais e opostas: a ‘racionalista‘ de Descartes, Spinoza e Leibniz tende a relacionar causa e razão…Causalidade é uma relação real e necessária, apreensível pela faculdade racional humana. Já a visão ‘empirista‘, com Hobbes e Hume, ao contrário, identifica causalidade com uma sucessão de fatos no tempo…onde a relação de causa e efeito entre fenômenos – não pode ser comprovada, apenas consagrada pelo “costume”.
Kant então, assimilou as ideias de Hume, dando ao problema uma solução original, preservando a importância da explicação causal… – a causalidade é uma categoria fundamental do entendimento humano, portanto, não caberia demonstrá-la… mas, simplesmente aplicá-la à observação dos “fenômenos transcendentais”. (texto base)
Causalidade & Determinismo As investigações sobre causalidade, de Aristóteles até o ‘Renascimento’, irão impor uma hierarquia favorita para as 4 causas. Exemplo: final > eficiente > material…> formal (São Tomás de Aquino)…ou ainda, restringindo toda causalidade… às causas material e eficiente (Bacon) ou…só considerando ‘causalidade‘, causas eficientes (“determinismo”).
Desde o ‘Renascimento’, esta última concepção de causalidade foi retomada, em oposição ao aristotelismo. Hobbes…em sua “doutrina da causalidade“, por exemplo, reformula conceitos provenientes da tradição ‘aristotélico-escolástica’ objetivando a substituição de uma concepção da “natureza qualitativa”… – por uma física estritamente “mecanicista“. A causalidade não mais é entendida como um processo linear (causa anterior explicando um efeito presente, ou finalidade “divina” explicando presente e passado), mas como um “processo complexo“ (causas simultâneas interagem, e tem como efeito outro nível de existência; p. exemplo: a interação no nível molecular formando outro nível de realidade: a vida – ou a interação entre indivíduos formando outro nível de realidade…a sociedade).
A relação entre causalidade (ou determinação), e liberdade é um dos assuntos mais debatidos em filosofia. Muitos veem a causalidade como sinônimo de mecanicismo (tal como no modelo de causalidade linear) e acreditam que nenhuma determinação (como relação de causalidade) pode explicar a “liberdade humana”…ou o “livre-arbítrio“. Esta posição fundamenta o “dualismo“, onde causalidade e liberdade são inconciliáveis…tal como 2 substâncias bastante diferentes… ou 2 universos irremediavelmente separados. Os deterministas argumentam que, se a “inteligibilidade“ de qualquer fenômeno supõe sempre apreender suas ‘características‘ (modo específico onde os eventos surgem, e se relacionam), então, afirmar que a liberdade se opõe à determinação, é também afirmar que esta não é inteligível, o que seria um absurdo. Para eles, o “acaso“ (falta de causa) de um fenômeno é apenas uma aparência que se origina, quando ignoramos a maneira como eventos surgem, e se relacionam. ‘Liberdade‘ não seria sinônimo de acaso, mas um modo de ‘determinação‘, fundamentado noutros modos de determinação (os quais não podem ser explicados pela…”pré-determinação“…como fazia o “mecanicismo”).
O entendimento aristotélico da ‘causalidade‘ foi predominante no pensamento ocidental por quase 2 mil anos até a época do “renascimento” e “iluminismo“. A “explicação causal” de então era toda baseada numa ideia “mecanicista“ de ‘causalidade linear‘, que entende todo efeito como já sendo totalmente presente na causa precedente – que por sua vez…é resultado de uma outra anterior… – e assim por diante…“sucessivamente”. Dessa forma, ‘cosmologicamente‘…a “determinação” é colocada no passado, em uma única linha ou cadeia causal, inteiramente explicada pelas condições iniciais do universo, que teria sido posto em movimento por um 1º motor imóvel; uma…“causa sem causa“… – Esse motor imóvel também era considerado o responsável pela existência de ordem no universo…ao colocar “causas finais“ (teleológicas) em cada evento que surgisse … na “cadeia causal”.
Contudo… desde o fim do “iluminismo”… – a ideia de… “causalidade linear” tende a ser considerada insuficiente para explicar a maioria dos fenômenos (naturais… sociais… biológicos… existenciais… psicológicos…etc.) — que se provaram melhor explicáveis… – por vários outros modelos de causalidade.
A ideia de causalidade ou determinação…que predomina desde o fim do iluminismo – é a de ‘causalidade complexa‘…segundo a qual nem todo efeito está totalmente contido na causa anterior…isto é, que o próprio efeito pode simultaneamente interagir (causalmente) com outros efeitos – podendo inclusive, acarretar um nível de realidade diferente do nível das causas anteriores (por exemplo…a interação no nível molecular, formando outro nível de realidade: a vida; ou entre indivíduos formando outro nível de realidade…a sociedade). A ‘teoria do caos‘ e a ‘teoria da emergência‘…por exemplo…apresentam a ideia de redes de determinações simultâneas … que engendram diversos níveis de realidade. Esses diversos níveis (molecular, biológico, psíquico, social, planetário…etc.), exibem variados modos de causalidade, possuindo, cada um, uma consistência que lhe dá autonomia … sem contudo, jamais deixar de interagir com outros níveis…ou mesmo…de desaparecer…ou surgir neles.
