Humboldt: da ‘Filosofia da Natureza’, a uma “Ciência Moderna”

O reconhecimento da existência de uma conexão entre as forças da naturezae sua forma captada pela intuição – dá aos filósofos a concepção do todo harmônico da natureza como organismo . A filosofia da natureza expõe laços entre o mundo visível, e aquele que escapa aos sentidos. O Cosmos se apresenta assim como uma totalidade a ser decifrada através de observações e analogias…e também de uma percepção estética dos fenômenos naturais.

HumboldtÀ época de Humboldt, final do século 18 até a metade do século 19, as ciências já viviam um processo de dissociação da filosofia…A partir das revoluções científicas do século 17, foram significativas as ‘transformações’ … pautadas principalmente pela física e pela matemática.  A partir do século 18, inicia-se a formação de uma “ciência da natureza”  então similar ao que veio a se tornar a biologia‘…preocupada em compreender a ‘natureza orgânica’. Abria-se…simultaneamente – um novo caminho de investigação…não mais regulado apenas pela ‘indução‘, mas sobretudo pela ‘dedução‘, a partir de dados coletados empiricamente. As ‘ciências da natureza’ já não mais se atinham    a uma realidade intuída – pois queriam ser o mais fiel possível à expressão da realidade, usando de sua diversidade…e multiplicidade. 

“O novo ideal de ‘ciência natural’ rompe com as abstrações matemáticas,              características da revolução científica do século 17. As ‘ciências naturais’,                        agora estão liberadas do cálculo racionalista e vago…para se tornar um                              estudo plenamente descritivo do fato concreto”. (Miguel Angel Miranda)

Humboldt percebeu essa transição. Ele sabia da importância das descrições in loco como base científica a seus pressupostos teóricos e metodológicos Fazendo uso de seu espírito investigativo, reconheceu o devido valor à observação e descrição dos fenômenos externos. Percebeu também as mudanças no ‘racionalismo’…que já então fundava o saber — a razão passa a exercer papel central para validar o conhecimento empírico. Essa ‘razão científica’, que só se realizava com a pesquisa em ato  o trabalho de campo  ou a experiência em laboratório… – possibilitava então uma investigação descritiva das… “forças da natureza”.

Humboldt se encontrava embevecido com o progresso das ciências de seu tempo: desde Francis Bacon (1561-1626)até Charles Darwin (1809-1882) – desse modo, não se pode resumir seu pensamento ao iluminismo, nem ao racionalismo moderno. Suas leituras de filosofia da natureza e estética, e seus contatos com a ciência moderna, indicam um grau    de complexidade em sua obra que extrapola o iluminismo ou racionalismo. Em ‘Cosmos’, sua forma expositiva poética… – longe de obedecer a um padrão científico convencional, rompe os limites entre literatura e ciência. – Ao mesmo tempo que descreve, Humboldt expressa seus sentimentos e emoções. A beleza e o colorido da natureza estão presentes.  Contudo, apesar da influência romântica, muitas vezes, o idealismo é por ele rechaçado.    A importância dada às observações, à medição e descrição da natureza, ações realizadas com o maior rigor e objetividade  desvinculava-o de uma matriz idealista…bem como seu método ‘empírico racional’ criticava as filosofias meramente especulativas, que para ele, sem relação com as descobertas empíricas, não esclareciam os fenômenos naturais. Noutras palavras…sem observação e descrição in loco, a ciência seria inócua“.

Todavia, apesar dessa crítica à filosofia especulativa  Humboldt se deteve em algumas    de suas premissas, ao menos no que se refere a teses sobre a ‘visão unitária da natureza’,    e à uma perspectiva de junção entre arte e ciência, ideias estas relacionadas às filosofias    da natureza de Schelling (1775-1854), e Goethe (1749-1832). Por suas próprias palavras: 

“Acho que a descrição do Universo e a história da civilização se encontram num mesmo grau de empirismo…com fenômenos físicos e eventos históricos submetidos ao crivo da ‘inteligência’. Regressando por raciocínio a suas…causas…cada vez mais se confirma a antiga crença de que, tanto forças inerentes à matériacomo as que ordenam o mundo    das relações humanas, exercem sua ação sob influência de uma necessidade primordial, uma disposição a movimentos, que se renovam, periodicamente, em intervalos mais ou menos duradouros…Tal necessidade inerente das coisas…tal encadeamento oculto mas permanente — renovação periódica no desenvolvimento progressivo das formas  que,    por mera suposição…obedecem a um impulso inicial intrínseco — constitui a Natureza”.

Referências às eternas forças criadora e primitiva  se originam de uma filosofia da natureza já presente em Leibniz (1646-1716), mas que se encontra também em Kant    (1724-1804)…O próprio Humboldt (seu crítico) reconhece em Schelling, as bases da          sua concepção de natureza  como um todo orgânico e harmônico…e a importância          da estética…tanto na apreensão como na exposição da natureza. Mas, independente          da filosofia especulativa alemã…ou mesmo, além dela, é perceptível em Humboldt a presença do ideal metafísico, num eterno impulso criador, por trás das leis naturais. Mesmo criticando a especulação filosófica, é nítida a referência à ideia de uma força primordial, tal qual um “impulso criador”, no desenvolvimento das formas naturais. 

O “Empirismo racional”                                                                                                                 O lado empirista de Humboldt faz com que sua objetividade na análise tenha grande importância em seu método. — A experiência é parte fundamental do conhecimento:          A busca e coleta de dados empíricos – combinados e refletidos pela razão, compõem    aquela vertente… — que o próprio naturalista denominou… — “empirismo racional”.        

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“A percepção da natureza universal fornece um prazer intelectual e uma sensação de liberdade que nenhum golpe do destino pode destruir” (Alexander Humboldt)

A ‘ciência’ de Humboldt – é a reunião de um complexo conteúdo de métodos, que passam pelo iluminismo, mecanicismo e idealismo… – entre outros ‘ismos’. – Ela objetiva uma síntese…entre ordenação e mensuração da ‘paisagem’ com o auxílio de técnicas de observação e mensuração, na “percepção matemática” de um “todo orgânico”, regido por um “telos natural”, que é capaz de conectar, empiricamente, as diferentes formas sensíveis de vida.

