Breve panorama da prática filosófica no Brasil

Não por acaso, com a emancipação política, fomos invadidos pela cultura estrangeira, sem a menor condição de assimilá-la. – Em terras brasileiras, expressões da alta cultura, como ‘filosofia’… – tornaram-se … ao longo da história – um enredo mal digerido de influências.

joaquim nabucoAntes de mais nada – partimos do pressuposto de que não existe, em filosofia – “originalidade total”…todos pensadores emergem…da mesma “tradição filosófica ocidental pensando problemas específicos … próprios da sua época  e seu meio. A originalidade filosófica deve ser buscada aí — nas condições histórico-culturais peculiares que influenciam a maneira com que cada pensador reflete suas ideias – estando ele próprio condicionado por… ‘fatores subjetivos’ inerentes a todo ato humano. – Por essa razão, tratar desse tema é sempre algo ‘problemático’.

E, o primeiro desses problemas, que logo enfrentamosse refere ao critério do que é ou não filosofia. Como separar o joio do trigo?…Depois, nos perguntamos se…”originalidade”  é o único critério válido… ou exige-se também “profundidade” nos temas… – além de uma enorme erudição – ou mesmo se a… “chave da questão” … não estaria na enunciação de um novo problema – ou na solução definitiva e racional de alguns daqueles…insondáveis  problemas clássicos. Tais perguntas são feitas, para que a filosofiaquando do diálogo com a tradição, se ocupe de problemas atuais…lançando as bases de um futuro consciente.

No Brasil, muitos já se lançaram a essa tarefa, colaborando com respostas à velha questão: “Quem somos nós?”… e assim contribuíram para uma “cultura brasileira” mais consciente, e preparada. Jorge Jaime em seu História da Filosofia no Brasil  comenta que – a rigora filosofia no Brasil começa já na fase colonial, com a instituição do ‘governo-geral’ em 1549, e o desembarque da “missão jesuítica” no país… — dando início à construção dos alicerces fundamentais que viriam a moldar o florescer cultural…da nascente sociedade brasileira.  Todavia, a história da Filosofia no Brasil ainda é das mais obscuras, à espera de uma justa  sistematização. Não por acaso em suas bases repousa a caricatura pueril do medievalismo mais retrógrado e residual… – daquele Portugal – que…a partir do século 16 – até a época do Marquês de Pombal… – havia assimilado o lado mais reacionário da “Contra-Reforma” (nossa herança maldita), desprezando o que o Iluminismo renascentista tinha a oferecer.

A ‘fase colonial’ é marcada pelas influências da tradição filosófica e cultural portuguesa,     no esforço de civilizar uma “terra virgem e antropofágica“. Na ‘fase imperial’ a grande influência será o “positivismode Comte… – inspirador da nossa ‘Republica’… no lema “Ordem e Progresso”, como também o surgimento da escola de Recife; e a presença de pensadores do quilate de: José Bonifácio (1763-1838)Machado de Assis (1839-1908), Joaquim Nabuco (1849-1910) e Rui Barbosa (1849-1923). A partir da ‘fase republicana’, absorvendo influências – o Brasil entra na “onda desenvolvimentista“. (texto base)  *********************************************************************************

a 1ª missa-brasil.pngNossas origens jesuísticas

A Filosofia no Brasil não é um assunto muito falado fora dos círculos acadêmicos, e muitas vezes, nem dentro. Quando se fala em Filosofia se lembra de Sócrates, Kant, Nietzsche, Platão e Sartre…mas nunca    se fala em “filósofo brasileiro”.

Não creio que isso se dê por preconceito… ou por filósofos Brasileiros não exibirem trabalhos relevantes. – Acontece que a Filosofia… predominantemente – sempre            foi europeia…e, salvo os EUA raros foram, além daqueles…os países do Ocidente          que tiveram grandes…”filósofos universais. O que não significa que os filósofos brasileiros, ou a história da filosofia no Brasil, esteja em um nível a ser desprezado.  Estudar Filosofia é sempre, de certo modo, estudar história; e estudar a história da filosofia no Brasil abre caminho a muitas percepçõesque nos permitem entender            os rumos que o país tomou da época do…Descobrimento até os dias de hoje.

Portanto, com a Filosofia assim…tão intimamente ligada à história,              para entendermos suas origens, aqui no território brasileiro…antes              de mais nada precisamos conhecer o contexto de sua própria época.