Essa “causalidade complexa”… vê a determinação ocorrendo, não só no passado…mas também no presente, numa simultaneidade de processos, ou eventos. Um bom exemplo pode ser visto na “teoria da evolução das espécies“. Nela…a determinação de uma espécie não é explicada, como um efeito “totalmente contido” em uma causa anterior. Pelo contrário, cada espécie se diferencia… evolui, ou se extingue através da interação entre diversos organismos (e climas) que existem…simultaneamente. Há uma constante “deriva genética” (mutação genética aleatória), mas apenas são preservadas as mutações que melhor adaptam o organismo…na interação com outros…em um ‘ecossistema‘…que, por sua vez… também se modifica… – pelas novas “interações” desse “novo organismo“.
A causalidade complexa também se faz presente no âmbito da mecânica quântica; onde as reduções das ‘funções de onda‘ ao ocorrerem, determinam a realidade do passado, e essas, para serem possíveis, não só dependem do contexto histórico do sistema – de um passado já configurado…determinando as existências dos próprios sistemas hoje “emaranhados”… – como também… das “interações instantâneas” dos sistemas – em escala universal (“não localidade”), reduzindo as “funções de onda”… que tomam lugar no presente. (Wikipédia) **********************************************************************************
Behaviorismo (a matriz comportamental) A doutrina da “finalidade” – sob sua forma extrema – tal como a encontramos em Leibniz, por exemplo – implica que as coisas e seres não façam mais – que realizar um programa já previamente traçado” (Bergson, A Evolução Criadora)
F. Skinner considerava o “livre arbítrio” uma ilusão, e a ação humana, dependente das consequências de ações anteriores. Se estas fossem ruins, havia uma grande chance da ação não ser repetida — se as consequências fossem boas…a probabilidade da ação ser repetida se torna mais forte. Skinner chamou isso de “princípio do reforço”… E, como consequência desse tipo de comportamento, criou o termo condicionamento operante. Consequências que têm valor de sobrevivência ao organismo…têm as respostas que as geraram reforçadas…aumentando a probabilidade de que a mesma volte a ocorrer em contexto semelhante; ao passo que consequências que trazem prejuízos têm respostas punidas, reduzindo assim, a probabilidade de sua reincidência…num contexto similar. Desse modo o behaviorismo radical deduz o comportamento do organismo humano e demais seres como uma interação entre estímulos do ambiente…e respostas do corpo. ********************************************************************************
“Teleologia” Teleología é a resposta de um sistema, que não está ‘determinado’ por causas anteriores – mas… causas posteriores, que podem ser atribuídas a um futuro não imediato…no tempo…e no espaço.
A ideia de teleologia aponta para uma finalidade. Ao constituir-se como uma teoria do sentido nas Ciências Sociais, concede ‘finalidade‘ à “ação humana”, atribuindo-lhe assim um fundamento.
A finalidade da semente é converter-se em árvore… – um destino que está determinado por sua forma, ou essência… a qual aspira, e se encontra… em potência… fatalmente atribuído ao seu futuro.
Este entendimento do sentido da “ação histórica”, prolonga a tradição filosófica ocidental, que se organiza em torno da procura da verdade. Neste paradigma, razão e verdade fazem um caminho comum. A razão…”instância soberana de decisão”…é una; a verdade, por sua vez…é única e eterna… – Em larga medida… a retórica da vida intelectual contemporânea, mantém como evidente que a “finalidade” da pesquisa científica…cujo objeto é o Homem, consiste em compreender…”estruturas subjacentes”, “invariantes culturais”, ou “modelos biologicamente determinados”. De algum modo as ciências sociais e humanas confirmam a determinação do ser como ‘presença’, e a ideia de ‘objetividade científica’ é apenas mais um daqueles nomes que ao longo da História designaram a invariância de uma “presença plena” (de um fundamento)… essência…existência…substância…sujeito… transcendência, consciência, Deus, Homem. Assim…é a ideia de fundamento, como presença plena, e um lugar natural e fixo, que permite a projeção de um sentido teleológico – cuja origem seria arqueologicamente revelável…e cujo fim pode ser antecipado de uma forma ‘escatológica‘.