Em Humboldt, percebe-se uma revalorização da sensibilidade na relação sujeito/objeto, provocando no observador seus ideais de harmonia e beleza. Suas ideias de uma ciência universal unitária…origem comum das raças humanas…e um desenvolvimento da razão humana como meio ao progresso e evolução – fariam dele discípulo dos enciclopedistas. Essas ideias, porém, encontram-se também em Kant, Goethe e Schellingmais até, que    nos…’enciclopedistas’ – mesmo reconhecendo a influência do “pensamento francês” em Humboldt, cuja importância deriva da necessidade em ampliar as formas de ordenação dos dados recolhidos das experiências concretas…Nesse sentido, o intuito de Humboldt seria então — o de ordenar os diversos fenômenos naturais … por meio de comparações entre eles, observando atentamente suas diferenças e semelhanças…na tentativa de que uma organização sistemática da natureza, seja capaz de gerar a compreensão do…’todo’.

Não há consenso, de fato, à crítica de que Humboldt seja apenas um ‘enciclopedista’, ou ‘mecanicista’. Se sua obra tivesse somente a influência do ‘iluminismo enciclopedista’, e      da física mecanicista, certamente ele seria então  apenas um ilustre cientista moderno, cuja modo de fazer ciência se limitaria a construtos lógicos, a partir de dados empíricos. Todavia, Humboldt foi além…tentando amalgamar ciência moderna com o pensamento filosófico romântico/idealistaMas, em oposto aos idealistas, Humboldt se acha numa escola românticaem que o sentimento não se depara com nenhuma limitação a priori, com nenhum obstáculo colocado pela razão absoluta…afastada do “mundo empírico”. 

especulação em Humboldt pode ser considerada limitada…Aparece mais como uma fundamentação de suas ideias mais gerais sobre a natureza. Mas no final da introdução    ao…”Cosmos” – sua presença torna-se mais nítida… – não como uma demonstração da grandeza e importância da física no mundo (a qual não se pode duvidar) – mas sim, ao deixar evidente que as ideias podem ser generalizadas – sem sofrer da solidez de suas especializações, unindo-as num foco comum – mostrando as forças e os organismos da Natureza…animados, e movidos por um mesmo impulso. Aqui, de novo, Humboldt faz referência a uma força primordial que move os organismos em conjunto. Logo a seguir, cita Schelling… – em seu discurso poético sobre as artes: “A natureza não é uma massa inerte – mas personifica … para quem consegue penetrar em sua grandeza sublime – a força criadora do Universo; uma força primitiva, eterna, que atuando incessantemente,    dá à luz, em seu próprio ventre, à tudo que existe, e alternadamente – surge e renasce”. 

O naturalista demonstra que seu método resulta da composição do “empirismo” com o “racionalismo”, acrescentando a importância da história na compreensão da formação,      e causas dos fenômenos. – Mas o que torna a obra de Humboldt notável…não é tanto a física ou a história naturalnem a descrição das formas dos fenômenos naturais…mas sim, a concepção da natureza como um todo animado por forças internas…uma crença antiga numa força primordial inerente à matéria, que rege os fenômenos– Nada mais perto da filosofia da natureza de Schelling e Goethe…como também, dos filósofos da Grécia Antiga (Platão e Aristóteles) admitir que, em permanente encadeamento oculto,      a renovação e evolução das formas da natureza estão submetidos a um…”impulso vital”.

Uma “força vital”                                                                                                                      Aos poucos…a teoria da ‘força vital’ vai sendo substituída pela ideia de…‘organismo’:  um todo que se move a partir da atração e repulsão. Nele “tudo é ao mesmo tempo fim e meio” – e a resposta para sua origem e desenvolvimentoestá na natureza das próprias ‘substâncias animadas’. Mas, ainda assim, a ‘teoria do organismo’ não livrará Humboldt  de suas…’influências metafísicas’, em relação ao “sopro de vida”… que anima a natureza.

Humboldt 2O que se destaca nas pesquisas de Humboldt…sobre a relação entre o desenvolvimento interno das plantas e seus ‘estímulos externos’ – é a presença de um ‘agente interno’ às plantas que se relaciona com a eletricidade em sua própria geração. O que se colocaria em xeque em experimentos com a…”eletricidade”, a partir de Luigi Galvani (1837-1798) – seriam os limites da “visão mecanicista”. Assim – nessa discussão, estaria em jogo o conflito entre a visão mecanicista de causa e efeito, e a visão teleológica da natureza… — significando então… — a ciência moderna em contraste com o pensamento filosófico idealista.

A vertente mecanicista visava obter as reações dos seres vivos a partir de um estímulo elétrico externo, por meio de placas metálicas. Já a teleológica parte da noção de uma força interna formativa, que se reveste de…’descargas elétricas’. Humboldt defendia a concepção da presença de uma misteriosa ‘força vital’. Posição esta, descartada algum tempo depois, já em função da forte influência teológica. Mas…na verdade, Humboldt    não teria rompido em definitivo com essa ‘misteriosa teoria’…a partir de que, para ele,        tal “força vital” (interna)…é um fundamento presente em todas as formas da natureza.    Esta força nada mais seria do que um “élan” entre todas coisas existentes  enchendo      de vida os ‘seres’, e também a ‘esfera inorgânica’; um elemento transcendente da vida    uma ‘subjetividade’ na natureza que a faz agir como que obedecendo uma ‘finalidade’.    

Seria a transposição para a natureza de um… “deus metafísico”  fora da                            natureza, com todas características de um ‘ser harmônico’…uno – agindo                            com finalidade, sejam estas orgânicas ou inorgânicas… Um ‘deus natura’.