No final do século 15…a Europa estava passando por grandes mudanças…que incluíam principalmente o ‘movimento Renascentista’, ‘Reforma Protestante’ e ‘Contra-reforma’.     A ‘Reforma Protestante’ foi um movimento liderado por Martinho Lutero que ia contra       o domínio do Catolicismo, ao criticar a hipocrisia dos líderes da Igreja na época. – Já a ‘Contra-reforma’ foi uma espécie de resposta da Igreja, tentando retomar o controle da situação – que, no entanto acabou não sendo muito bem sucedida, uma vez que outros fatores históricos contribuíam para uma sociedade mais desvinculada do ‘Catolicismo’.

Porém, enquanto o Renascimento ia deixando para trás a visão medieval, Portugal resistia à mudança, e foi lá onde a Igreja Católica encontrou um forte aliado da Contrarreforma. O monopólio do pensamento pela Igreja foi tamanho…que a partir de 1564 os professores de Filosofia foram obrigados a jurar obediência à fé católica. – A ação fiscalizadora do Santo Ofício, a catequese da Companhia de Jesus…e a ‘vigilância do Paço’ fixaram balizas ao ambiente do pensamento… reduzindo a liberdade… instituindo a censura… aumentando a intolerância, controlando e mutilando o conteúdo de livros…limitando o desenvolvimento filosófico e científico; e impondo o obscurantismo. – Em outras palavras, Portugal nadava contra a corrente das mudanças – tentando desse modo…manter seu ‘status quo’ colonial.

filosofia brasil 2

É neste ponto que o Brasil entra em cena…  —  nesse quadro econômico, político, religioso e cultural no qual se deram ‘descoberta’, ‘colonização’, e…desembarque inicial dos jesuítas no Brasil… – além dos aventureiros que vieram para cá a partir de 1500, chegaram também, em 1549, com o governador Tomé de Souza… os 1ºs religiosos da “Companhia de Jesus”.

A ideia da Igreja era não só combater a Reforma Protestante, mas conseguir converter outras nações ao redor do mundo ao Catolicismo – para ajudar na retomada do poder. Através da educação… buscavam a conversão dos indígenas à fé católica… e fundavam colégios que tiveram papéis relevantes… – na formação sacerdotal, na estruturação da educação formal e pública brasileira, no ensino das artes, literatura, ciência… religião,      na difusão da ideologia dominante… – e também… – nos rumos da filosofia no Brasil.

Note-se então, que a Filosofia aqui não começou como uma forma de livre pensamento; pelo contrário…atrelada à fé católica, o ensino jesuíta seguia os moldes da…”escolástica tomista” — com o…'”básico objetivo”…de converter os nativos daqui — ao “catolicismo”.

As “Reformas Pombalinas”                                                                                                  Fim da escravidão indígena; Fim das Missões; Índios como povo brasileiro;                    Expulsão dos Jesuítas; Extinção das Capitanias Hereditárias; Instituição da                    Derrama (1.500 Kg anuais); e Abolição da perseguição aos “Cristãos novos”.

As chamadas … “reformas pombalinas”, ocorridas em Portugal (1750/1777), por extensão… afetaram também o Brasil…  culminando na “expulsão dos Jesuítas”, e na tentativa de instituir nova visão de mundo…enquanto a difusão na Europa do Iluminismo‘, deixava Portugal para trás. – Assim…dissociada do “tomismo aristotélico” proposto pelo catolicismo,  embora não o substituindo de todo…se  introduziu na colônia uma outra “linha filosófica”gerando um período de alta turbulência social…e cultural no Brasil.

Durante a segunda metade do século 18 — a “Coroa Portuguesa” sofreu a influência dos “princípios iluministas”, com a chegada de Sebastião José de Carvalho ao ministério do governo de Dom José I. Mais conhecido como “Marquês de Pombal”se preocupou em modernizar a administração pública do país lusitano … ampliando ao máximo os lucros provenientes da ‘exploração colonial’; principalmente em relação à…’colônia brasileira’.  Este objetivo, porém, encontrava obstáculos nos Jesuítas…que ao catequizar os índios    na colônia (logo conhecida como Brasil) eram profundamente contrários ao objetivo do governo português em usar a mão de obra indígena, com base na falta de escravos, que      os colonos daqui, a princípio sofriam. Nessa ‘queda de braço’, os Jesuítas chegaram até      a apoiar os indígenas nativos…contra os colonos portugueses…estabelecendo-se então,  um conflito tamanho, que só foi resolvido, ao serem removidos os Jesuítas da equação.