A “suspeição” metafísica
Foi Nietzsche, no entanto, quem, no século XIX, antes que, qualquer outro ousasse pensar… – se atirou contra o “paradigma teleológico”…no seu esforço em emancipar o nosso ‘modo de pensar’ daquilo que chamamos… “metafísica“. – Esta, para Nietzsche, seria um “princípio dominante” de Platão a Schopenhauer, pelo qual pensar…é, para nós, descobrir o ‘fundamento’ que nos permita falar conforme o ‘verdadeiro’, e agir segundo o “bem” e “justo”. Todavia, de acordo com Nietzsche, nada há “de acordo com”, uma vez que não existe um “princípio originário” – como o seria a Ideia de “Bem” … em Platão, ou o “princípio da razão suficiente”, em Leibniz. Segundo o ‘filósofo da suspeita‘, todo discurso, mesmo o da Ciência ou Filosofia, é apenas uma ‘perspetiva histórica‘.
A verdade inscreve-se pois, numa história da verdade. E, com efeito, a “historicidade” do conhecimento fratura a tradicional afinidade entre razão e verdade. – Segundo Gadamer, por exemplo…tomar em consideração a historicidade significa introduzir no pensamento um tema autocrítico que contesta a velha pretensão metafísica de atingir a verdade…Não que Gadamer abandone, de forma alguma, o problema da verdade. O que a historicidade vem simplesmente sublinhar é um vínculo indelével entre conhecimento e crença, teoria e prática, compreensão e atuação, interpretação e preconceito. Isto é, a condição mesma, do nosso próprio…”ser histórico”…tanto no sentido do lado inacabado da nossa reflexão, como na impossibilidade da pretensão de um inverossímil recomeço…radical e absoluto.
O “princípio da historicidade do ser” “Nossa imensa ignorância…perante a imensidão da vida e do universo; diante da impenetrabilidade das razões… de nosso nascimento e morte; perante nosso inexorável isolamento, nessa escura vastidão de espaços infinitos (que nos assusta), impõe a humildade como forma de estar no mundo; sem a qual não há conhecimento possível”. (Otto M Carpeaux)
O “princípio da historicidade do ser“ exige uma existência essencialmente “experimental“, onde a verdade está em se alcançar os limites da finitude humana. – A ideia de uma visão não teleológica da ação humana…porém, surge no “momento exato” em que a “linguagem” invade a totalidade do ser, a ponto de tudo virar “discurso“.
Com efeito… ao estabelecer-se como lugar comum às Ciências Sociais e Humanas, a “linguística”, nas suas versões estruturalista e pragmática, faz ruir o fundacionismo, por traduzir uma preocupação pela forma – na produção do sentido – ou seja…uma preocupação refratária a qualquer tipo de “descrição factual” da realidade; negando assim…que componentes semânticos dos sistemas de significação, se fundamentem na presença de qualquer tipo de realidade, física ou mental. De acordo com Derrida:
“Todo sistema de significação (e, portanto, também a ciência) produz-se no elemento do discurso”…Isto quer dizer que a verdade passa a ser entendida como uma “função”, uma espécie de não-lugar, que possibilita a prática de jogos infinitos…tanto de ‘substituições’ de signos (perspetiva estruturalista), como de usos (perspetiva pragmática). (texto base) *****************************(texto complementar)*******************************
A OBJETIVIDADE CIENTÍFICA COMO PROBLEMA FILOSÓFICO A ‘concepção objetiva’…assim melhor entendida – é resultado das inúmeras tentativas filosóficas em reconstruir racionalmente o… “proceder científico”.
I. A noção tradicional de objetividade científica
Existe uma tradicional concepção da ciência, sedimentada em manuais de metodologia científica … e assumida, irrefletidamente… por boa parte dos cientistas (sobretudo os…‘naturais’), pela qual a Ciência se constitui num ‘saber objetivo‘ … etimologicamente falando … ou seja…que corresponde ao que o objeto pesquisado de fato é.
Poderia então…ser reconhecida esta tal ‘correspondência das afirmações científicas‘ … em uma validade, dita ‘universal’…isto é…na sua inevitável e definitiva aceitação – por todos os envolvidos nesse determinado tema.
Essa “validade universal” seria o resultado de um proceder metódico – a constante crítica e auto-crítica dos cientistas…a atitude imparcial ante os assuntos pesquisados…e a recusa de interesses outros que a busca da verdade. Contribuiriam ainda, nessa “validade”, o uso de linguagens unívocas e puramente enunciativas, bem como a consideração preferencial dos aspectos quantificáveis dos fenômenos pesquisados. — Note-se que, nessa concepção tradicional…“objetividade” designa a pretensão que define a Ciência como conhecimento:
Adequar-se ao seu objeto, sendo desse modo um saber verdadeiro; modo de garantir essa pretensão (o controle intersubjetivo); e a condição para exercitá-la (pela superação dos elementos de valor ‘puramente pessoal‘).