Em 1793 Humboldt fez um reavaliação da sua concepção de força vital, como uma:    “causa misteriosa que impede que os elementos cedam às suas atrações primitivas”. Contudo, devido ao seu aprofundamento nos estudos da física e química, mudou de opinião em relação a ela. Já em 1797 o naturalista não mais adota essa concepção.      Desde então, nunca mais citou como força vital, o que seria, em verdade, “um mero produto da união de substâncias” já bem conhecidas dos cientistas. Para Humboldt,            a composição química dos elementos apresenta uma definição mais satisfatória das substâncias animadas e inanimadas. A química dos organismos animados…cujas      partes se separam e alternam…mesmo mantendo as condições anteriores, permitiu concluir que os elementos, mantendo seu equilíbrio na matéria inanimada, o fazem    como parte de um todo animado. Em sua obra ‘Cosmos’, Humboldt também foi fiel              ao método de tratar a natureza como um todo orgânico‘…como no seguinte trecho: 

“Mitos de matérias imponderáveis, e de certas forças vitais próprias a cada organismo,    têm complicado cálculos e derramado dúvidas sobre o caminho a seguir. É debaixo de condições e formas intuitivas tão diversas que se tem acumulado…ao longo de séculos,        o conjunto prodigioso de nosso conhecimento empírico  aumentando dia a dia…com rapidez crescente. O espírito investigador humano, de tempos em tempos, e com êxito desigual  trata de romper formas antiquadas  símbolos inventados para submeter a ‘matéria rebelde’ às construções mecânicas. A descrição física do mundo deve mostrar        que todos materiais, dos quais a contextura dos seres vivos é composta, encontram-se também…na crosta inorgânica terrestre — que vegetais e animais estão submetidos às mesmas forças que regem a matéria bruta…atuando nas combinações/decomposições desta ação os mesmos agentes que dão aos tecidos orgânicos formas e propriedades; e      que estas mesmas forças, designadas ‘fenômenos vitais’, atuando sob condições pouco conhecidas têm-se sistematicamente agrupado por analogias supostamente acertadas”.

Humboldt critica diretamente a teoria da ‘força vital’, e não deixa escapar os limites da mecânica. – Sua concepção de organismo, no entanto, não renega nenhuma das duas teorias. Ele critica os estudiosos que creem numa força vital própria a cada organismo, para, ao invés disso, propor a necessidade de se apreender o organismo como um todo, uno e vivente, onde forças vitais somente são pensáveis a partir de uma “metamorfose”    do próprio organismo…Para Humboldt, assim como na visão de Schelling…a natureza: como unidade harmônica numa diversidade das coisas criadas, que se diferenciam por suas formas, ou constituições que as animam – encontra-se em permanente estado de “metamorfose” (transformando-se em ciclos…renovando-se regularmente) – podendo assim ser analisada em suas formas… e de acordo com a renovação de suas aparências. 

A unidade orgânica na Natureza                                                                                                A concepção de natureza, em Humboldt, está especialmente presente  na ideia de um organismo vivo em constante transformação, segundo um processo interativo de forças internas, que cresce e se desenvolveem uma mudança contínua própria de forma, em movimento. Ela configura-se assim como um ‘todo’…formando um sistema de relações, conexões e forças…em função das quais se produzem as regras de sua própria evolução.

NirvanaO tema em torno da unidade da natureza, é dado por Humboldt, numa perspectiva de descrições das regiões visitadas, utilizando técnicas matemáticas – criando deduções empíricas…princípios que norteiam toda investigação natural. – Em sua ‘metodologia’ se insere assim a perspectiva de uma diversidade própria – a regular sua “unidade dinâmica”.

Não se trata de uma lei como pura abstração, mas de uma lei que deve expressar a relação indissociável entre a parte e o todo – e desse modo, refletir os pressupostos gerais de uma compreensão da realidade não-linear…vista sob uma “concepção teleológica da natureza”. A unidade orgânica pressuposta no pensamento de Humboldt – fornece as bases para – a partir do singular, vislumbrar uma…’totalidade dinâmica’…pois cada parte está associada,  e em constante relação com o todo. E na variação local, a concepção de unidade orgânicadeixa perceber o encadeamento da natureza agindo por si mesma — se autoproduzindo.  Para Humboldt, o que torna difícil referir-se ao organismo de forma satisfatória, são suas relações com as leis da física e da química — mostrando a complexidade dos fenômenos e das forças que agem simultaneamente, e as condições para suas atividades. O organismo, para o naturalista, possui um funcionamento próprio; se ‘autoproduz’, diferentemente da natureza inanimada, inorgânica. – E assim…ele delineia melhor sua noção de organismo:

“O organismo é um conjunto de células vivendo tanto tempo quanto funcionem as partes, que formam o todo. – Parece determinar a si próprio, em oposição à natureza inanimada. Os órgãos determinam-se uns aos outros, fornecendo reciprocamente a temperatura pela disposição particular em que exercem certas afinidades, com a exclusão de todas outras. No organismo, tudo é ao mesmo tempo: fim e meio. – A rapidez com que a composição das partes orgânicas se altera; separada dos órgãos vitais que formam um todo … se acha subordinada à sua maior ou menor ‘independência‘, e à natureza das substâncias“. 

A diversidade vegetal, para Humboldt, possui estreitas relações com o clima, e condições do relevo. — Desta associação resultam suas particularidades… e o que há de comum nas vegetações ao redor do mundo. Tal geografia faz parte de uma ‘física geral’, abarcando as físicas mecânica e orgânica, da terra e do céu, compondo o…”princípio de unidade”…que rege a composição e distribuição das espécies e dos ‘fenômenos cósmicos’…Com efeito, a concepção de uma relação inseparável entre elementos da natureza…e a consideração da ‘perspectiva teleológica’, se tratavam de itens já integrados ao pensamento de Humboldt, sobretudo pelos contatos com Goethe…bem como pela estreita relação com cientistas do período. Nesse sentido…novas formulações dos estudos magnéticos na física; discussões sobre a matéria química; e também a perspectiva teleológica – no estudo dos seres vivos,  já se mostravam como ‘contraponto’ — à perspectiva estritamente mecânica da natureza.