Nesse sentido uma afirmação é “objetiva” se (e à medida que) atinge seu objeto; vale para todos; não se prendendo a peculiaridades pessoais. – Note-se também, que na concepção tradicional – será tanto maior a objetividade, quanto menor a subjetividade envolvida no ‘processo de conhecimento’ – ou seja, quanto mais se reduza qualquer indivíduo – com a necessária formação profissional a uma “entidade impessoal“…Na objetividade científica assim entendida, incluindo uma… “dimensão ética” — espera-se um investigador sempre honesto e escrupuloso … sincero consigo e com os demais – para reconhecer limitações e erros… e corajoso para defender suas ideias. Espera-se também dele ser independente de autoridades – considerando sua contribuição ao saber como um…“patrimônio de todos”.
Tais virtudes têm uma função técnica, porquanto supõe-se que a sua não-observância prejudica…e até impossibilita a objetividade científica, tarefa eminentemente coletiva. Além disso… observa-se que a ‘objetividade’ assim concebida – referindo-se a como a ciência deve ser cultivada para ser eficaz, tem um caráter normativo. Esboça um ideal, ao qual se presume todavia que a ‘ciência real‘ sempre corresponda; em certa medida.
II. Sobre o interesse da Filosofia na “objetividade científica” Era um interesse que envolvia a própria Filosofia, visto que ela mesma era concebida como Ciência – e até… como sendo a mais importante de todas – pois era sua missão alcançar as…“primeiras causas e princípios”….de todas as coisas — assim como determinar — simultaneamente — a natureza e o alcance dos demais ramos do saber.
O interesse filosófico nesse assunto…é tão antigo quanto a própria…”filosofia ocidental”… e remonta aos esforços de Platão…e Aristóteles – em estabelecer as condições de uma ‘episteme‘ (saber seguro, “ciência”)…que transcendesse as limitações de meras “doxai”…isto é, opiniões – e assim… então revelasse a verdadeira índole — da… “realidade“.
A preocupação com a objetividade intensificou-se, todavia, na Idade Moderna, cuja filosofia foi, em grande parte, uma reflexão sobre o avanço da ciência experimental de base matemática…tentando entender as razões do seu progresso – em contraste com a aparente imobilidade da “filosofia metafísica”…segundo as palavras de Kant: “permanente arena de discussões sem fim”. Podem ser mencionadas na…’Filosofia Moderna’…ao menos 3 linhas de abordagem da questão da objetividade da Ciência. Uma delas se constituiu da denúncia dos… – ‘fatores subjetivos‘ – que…sutilmente, deformam o saber pretensamente objetivo. Uma linha crítica – que, começando na “teoria dos ídolos” de Francis Bacon…passa por ataques da “Ilustração” (século 18) contra superstições, que impedem a compreensão racional do mundo, culminando na análise marxista da ideologia. A 2ª perspectiva teórica; pela qual o pensamento filosófico moderno tratou a ‘objetividade’…foi a preocupação com o “método”, vale dizer, a expectativa de fixar as regras de procedimento que garantissem uma visão fiel da realidade. Essa preocupação…de uma maneira paradigmática em Descartes, encontra-se presente em todos pensadores dos séculos 17 a 19 – quer racionalistas, ou empiristas…quer já fosse abordada de forma expressa e abrangente — ou viesse na inquisição de certos métodos — como na crítica de Hume ao valor da “indução”.
Finalmente, a preocupação (na Idade Moderna) com a “objetividade“ – refinou-se no tratamento da própria noção de… “objeto” – sobretudo a partir da distinção kantiana (marcando todo pensamento posterior) entre “coisa-em-si” e objeto de conhecimento.
II.1) Do Positivismo e “Neo-Positismo”
Foi com o advento do…”Positivismo” — sobretudo o ‘comteano’…que a noção tradicional de objetividade se consolidou… — com o esforço dos positivistas em retratar teoricamente … o que eles imaginavam ser: uma ‘conduta bem sucedida dos cientistas naturais’.
Nessa abordagem positivista – a objetividade do conhecimento científico foi atribuída, fundamentalmente, ao respeito aos fatos…entendidos como ocorrências devidamente certificadas pela observação sistemática…em detrimento, não só de fantasias e ilusões, senão também da mera especulação…muito embora coerente. Esta forma de entender a objetividade…acentua-se no “Neo-Positivismo“…do começo do século 20, no qual, à fidelidade ao… “empiricamente dado à consciência“ – foi acrescentada a exigência de uma formulação do… “conhecimento científico”… em linguagens estritamente lógicas.
Contudo…mesmo estando a noção tradicional de ‘objetividade científica‘ relacionada ao Positivismo, convém não exagerar a importância deste vínculo, especialmente não associar precipitadamente ‘defesa da objetividade’ com ‘Positivismo’…Existem várias razões para isso. – Por um lado…é muito difícil encontrar hoje em dia epistemólogos que se identifiquem, plenamente, com as ideias positivistas e neo-positivistas. — Um autor pode ser partidário da ‘objetividade científica’ (na ‘concepção tradicional’) sem todavia ser positivista, em seu sentido próprio (caso de Popper…ou de Mario Bunge). Por outro lado, um autor pode combater o “Positivismo”, sem renegar a objetividade científica – como assim faz – por exemplo…o “olhar crítico” do filósofo Adam Schaff.
Porém, a razão mais importante para se evitar uma tal associação … é que a superação histórica positivista poderia induzir a que se considere igualmente superada a questão mesma da objetividade – o que é mais grave – pois sua crise conceitual não suprime a carência de sabermos – até que ponto, e com quais justificativas, podemos discernir o que, de fato, sabemos da realidade – daquilo que imaginamos…ou queremos que seja.
II.2) “crise dos fundamentos” (Fenomenologia e Filosofias Céticas)
Enquanto “positivistas” trabalhavam na sua imagem da Ciência objetiva; as “disciplinas” que lhes haviam servido de modelo (‘Lógica‘…’Matemática‘…’Física‘) passavam pela conhecida crise de fundamentos, que levou a repensar sua natureza…A partir da 1ª guerra mundial (e ainda antes…com Nietzsche), veio somar-se aos debates teóricos, um questionamento variado e crescente…do valor existencial, social e cultural do “saber científico” e suas aplicações. No propósito de mencionar… as mais relevantes manifestações de tal questionamento — podemos então registrar a crítica fenomenológica da noção positivista de um … “dado empírico”; como também…a crítica fenomenológica da ciência empírica – concebida como “investigação impessoal de fatos“, que exclui assim, toda entidade metafísica, em particular as problemáticas essências inerentes à… outrora tradicional…”filosofia clássica”.
As famosas ‘análises de Husserl‘ mostraram que: se a Ciência pretende ser objetiva por apoiar-se sem preconceitos na experiência…esta última deve ser reconhecida, indo “às coisas mesmas” – como bem mais rica que na versão positivista…Bem mais rica e bem mais problemática…pois a reflexão fenomenológica logo evidenciou a dependência em que se encontra a experiência invocada pela Ciência… – com relação à consciência que “constitui” essa experiência. – Por essa via, Husserl acabou questionando a vinculação entre o saber objetivo, representado pela Ciência – e o “mundo da vida” (a experiência pré-reflexiva)… — Sendo este…um questionamento — tanto teórico — quanto prático.
Qual é, a rigor … o sentido da superioridade do saber objetivo sobre a vivência subjetiva?…Por que o saber objetivo não consegue dar sentido à vida humana?
Cabe referir-nos agora à crítica de Popper à noção de objetividade – concebida em função de dados não-interpretados, recolhidos em formulações exatas. Rejeitando a busca de bases absolutas (‘empíricas’) para a Ciência – Popper via a objetividade, como o resultado da crítica, isto é, uma validade intersubjetiva; sempre provisória, de afirmações que, por sua formulação cuidadosa, fossem, a princípio, ‘refutáveis‘; com a consequente consciência paulatina dos erros a serem superados – e não em dados definitivamente verificados…Está aí, para ele, o mérito da “Ciência objetiva” moderna, sempre incluindo ‘pressuposições‘, tanto científicas quanto metafísicas.
II.3) ‘Paradigmas’ da Objetividade Na década de 1960…Thomas Kuhn inspirou uma nova forma de revisar a noção de objetividade científica ao lançar sua ideia de “paradigma” (modelo teórico-prático, regulando a ciência “normal”, cujo conflito – explicaria as “revoluções científicas”).
Aceitando certas proposições de Kuhn, como…“há períodos de ‘ciência normal‘ onde certos ‘pressupostos’ da estrutura teórica então ‘dominante’ são tidos por indiscutíveis”, torna-se difícil manter a concepção tradicional da ‘objetividade’, não só porque, conforme a teoria: tudo na ciência real…depende do respectivo “paradigma”, senão também porque se mostra questionável a própria imagem do ‘conhecimento‘, como aproximação da realidade — sendo esta…com efeito, uma ‘peça chave‘ da ‘visão tradicional‘.
Um questionamento diferente e mais complexo de uma…”Ciência objetiva”, encontramos nos autores da Escola de Frankfurt (Adorno, Horkheimer, Marcuse, Habermas), os quais, a partir do “Marxismo”, combinado com outras perspectivas teóricas (como a Psicanálise, ao início do movimento – e a preocupação com linguagem e comunicação, recentemente), denunciaram o caráter “alienado/alienante” de uma ciência concebida como instrumento de domínio teórico/prático da realidade. Pode-se dizer que, naquele aspecto onde a visão tradicional condensa o valor da objetividade…na ideia de um conhecimento estritamente impessoal de fatos explicáveis e previsíveis — que exclua todo subjetivo — aí…a crítica da Escola de Frankfurt encontra o sintoma claro de um…’saber’ – que, por originar-se numa sociedade dividida em classes, só pode servir ao ‘domínio’ – embora invoque a “verdade”.