A série de tipos orgânicos se completa em Humboldt, a partir das descobertas empíricas alcançadas por meio das observações diretas da natureza em suas viagens…simultânea à comparação dos organismos vivos…com os já desaparecidos da superfície da Terra. Esta imensa variedade de fenômenos produzidos na natureza…em incessante transformação, desvela o mistério (força) primordial…que se encontra no âmago da “metamorfose”. Tal expressão é tomada de Goethe…remetendo a uma imprescindível maneira de reduzir as formas de vida a um número limitado de tipos fundamentais, que se transformam uns a partir dos outros. Segundo Humboldt, se encontra nessa metamorfose de tipos naturais,      e suas relações de forças, a revelação do que está por trás de qualquer organismo vivo

Além de ser uma maneira de organizar e catalogar os diferentes fenômenos naturais, ao redor da Terra…o “método comparativo” de Humboldt possibilitaria o desvelamento do ‘todo’, a partir da observação e contemplação dos particulares do… “sopro que anima as vidas”. – Trata-se da…“busca do tipo…do arquétipo…do infinito na dimensão do finito”. Humboldt opta por valorizar as leis que regulam o contínuo movimento dos fenômenos naturais, apoiando-se nas descobertas das particularidades, para, em seguida, compará-las, na tentativa de criar leis mais gerais. Sintetizador tal procedimento agrega não só diferentes legados, mas também, o reconhecimento espacial das variações regionais, na apresentação de características próprias segundo princípios regulares. Os elementos da natureza na sua relação harmônica com ela mesma, e com o espírito, nesse sentido, são compreendidas sob o conceito de “paisagem”.  Se a descoberta e o gozo pela paisagem possuem um caráter intuitivo, sua ciência, na descrição física do mundo, precisa de um aporte dedutivo – para leva as partes ao todo. Por causa disso, a ciência de Humboldt é muito mais complexa do que fazem crer os rótulos de ‘romântica’, ‘ilustrada’, ‘idealista’.

A Paisagem (“princípio teleológico da natureza”)                                                                        “Cada forma apresenta uma relação dinâmica entre o universal (manifestação invisível), e o particular — até onde a vista alcança. Cada parte carrega em si o universalque, em sua aparênciaé imperceptível. Porém, da observação de suas combinações surge a dinâmica que move o ‘todo’. A paisagem representa a forma como o ‘todo’ se expressa no particular”.

paisagem-montanhas-arvores-janela-3djunção da perspectiva teleológica com a mecânica…ou, a relação entre filosofia da natureza e a física moderna…aparece em Humboldt, sobretudo, ao se analisar seu conceito de…’paisagem’ (“A imagem capturada pela contemplação … revela a perspectiva de uma ‘ligação’…  entre o invisível e o visível…  entre o todo…e o particular”)…Esta associação parece ser para ele  uma alternativa ao dualismo entre o…idealismo e o…materialismo.

“princípio teleológico da natureza”, que Humboldt assumiria desde 1793, tem sua origem na filosofia kantiana. Essa influência pode não ter sido direta…mas indiretamente, pelo contato com Goethe. Se trata de uma relação entre o singular e o universal a partir de uma conexão que amalgama os fenômenos naturais através de uma teleologia estética da natureza. Estudos que auxiliam Humboldt na explicação de uma conexão entre o singular e o universal aparecem por meio das descrições das “paisagens” – que articuladas entre si, definindo características particulares do espaço físico, permitem uma ‘visão geral do todo’.

Há em Humboldt uma dupla perspectiva em relação à paisagem: uma…materialista, que procura descrever objetivamente as peculiaridades do lugar para depois compará-las – e outra, mais estética…que, a partir da apreciação da paisagem – na relação sujeito/objeto, desperta no observador um sentido artístico. As 2 visões…uma objetiva e outra subjetiva, encontram na paisagem o lugar de seu reconhecimento – a…”unidade harmoniosa”, que caracteriza a natureza em Humboldt. Esta ideia de ‘unidade’ é um dos pontos relevantes na ciência de Humboldt…onde ele não só concebe uma ‘relação mútua’ entre fenômenos    da natureza, como também propõe um caráter criativo ao ‘ser humano’…a partir de suas representações artísticas da natureza. Nesta perspectiva de unidade, trazida do conceito de paisagem…é definido o valor da ciência humboldtiana – na medida em que é mais do que um simples reconhecimento e ordenação dos elementos empíricos – antes disso, ela    é a confluência de todos estes pressupostos ordenadores e materiais; sob o sentido geral      de uma natureza e realidade concebida à “moda romântica”. E a paisagem é que faz essa aproximação; ao entender e solucionar a tensão entre esses pressupostos contraditórios.

A paisagem, na verdade, é mais do que um registro – marca a ser reconhecida e integrada numa visão teleológica do mundo…ela representa o papel ativo do olhar na construção da coisa viva – o captar do sujeito, que coloca sua ‘imaginação’, no processo de apreensão da natureza. No gozo que a sua beleza…a apreensão estética da paisagem…proporcionada ao observador, resume a tentativa de se juntar ‘ciência’ e ‘estética’; tema que se aproxima do pensamento de Schelling. Para este filósofo: “a natureza é o espírito adormecido disperso nas manifestações naturais”…cabendo ao artista desvelar o infinito no finito, por meio de uma intuição estética, sem necessariamente considerar uma mediação do conceito lógico.

A filosofia da arte, por meio de sua tradução objetiva, promove numa                                    apreensão imediata…a síntese entre natureza e espírito. A imagem da                                natureza se autoproduzindo é captada…a partir da sua contemplação                              intuída pelo pensamento; e posta a serviço da atividade do espírito. A                                  paisagem, em sua apreciação estética, conecta o sujeito ao objeto…na                                  transmutação da natureza orgânica  em eterno processo de criação.

CONSIDERAÇÕE FINAIS (Humboldt, um cientista moderno?)
Humboldt pode ser considerado como um expoente da ciência moderna, cuja obra ajuda a compreender a história moderna da consolidação da ciência como forma de entendimento e análise do mundo. Dela fazem parte o reconhecimento de sua precariedade, bem como a necessidade de um… ‘impulso criador’ – mesmo que inconstante e gratuito. (C. Lourenço)

percepc3a7ao-estetica

A imaginação criadora dos filósofos e cientistas a que o naturalista alude para exemplificar sua importância ao desenvolvimento das ciências…  longe de ser um desvio romântico de Humboldt, representava uma leitura do desenvolvimento da ciência — e seus processos de instabilidadesrupturas e superações — indicando a relevância de casos fora do ambiente científico à sua própria transformação…A modernidade trazia em si momentos de fantasia e imaginação que junto à dúvida e inquietações da época consistiam a ciência do ‘Cosmos’.  Nessa sua obra literária…Humboldt transita – com igual desenvoltura – do mito à ciência, recolhendo contribuições para o desenvolvimento das ‘visões de mundo’ – incluindo a sua própria. Inicia assim sua ocidentalização iluminista pela civilização grega, tomada aí mais como centro de um processo – do que uma pretensa gênese civilizatória. Estabelece então que as relações entre o mundo antigo e sua vida cotidiana produziram a “mitologia grega”.

A ‘paisagem’ como expressão da relação do homem e seu mundo, ou melhor, da separação do homem…de seu mundo e da natureza – é obra exclusiva da Modernidade. Nos gregos e romanos, a representação da “natureza”…como cenário das ações e sentimentos humanos, ainda não considerava a separação entre observador e mundo, reivindicada em Humboldt, para uma análise mais objetiva da natureza (a necessidade de contemplação na pintura da paisagemcomo se registra na “Modernidade”). – Humboldt acreditava que as formas de representação na Antiguidade não atingiam a paisagem, por não se dedicarem à descrição dela em si mesma, embora ele reconheça que mesmo entre os clássicos não esteja ausente uma relação estética entre homem e natureza.  Mas, o ideal de objetividade da paisagem natural é um equívoco, que não só Humboldt cometeu, mas as ciências de um modo geral.

No processo de compreensão da paisagem ou de sua formação no mundo moderno, já se encontra uma separação entre o mundo da natureza, e o mundo humano…Tal separação ganharia força…no século 17 – quando a pintura e a ‘paisagem descritiva’ assumiram um protagonismo…ao mesmo tempo em que aflora e se desenvolve a ‘ciência moderna’. Este culto à paisagem está esteticamente presente nas obras literárias e poéticas; que ganham espaço…tornando-se difundidas na Europa. A explicação que Humboldt oferece ao leitor acerca dessa…”explosão paisagística”  concentra-se, em termos históricos, na expansão territorial das grandes navegações. O contato com a Natureza “exótica” com suas formas, cores, brilhos, forças, movimentos, causariam ao olhar europeu um deslumbramento tal, que a Natureza do Velho Mundo nunca foi capaz de assimilar totalmente. Tal despertar estético para a natureza levaria ao desejo do conhecimento pleno de suas leis e situações, bem como da representação de suas…forças e grandiosidades – as mais exatas possíveis.

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Um mapa da América do século XVIII

O ‘novo mundo’ aberto aos olhares dos pintores e paisagistas deveria ser visto e registrado segundo a objetividade natural — em todo seu esplendor e harmoniaE para isso, o auxílio dos naturalistas seria indispensável aos artistas – para pinturas mais fiéis à realidade‘. Havia em Humboldt uma visão utilitarista da arte, sendo a ciência ‘objetivo último’ das pinturas de paisagem, fiéis ao mundo real…para assim fornecer mais dados à ciência. A arte seria um apêndice à ciência. Porém, também se vê em Humboldt…o desejo pelo belo e sublime.

A paisagem…enquanto fato humano – tem história efêmera, e pertence a um momento específico da sociedade moderna. Seu surgimento/desaparecimento, como representação autônoma, podem indicar pressupostos e limites de sua existência…A “pintura paisagem” se relaciona com a realidade social moderna – quando ganham destaque os pressupostos matemáticos associados ao perspectivismo‘, e ao fenômeno da luz e das cores. A posição do homem no mundo, e sua visão deleao serem assim afetadas, passam a necessitar de uma educação dos sentidos. – Transformações na formação do ser humano, perpassadas pela estética e ciência, exigem uma nova educação, para que então surja uma nova forma de ação no mundo…É a partir dessa percepção…de que o homem pode domar a natureza, que tal relação…porém, se faz contraditória  pois implica numa forma de dominação da natureza através do conhecimento  que permite contemplá-la – mas cuja contemplação só é “satisfeita” como‘simulacro’. — Assim, o belo natural da paisagem é também, uma negação do próprio sujeito, que não se vê como paisagem…A arte moderna implica pois, uma “representação reduzida da natureza”, e assim…sua eliminação enquanto tal — pois, desta maneira (como na indústria) a natureza é simplesmente reduzida à ‘matéria-prima’.

Existe, assim, uma dualidade em Humboldt, como uma contradição na incorporação das forças artísticas e poéticas, na busca pela objetividade empírica. Para ele, um sentimento vivo em relação ao mundo deve ser fundamentado pela compreensão de seus processos e formas, sendo o conhecimento nulo  se não for vivificado por sentimentos de respeito e prazer. Os conceitos de ‘unidade’, ‘harmonia’ e ‘totalidade’, estão no âmago dessa síntese múltipla entre homem e mundo, entre conhecimento e sentimento, essência e aparência, entre o ínfimo e infinitoorgânico e inorgânico, arte e ciênciaentre paisagem e cosmos.    Em Humboldt há uma contradição em ato  expressa pela tensão entre as influências do iluminismo e do idealismo, latente e aflorada a cada passagem de seus escritos. – Se, em sua juventude a presença da filosofia da natureza era maior  na maturidade  ela perde um pouco de sua forçao que, no entanto, não caracteriza um rompimento. – A ‘ciência moderna’, em sua objetividade, convive em Humboldt com o ideal metafísico de beleza e harmonia – como constatado no percurso das representações de suas “visões de mundo”.