Podemos também acrescentar as “explosivas ideias” de Paul Feyerabend…pelas quais a concepção tradicional da Ciência (e, portanto, sua objetividade) é um…“conto de fadas” resultante de um conhecimento insuficiente, ou tergiversado da história da Ciência – e do ‘chauvinismo‘ dos próprios cientistas. Para este autor, a Ciência evolui na realidade, de maneira muito menos racional, metódica, e até honesta (aos “cânones tradicionais”) do que se pode crer…e a sua verdade – mesmo que ‘interessante‘…não é a única, e nem sempre a melhor. – Da ‘atitude objetiva’, e resultados objetivos da Ciência, Feyerabend diz que constituem um perigo – e não virtude – em relação a um verdadeiro avanço de nossa compreensão do mundo. – A objetividade…para ele, é um “condicionamento” da mentalidade humana pela prática profissional – seus ritos e mitos – muito mais apto a conservar erros inveterados — do que revelar a…”realidade” – tal como ela “de fato”…é.
E com relação à ética exigida pela objetividade tradicional, Feyerabend assegura que sua “transgressão“ – mais do que sua “observância“…conduziu a descobertas científicas revolucionárias (como no caso de Galileu, que teria…segundo ele, apelado para recursos retóricos…e dissimulado o peso de contra-provas na sua defesa da “teoria copernicana”).
III. Algumas questões filosóficas relevantes sobre “objetividade científica”
III.1) Objetividade e realismo A ‘reflexão epistemológica‘ do século 20…precedida por observações de pensadores como — Kant, Hegel e Marx … vem lançando dúvidas sobre um tipo de objetividade vinculada a um realismo demasiado acentuado.
A noção tradicional supõe o realismo filosófico no duplo aspecto de “realismo ontológico” (convicção de que o mundo existe independente de nossos esforços por conhecê-lo, e que possui propriedades não derivadas desse conhecimento) — e…“realismo epistemológico” (o conhecimento como uma relação…em que o sujeito não produz, senão que reproduz o objeto conhecido). Quanto ao realismo ontológico, perspectivas de análise tão diferentes quanto as representadas pela Fenomenologia, Bachelard e Kuhn coincidem em assinalar as dificuldades da tradicional representação da ‘realidade’ – como uma instância externa comum aos sujeitos conhecedores. Já com referência ao realismo epistemológico, põe-se em evidência que o aspecto que a realidade oferece…depende da forma de abordagem do investigador (as sensações têm limites, a percepção é sempre interpretativa, as respostas correspondem às perguntas, teorias condicionam o reconhecimento dos fenômenos, etc.)
Por tudo isso, emprega-se, cada vez mais frequentemente, ao descrever o processo de conhecimento científico, a expressão…“construção do objeto”, ao se incorporar o papel ativo do ‘sujeito’, na obtenção do ‘conhecimento’.
Apesar das considerações anteriores não implicarem necessariamente ‘idealismo’ ou ‘subjetivismo’ – isto é…a convicção de que a realidade é completo produto do sujeito, ou ainda, que ‘realidade‘ é o que cada sujeito toma por tal, elas obrigam a repensar a noção de ‘objetividade’…à medida que esta inclui (numa visão realista) o conceito de ‘verdade’ como concordância do pensamento com a realidade. Desse modo, torna-se problemático entender de que maneira (e até que ponto) o “objeto de conhecimento” (então “construído” pelo sujeito)…“concorda”…com o objeto efetivamente existente.
III.2) Objetividade e acordo intersubjetivo Tradicionalmente o controle intersubjetivo representa o modo de garantir a objetividade.
De acordo com a…”concepção tradicional”, o “controle intersubjetivo”, como garantia da objetividade, se vale essencialmente de 2 elementos: “dados empíricos confiáveis” e “argumentos rigorosos”…Nesse sentido, o acordo científico (sinal de objetividade), obter-se-ia mediante provas empíricas, e/ ou argumentos rigorosos (incluindo-se aí, nesta noção … os “cálculos matemáticos”).
Autores como John Ziman, Kuhn e Feyerabend têm realçado a circunstância de que…na prática científica real…novas teorias nem sempre se impõem (ou teorias consagradas se mantêm) apenas por um ‘controle intersubjetivo‘; tal como tradicionalmente concebido. Ao que parece…a confiança nos colegas, a estimação pessoal de dados, e a retórica (para citar apenas alguns fatores) intervêm mais do que pode-se supõe no questionamento ou obtenção de acordos científicos. – Por sua vez, a persistência de um consenso, pode não ser forçosamente indício de que o ‘elemento consensual‘ (dado, teoria…método) possua valor objetivo…senão de que a percepção e o raciocínio estão demasiado marcados pelo “paradigma” vigente (Kuhn) ou pelo “condicionamento” profissional (Feyerabend) para poderem detectar “falhas de argumentação” ou ainda “informações perturbadoras”.
Algumas vezes, os autores que questionam o caráter estritamente lógico-empírico do ‘acordo científico‘ chegam a sugerir que se deva abandonar a ideia de que a Ciência é um saber objetivo. Sem ir tão longe… tal questionamento, todavia, pode servir como alerta contra uma visão muito simplificada da discussão científica…lembrando que a experiência comum e a argumentação válida – conquanto devam ser mantidas como parâmetros do saber objetivo…podem resultar de uma prática científica — “humana, demasiado humana”…que inclui também paixão, hábito, teimosia, luta, fé e intuição.
III.3) Objetividade e método A polêmica em torno do método vinculado à objetividade é…pelo menos, proteção contra uma confiança excessiva na “padronização” da atividade científica — que pode ser tão perigosa… — quanto qualquer hábito eficaz.
Assim como a objetividade supõe um controle intersubjetivo…este último suscita a exigência do “método“…de um “caminho” que possa ser refeito por ‘todos’ os outros – quer se trate do uso de uma técnica … ou da organização geral da pesquisa. – Conforme a ‘visão tradicional‘: “objetividade” e “método“…encontram-se tão estreitamente “associados“…que se torna difícil até duvidar de uma tal… “interrelação”.
Não obstante, também ela tem sido questionada…em diversas medidas.
Já autores como Michael Polanyi têm ressaltado que nenhum procedimento científico é usado de maneira absolutamente mecânica – que a metodologia é eficaz (para obter resultados objetivos) à medida que funciona animada por um saber-fazer (produto da experiência profissional, talento, etc.) – permitindo desenvolver suas potencialidades, perceber seus limites e salvar suas lacunas. Sendo assim, a objetividade científica não é resultado da atividade de um ‘sujeito impessoal’ … mero executor de procedimentos eficazes por si mesmos, mas representa a conquista de inúmeras investigações — que, muito embora instrumentalizadas – nunca deixam de ser de algum modo…“pessoais”.
Nas ‘Ciências Humanas’, as virtudes do proceder metódico têm sido questionadas pela filosofia denominada “hermenêutica“…que reivindica a ‘interpretação‘ como o aspecto essencial da pesquisa de assuntos humanos. Um dos mais importantes representantes dessa corrente…Hans-Georg Gadamer – defende que, na ‘compreensão histórica’, por exemplo, a utilização de técnicas de investigação, embora não descartável, deixa ainda intacta a questão do acesso ao “sentido” dos fenômenos estudados (tais como…épocas, obras, eventos) – um acesso que (no seu entender) deve muito mais à sensibilidade…à habilidade – à formação cultural do intérprete… do que a qualquer técnica empregada.
A posição de Gadamer é mais radical que a de Polanyi, pois questiona inclusive a separação sujeito/objeto, tal como entendida nas ‘Ciências Naturais’…no que diz respeito à sua validade nas Ciências Humanas. Não surpreende portanto que tais ideias tenham provocado em seus críticos…a impressão de que impossibilitariam a objetividade…Na verdade, mais que isso, trata-se de uma tentativa de dissociar as noções de “objetividade” e “verdade” — inseparáveis na concepção tradicional.
Paul Feyerabend – contudo… é o responsável pelo mais agressivo ataque à vinculação objetividade/método, ao pretender mostrar que o avanço efetivo da Ciência foi devido menos à observância do que à ‘violação‘, daquilo que em cada etapa histórica se tinha como a ‘metodologia confiável’…Para este autor, a objetividade resultante do ‘respeito sistemático’ a procedimentos consagrados na prática científica é muitas vezes ilusória.
Feyerabend denuncia toda e qualquer “metodologia” como ingênua e simplista diante das complexidades da pesquisa e das influências sutis dos preconceitos (incluindo os científicos)…Por isso, recomenda não vacilar no desafio das ‘normas válidas‘, procedendo anarquicamente na defesa das ideias em que confia, “pois, afinal … tudo vale para o desenvolvimento de nossa consciência” (frase do autor … substituindo a tradicional ‘busca da verdade’). Ou seja, na Ciência, às vezes…também se abrem caminhos ao caminhar.
III.4) Objetividade e ética científica
Na concepção tradicional, a objetividade científica depende – em boa medida…de certas normas morais de importância técnica, tais como honestidade – coragem – aceitação de erros e críticas, etc. De modo geral…os ‘epistemólogos‘ não duvidam dessa dependência, chama todavia a atenção não existir plena coincidência…entre os autores que se referem ao assunto, sobre quais essas normas e quais suas relações. – Mais grave ainda… parece a constatação de que nem sempre os cientistas respeitam as normas que, supostamente, cultuam. Considerando que a Ciência … entendida aqui como conhecimento objetivo da realidade, a princípio, não deixa de progredir…dir-se-ia que tropeçamos num paradoxo.