A relação de identidade do homem com a natureza se perde em seu distanciamento, necessário à dominação…Na natureza domesticada, o belo aparece como simulacro,      falsa representação, que esconde seu verdadeiro significadocomo instrumento da produção. – Com isso, a paisagem começa a perder sua relevância…não sendo mais          uma possibilidade do homem se relacionar com a natureza e consigo mesmo…e sua representação torna-se caricatura. Contudo… tal separação entre natureza e sujeito          não é a grande preocupação de Humboldt, o problema realmente se coloca quando              a separação torna-se‘alienação’, e a dominação da natureza a transforma em algo    pronto para ser consumido  como‘mercadoria’. (Thiago Brito/2015) (texto base**************************(texto complementar)******************************

A origem da vida… (“auto-organizada)… — em questão                                            A existência não é contradição, mas sim…complementaridade,                                                  e síntese transcendental”. (Louis Pauwels & Jacques Bergier)

a evolução do metabolismo

A questão da origem da vida é… sem dúvida, uma das questões centrais relacionadas à auto-organização e complexidade. Podemos ter dúvida sobre se a ordem pode emergir     da desordem…mas não há dúvida de que ‘seres‘…com um certo tipo de complexidade anteriormente inexistente, surgiram ao longo das eras geológicas. Todavia, não há um consenso sobre o mecanismo da origem da vida… – Em 1648, o médico belga Jan van Helmont defendeu que…‘toda vida tem origem química’No entanto, o químico Jöns Berzelius, em 1806, sugeriu uma distinção entre química inorgânica e orgânica, supondo que o fenômeno da vida envolveria uma ‘energia vital‘ proveniente de uma “base química” específica… – Esta distinção foi por terra… quando o alemão Friedrich Wöhler sintetizou o composto orgânico ureia…a partir de compostos inorgânicos.

Mais tarde (1862) Louis Pasteur refutou definitivamente a hipótese da ‘geração espontânea’…como fenômeno presente em nosso cotidiano – enquanto Matthias Schleiden (1863) salientava que as condições na Terra … quando a vida teria se originado… – deveriam ser outras…em relação à que conhecemos hoje… E Ernst                  Haeckel (1866) anunciava enfim…a ideia de uma ‘sopa pré-biótica‘…de onde  surgiriam os ‘microrganismos primitivos. Já no século XX (1913)…Walther Loeb sintetiza a glicina (o aminoácido mais simples)…a partir de uma mistura          gasosa de gás carbônico, amônia e água…Em 1924, o bioquímico Alexander Oparin lança a primeira teoria sobre a “origem da vida” (a partir de processos      químicos)…destacando que na ‘sopa orgânica primordial‘…géis em formato      esférico, precursores das células, teriam se formado espontaneamente, e formas complexas de ‘microrganismos’ teriam evoluído por meio da ‘seleção natural‘.

Por outro lado…em 1929, o bioquímico e geneticista John Haldane apresenta ideias semelhantes – mas… em oposição a Oparin, destaca o papel do “núcleo celular“, incluindo o vírus como uma forma intermediária…entre vida e matéria inorgânica. Porém, em 1954 negaria esta tese, sugerindo o “RNA” como “precursor da vida“.

A distinção entre as visões de Oparin e Haldane marca assim uma discussão que existe até hoje sobre a origem da vida – entre os que defendem um começo ‘metabólico‘; os que defendem o começo ‘genético‘…e, aqueles que defendem a ‘coevolução‘ entre os 2.  J. Bernal (1949) introduz a hipótese de que “formas primitivas de vida”…necessitando de um ambiente em condições de contorno mais rígidas, teriam se originado na argila. Em 1952, o químico Harold Urey, trabalhando em Chicago/EUA, desenvolve a teoria de que  a ‘atmosfera primordial da Terra‘ consistiria…basicamente…de metano e amônia.

Seu aluno Stanley Miller consegue, no ano seguinte, gerar aminoácidos em quantidades significativas – a partir de uma mistura de metano, amônia, água e descargas elétricas.

A noção de um começo genético é desenvolvida na década de 70 por Eigen e Schuster, com a teoria do ‘hiperciclo’… – que é considerada próxima à abordagem de Prigogine… (O início da vida teria surgido com ‘macromoléculas replicantes‘, sem que houvesse necessidade de um metabolismo muito elaborado)…A concepção de que teria havido um ‘mundo de RNA‘ antes do surgimento das formas conhecidas de vida…é defendida por Crick (1968) e Gilbert (1986). – Moléculas de RNA seriam ao mesmo tempo fenótipo e genótipoou seja…auto-replicantes e catalíticos (ideia estimulada pela descoberta    de que em organismos atuais, certas enzimas não são feitas de proteínas…mas de RNA.)

Mais recentemente… descobriu-se que o DNA pode atuar                             como enzima — e…que peptídeos podem se auto-replicar.

As concepções metabólicas baseiam-se na noção de que o RNA teria invadido e substituído um replicante mais rudimentar em estruturas metabólicas previamente existentes. – Cairns-Smith (1982) lançou esta ideia…sugerindo um começo…com ‘minerais, e sua cristalização… – De Duve (1991) defende um argumento parecido, descrevendo um mundo metabólico de tioéster, antes de surgir a ‘replicação (os “moldes“…de onde outras membranas seriam copiadas — surgiriam naturalmente.)            A seguir, Baltscheffsky (1993) sugere um ‘mundo de pirofosfato inorgânico‘,            fornecendo uma conversão de energia pré-biótica, que teria precedido o mundo      ‘ATP‘ (no qual vivemos). – Já Stuart Kauffman (1995), defende que o surgimento            da vida não depende de moldes (DNA, RNA ou polímeros semelhantes), mas se dá,            na própria catálise, e ‘combinatória química’…criando um modelo computacional            de autocatálise coletiva, com uma complexidade mínima, acima da qual o processo ocorreria espontaneamente. Até que, afinal, a ideia de ‘coevolução‘…foi proposta          por Wang (1975)…e Di Giulio (1997). – Dessa forma, simultaneamente… o “código genético” teria evoluído, junto com o “aparelho tradutor” (síntese de aminoácidos).

henri-atlan1Teoria biológica da ‘Autorganização’   

Dentre os autores que tratam do tema autorganização,  um dos mais conhecidos na Biologia é o francês Henri Atlan — autor do livro Entre o Cristal e a FumaçaEste título se refere à posição intermediária, na qual os sistemas complexos se situam: entre a ordem simétrica de um cristal – e a “desordem imprevisível” da fumaça.  Do lado da ordem do cristal, Atlan fala da repetição, da regularidade, e a redundância… – do lado da desordem da fumaça… – variedade…incerteza…e… complexidade. Haveria coexistência destes ingredientes opostos — em uma “organização dinâmica”Nesta noção de ordem e desordemo que nomeamos definição epistêmica de ordem, seria o grau de conhecimento do ‘todo’…que obtemos do conhecimento de ‘uma’ de suas partes.