O paradoxo poderia ter uma solução distinguindo-se a…”Ciência ideal” – de uma prática científica real: as normas poderiam continuar a ser consideradas válidas como diretrizes do procedimento adequado, sempre admitindo-se todavia uma explicação circunstancial cuja eventual violação não prejudique (‘senão favoreça’) o avanço do saber. Uma solução tão tentadora vê-se contudo ameaçada pelo costume de tais normas serem reivindicadas como uma “lição”…que a prática científica fecunda nos tem legado, ao longo dos tempos.
IV. Sobre o valor da reflexão filosófica acerca da “objetividade científica” Por mais que…desde a Antiguidade – a Filosofia se haja ocupado com a ‘objetividade científica’…e por mais que existam problemas atuais, de interesse dos filósofos, cabe perguntar pela razão e utilidade desse interesse. Afinal, por que a Filosofia não deixa que a Ciência se ocupe da questão de sua objetividade?…E ainda…tem algum sentido que filósofos se ocupem desse ‘específico assunto’ – com a pretensão de esclarecê-lo?
Não deixa de ser válido e verdadeiro, que todas as pessoas – inclusive…os filósofos…tenham o direito de tentar compreender um assunto… que lhes interesse; como também…que todas pessoas (‘inclusive filósofos‘) devem ter cuidado…ao opinar nos assuntos que não tenham experiência própria.
É certo que, muitas vezes, filósofos têm exercido tal direito sem o mencionado cuidado – e nesse caso, é certamente errado, até ridículo, que pretendam dar lições ao cientistas, como amiúde parece. Por outro lado, e apesar disso, se tem a impressão de que a grande maioria dos cientistas – pelo menos…até épocas recentes – não tomavam consciência dos aspectos problemáticos da atividade de produção de conhecimento – que confiantemente exerciam. E, com efeito, é tal atitude que, de algum modo, justifica à Ciência…uma reflexão filosófica.
A questão – em seu sentido mais profundo… é a de saber se existem razões inerentes à própria Filosofia que a conduzam a se ocupar da Ciência…mais especificamente de sua objetividade. Sem embargo…considerando a Filosofia como a ‘atitude’ de um modo de vida orientado pelo afã de viver cada vez mais lúcida e responsavelmente… – podemos supor uma crítica (exame) constante das razões que sustentam a nossa conduta…e das circunstâncias que explicam o mundo que nos rodeia…e do qual fazemos parte. Tendo, obviamente, a Ciência como um dos elementos desse mundo – seria supérfluo lembrar de quantos modos ela está presente em nossa vida…influenciando-a. Portanto… se por ‘Filosofia‘ entendermos essa atitude e esse modo de viver, surpreenderia se, mais cedo ou mais tarde, alguém se perguntasse – pela natureza da legitimidade e alcance de um saber (o científico) – que, presumivelmente, representa a melhor forma de conhecer a realidade, em nome de sua alegada ‘objetividade’. – Poderia ainda surpreender que se indagasse como essa objetividade da Ciência – aos poucos… foi desautorizando outros saberes… — incluindo a própria Filosofia — a qual, depois de haver sido considerada a “rainha das ciências”…foi paulatinamente sendo reduzida à “visão de mundo”…“ponto de vista”…“especulação”…“sensibilidade para certos problemas”…e até mera ideologia.
Bem meditado, o interesse da Filosofia na objetividade científica (como parte do seu interesse na Ciência, de modo geral) não tem absolutamente nada de surpreendente. Surpreendente seria a falta de tal interesse. – Ao tratar desse tema…como de outros (arte, política, educação, etc.) … os filósofos deveriam edificar suas reflexões sobre o alicerce de um diálogo permanente com os cientistas, evitando assim conceber suas próprias ideias como um saber autônomo e/ou concorrente em relação ao científico. Reciprocamente, tomando consciência de que a ‘objetividade do conhecimento‘ que supõem alcançar não seja algo muito óbvio… — talvez então os cientistas cheguem à conclusão de que os instrumentos de ‘análise conceitual’ elaborados por filósofos ao longo dos séculos, possa ajudá-los em sua enpreitada. Alberto Cupani…UFSC (PDF)
De acordo com o texto parece poder se concluir que Stuart Mill e David Hume andarão mais próximos da realidade…
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De acordo com o texto, sim; mas as palavras da Clarice Lispector me parecem reveladoras…’só podemos ser livres dentro dos parâmetros do nosso próprio destino’… (ao reconhecermos os nossos limites, diria eu…)…
O grande benefício que a teoria do caos (determinístico) trouxe, foi uma abordagem aos sistemas não-lineares… onde os componentes interagem entre si… o que traz a imprevisibilidade a longo prazo – e que corresponde à maioria dos sistemas vivos, e reais.
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