Divulgador do Princípio da ordem a partir do ruído”…proposto por von Foerster; Atlan destaca a constatação de que as máquinas naturais (ou seja, os organismos vivos) são resistentes aos efeitos destruidores do ruído. Opondo elementos de ‘determinação’ e ‘indeterminação’ … alguma dose de incerteza seria necessária – a partir de certo grau de complexidade – para permitir que o sistema se adaptasse a determinado ‘nível de ruído’.  De acordo com a sua…”teoria da autorganização“…a ordenação de um sistema seria definida pela dinâmica de variação da quantidade de informação…ao longo do tempo; 3 parâmetros definiriam o grau de ordenação…(i) a ordem repetitiva ou redundância; (ii)    a ordem por improbabilidade ou variedade; (iii) o parâmetro de confiança (‘reliability’), que exprimiria a inércia do sistema ante modificações. Para um sistema se autorganizar      a partir de uma evolução, inicialmente deve possuir enorme ‘redundância‘; ou seja…a informação nele contida deve se repetir…e, ao mesmo tempo, ter uma alta sensibilidade      às mudanças provocadas pelo ruído… Com efeito, à medida que este atua no sistema, a redundância é “aleatoriamente”…destruída – ampliando a sua ‘variedade‘…bem como      a “confiabilidade” do sistema em questão. (Henri Atlan não parece explicar como a confiabilidade aumentaria; mas certamente isto poderia ocorrer por seleção natural.)

Dessa forma, o prefixo “auto” se justificaria na expressão “autorganização”, já que as alterações não surgiriam – de um programa pré-estabelecidocom vistas à organização do sistema, mas de um fenômeno aleatório. O que aumentaria o grau de organização do sistema seria portanto…o ruído. Mas, como isso aconteceria?… – Atlan vai acoplar esta pergunta a outra, igualmente problemática… – “Qual é a origem última da informação”?

elementos-da-comunicacaoA proposta de Atlan é simplesImagine uma fonte de comunicação e um receptorambos dentro de uma célula (ou…de um organismo).  Supondo agora que a informação transmitida esteja, inicialmente… sujeita a pouco ruído, isso significa que: o estado do receptor é bem parecido ao estado da fonte… Com enorme “informação mútua”…e “redundância” o ‘estado’ do “emissor” se repete no…”receptor”.

Considerando agora a presença de ruído no canal…o montante de informação transmitida é reduzido. Como consequênciaos estados do receptor e do emissor serão mais diversos, haverá mais variedade na ‘célula total’. Assim, se a célula como um todo (fonte e receptor) for classificada, para um observador externo, como ‘fonte global‘ de informação, o ruído terá elevado a quantidade dessa informação…aumentando também, com mais mensagens possíveis, a “entropia” dessa fonte global. Atlan considera que este modelo encapsula um traço essencial da autorganização. Apesar de pouco evidente sua relevância, tal análise faz mais sentido ao considerarmos a definição que Atlan nos dá a respeito decomplexidade:

Complexidade exprime a informação que nos falta a respeito de um sistema… É uma desordem aparente…onde há razões para supor uma ordem implícita…ou, onde não se conheça seu código’ (se distinguindo          de “complicação“…nº de etapas por descrever ou criar um sistema)

Com esta definição de “Complexidade” (como a informação que nos falta, a respeito de     um sistema), fica mais fácil entender a importância que Atlan atribui ao seu modelo de ‘aumento de variedade através do ruído’. – O ruído alteraria o sistema, sem que soubéssemos como…o que significaria aumento de ‘complexidade’…ou ‘organização’Apesar de, aparentemente, as definições mais aceitas hoje em dia de complexidade, se enquadrem na definição de Atlan de complicação, a bem da verdade necessitamos de medidas de organização ‘objetivas’…isto é, não dependentes de um (único) observador.

“Auto-Organização e Complexidade” (Osvaldo Pessoa Jr.)  (texto base) **********************************************************************

Cientistas recriam organismo que teria vivido há 500 milhões de anos (2017)

organismo-alienEsta imagem (ao lado) é a escultura de um “Agnostus pisiformis“… – ‘artrópode’ há muito extinto de apenas 1 centímetro de comprimento, onde a precisão de detalhes anatômicos é creditada a uma preservação perfeita em xisto e calcário. Mats Eriksson (geólogo da Universidade de Lund…nos explica que: “Esse incrível grau de detalhe significa que… – podendo entender toda a anatomia do animal… — muito é revelado sobre seu meio ambiente, e modo de vida”.

“Fóssil índice”                                                                                                                                Como fósseis índices aparecem apenas num período                                                                      específico…são usados para datar camadas de rocha.

Este artrópode começava a vida como uma larva – e se desenvolvia até a idade adulta, perdendo e regenerando ciclicamente seu duro “exoesqueleto”. Seu corpo era protegido por 2 escudos parecidos com ‘conchas’. Pouco se sabe sobre o estilo de vida oceânico da criatura, mas provavelmente se alimentava de pedaços de matéria orgânica na água… É particularmente útil aos cientistas modernos, por ser o que se chama de…“fóssil índice”.

Esculturas & Exposição

Artistas dinamarqueses foram os que criaram as novas esculturas realistas. – O processo    foi minucioso e envolveu vários passos de modelagem, inclusive à mão, com argila e cera. A arte final foi feita com silício translúcido – cada uma do tamanho de um prato – muito maior do que as criaturas reais…o que torna mais fácil ver sua anatomia. Foram várias esculturas incluindo uma imitando o possível posicionamento do ‘artrópode’ nadando, uma versão fechada… para mostrar como seus “escudos exoesqueletais” poderiam lhe proteger… — e uma versão tal como a criatura apareceria sob um microscópio eletrônico.

Pesquisadores e artistas esperam que suas “criações”sejam exibidas em uma exposição itinerante sobre animais do mar cambriano“. – Neste período da “explosão cambriana”,  uma rápida diversificação da vida deu origem a uma série de…”criaturas estranhas”…por  todo planeta, numa infinitude de formas multicelulares de vida, num passado de mais de 485 milhões de anos. (texto base) consulta…Fósseis reescrevendo a evolução na Terra***********************************************************************************

Descoberta faz cientistas repensarem teoria sobre a origem da vida animal      Quando os animais se originaram?… Pesquisadores do Instituto Tecnológico de Tóquio (Japão)da Universidade de Cambridge (GRB)e da Universidade Northwest (China) podem ter descoberto a resposta para esta importante questão. – O estudo aponta para fósseis do “Período Cambriano”…de uma criatura marinha muito parecida a uma folha, chamada “Stromatoveris psygmoglena”. – À luz da nova evidência, algumas das ideias mais antigas sobre a… “evolução inicial”… dos animais — podem precisar ser revisadas.

evolucao-fossil-stromatoveris“Elo perdido”

O Período Ediacarano (635->542 milhões de anos atrás) é fundamental p/ entender a origem dos animais, pois ocorreu pouco antes da chamada “Explosão Cambriana”, há cerca de 541 milhões de anos…quando muitos dos atuais grupos de animais apareceram pela 1ª vez no ‘registro fóssil’.

Contudo, quando grandes fósseis doPeríodo Ediacarano foram identificados pela 1ª vez durante o século 20… – foram observados…identificados…e catalogados – “seres únicos”, semelhantes a folhas, que não pareciam ter ligações com qualquer animal vivo. Isto levou    a um dos maiores debates, ainda em curso, na área da ‘evolução biológica’…exatamente o que eram esses fósseis enigmáticos, frequentemente chamados de “biota ediacarana”?  Ao comparar tais membros — utilizando ‘análise computacional’ — a uma série de outros grupos animais – os pesquisadores do novo estudo descobriram que a“Stromtoveris psygmoglena fornece uma ligação crucial entre este período mais antigo e os animais que apareceram em número e diversidade surpreendentes ao longo do Cambriano.

Fósseis de Stromatoveris psygmoglena são encontrados em apenas um lugar do mundo:    o condado de Chengjiang na Chinaregião conhecida por abrigar fósseis cambrianos excepcionalmente bem preservados de 518 milhões de anos atrás… Enquanto o registro fóssil preserva sobretudo conchas duras ou ossos, alguns locais especiais…como este na China, conservam também restos de animais de ‘corpo mole’, como o agora encontrado.

Originalmente descrito em 2006…a partir de 8 espécimes conhecidas, a nova pesquisa examinou mais de 200 fósseis do organismo, achados por pesquisadores da Northwest University, e datados do Período Cambriano. Esses fósseis…recém-examinados, retêm tecido à base de carbono — o que permitiu uma análise detalhada de sua anatomia. As informações foram comparadas a de fósseis ediacaranos do tipo criaturas unicelulares como protozoários, algas e fungos empregando mais de 80 fotografias de espécimes fósseis individuais… – para confrontar ‘características anatômicas’ entre esses grupos.

A análise mostrou que o Stromatoveris psygmoglena e sete membros-chave da  ‘biota ediacarana’ partilham anatomias    bem semelhantesincluindo múltiplas ramificações do tipo algas marinhas…o      que une tais criaturas num novo grupo, chamado ‘Petalonamae’ (filo extinto do período Ediacarano, cujos membros se assemelhavam a folhas de samambaia).

Sendo agora os membros da biota ediacarana classificados como animais, podemos datar a origem do reino animal pelo menos ao momento do surgimento desses fósseis.    Os membros mais antigos do grupo são conhecidos comorangeomorfos(da ordem Rangeomorpha) e aparecem no registro fóssil há cerca de 571 milhões de anos — final        do ‘período Ediacarano’. Nesse caso, isso significa que as espécies animais estavam se diversificando bem antes da explosão cambriana…mas, também pode significar que a busca por origens animais precisa se concentrar numa época anterior…nos primeiros períodos geológicos ediacaranos – ou ainda antes. O estudo também tem implicações importantes para a ecologia e eventual extinção do filo Petalonamae. Muitas espécies ediacaranas não foram encontradas em rochas de épocas posteriores, levando alguns pesquisadores a pensar terem sido uma…“experiência fracassada na evolução” com        seu desaparecimento ao início do “Cambriano”…Porém, os novos fósseis descobertos alteram essa imagem sobre a…”biota ediacarana” – provando que os…”Petalonamae” sobreviveram por pelo menos mais de 20 milhões de anosno “Período Cambriano”.

Todas essas revelações significam que os pesquisadores precisam repensar várias de suas teorias sobre a…”evolução animal”. Apesar do fato dessas criaturas não possuírem partes duras, mais facilmente preservadas, mais de 200 fósseis de “Stromtoveris psygmoglena” foram encontrados, indicando ser essa espécie – importante membro de seu ecossistema marinho – em vez de um sobrevivente raro ou marginal. Tal conclusão poderia significar que os Petalonamae se adaptaram com mais sucesso às mudanças do período cambriano do que a ciência costumava pensar, ou que os animais do período Ediacarano eram mais avançados do que acreditávamos. A única certeza, por enquanto, é de que o reino animal que ocupamos hoje – de fatoé bem mais antigo do que supúnhamos. (texto base) 2018 

Sobre Cesar Pinheiro

Em 1968, estudando no colégio estadual Amaro Cavalcanti, RJ, participei de uma passeata "circular" no Largo do Machado - sendo por isso amigavelmente convidado a me retirar ao final do ano, reprovado em todas as matérias - a identificação não foi difícil, por ser o único manifestante com uma bota de gesso (pouco dias antes, havia quebrado o pé uma quadra de futebol do Aterro). Daí, concluí o ginásio e científico no colégio Zaccaria (Catete), época em que me interessei pelas coisas do céu, nas muitas viagens de férias ao interior de Friburgo/RJ (onde só se chegava de jeep). Muito influenciado por meu tio (astrônomo/filósofo amador) entrei em 1973 na Astronomia da UFRJ, onde fiquei até 1979, completando todo currículo, sem contudo obter sucesso no projeto de graduação. Com a corda no pescoço, sem emprego ou estágio, me vi pressionado a uma mudança radical, e o primeiro concurso que me apareceu (Receita Federal) é o caminho protocolar que venho seguindo desde então.
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