E foi isso o que fez Marquês de Pombal; expulsou os Jesuítas da          colônia, e impôs uma reforma educacional…que abriu caminho                para a ‘Filosofia moderna’ … além de muitos outros problemas:

Marquês de Pombal queria modernizar a sociedade portuguesa…e sua ideia de modernização incluía – superar a visão ‘tomista-aristotélica’ da Igreja Católica,              para implantar aí… as ideias dos novos pensadores – que colocavam a “razão”              como o ‘princípio básico’ a ser seguido. Em outras palavras, a ‘visão iluminista’                  era a visão do progresso… – a visão que garantiria uma evolução econômica, e              riquezas sem igual à “Coroa Lusitana” (ou ao menos… assim pensava Pombal).

A mudança se consolidou no governo…e, a seguir, na sociedade, com a instituição de uma reforma educacional mais voltada para uma visão científico-naturalista. Isso se fez com a reforma na…”Universidade de Coimbra” – que incluiu o ensino das…”ciências naturais”. Nessa nova visão de progresso…os jesuítas eram um obstáculo…e por isso foram expulsos por Pombal, o que teve reflexos diretos na colônia brasileira. – As universidades e escolas, predominantemente religiosas, foram fechadas…quase que imediatamente, sendo criadas no lugar delas as… “aulas-régias” (aulas de disciplinas isoladas) — e… por consequência, “universidades” – que… normalmente – tinham o ensino de… “filosofia“… como base.

Porém ao contrário do que se poderia imaginar… o “ideal iluminista” não se sobrepôs nem substituiu a visão da ‘Igreja Católica’, pois a religião seguiu  influenciando bastante … a sociedade portuguesa. – Como consequência…a Filosofia trazida ao Brasil em seguida à expulsão dos Jesuítasnão foi uma filosofia puramente iluminista, e sim, uma mesclacom os ideais católicos; uma vez que…apesar da ausência dos Jesuítas no ensino…e uma pedagogia, mais voltada às ‘ciências naturais’ – a educação portuguesa ainda era profundamente influenciada pela Igreja — que não deixou de exercer seu poder dentro do governo Português – inclusive nomeando…”mestres” para ministrar asaulas-régias“. Neste período, a Filosofia no Brasil se tornou sinônimo de ciência, com a base da formação acadêmica constituída das “ciências naturais“… tendo por objetivo a transformação da…”classe sacerdotal”… – em… “agentes da modernização”.

A Filosofia perdia assim um caráter puramente abstrato, metafísico e moral, para assumir como princípio a atuação prática. Mas é importante ressaltar que as reformas pombalinas,  resultando em uma completa destruição do modelo de ensino Jesuíta (catequizador…mas bastante eficiente) trazem como consequência à colônia um ensino fragmentado…carente de métodos definidos. – Dessa forma… diferente do resto da Europa, a Filosofia no Brasil acabou se tornando…”bipolar” – por um lado, ainda tinha muita influência da fé religiosa, e por outro, tinha nas ciências naturais a confiança de um futuro brilhante. Tal fenômeno criou raízes profundas na sociedade…com ecos no sistema educacional brasileiro até hoje.

Silvestre Pinheiro Ferreira, filósofo e político português, que acompanhou a família real na vinda ao Brasil, foi quem introduziu o empirismo no país…inaugurando um movimento de reação “antiescolástica”, reinterpretando Aristóteles com base no empirismo. Mas, mesmo com a introdução do ‘Iluminismo’, faltava ao pensamento filosófico brasileiro aquela que é a base do…”ideal libertário”. Algo que só ocorreria com a vinda doPositivismode Comte.

O Positivismo chega ao Brasil                                                                                               A influência do positivismo no Brasil consolida a estruturação da 1ª corrente filosófica brasileira, numa época em que o país lutava para, mantendo suas tradições, se alinhar ao espírito da época – na possibilidade de consolidar um pensamento realmente livre”.

PositivismoO século 19…trouxe para o Brasil… o “Positivismo” visão elaborada por Augusto Comte. O mais interessante desta visão…é considerar as ciências naturais…e a razão não como uma força que leva a sociedade adiante, e sim…”instrumento” para a mudança socialComte pensava que a ciência só tinha valorpara a construção de uma sociedade … mais desenvolvida. 

Como consequência, para o pensamento brasileiro… pela 1ª vez, podíamos enxergar uma filosofia que não fosse fundamentado num…“conhecimento acabado” – para ser repetido pelas próximas gerações. Nem a filosofia Jesuíta (metafísica e abstrata) … nem a filosofia (tecnicista) da ‘Reforma Pombalina’ proporcionavam um ‘pensamento independente’, ou uma visão de mudança social. – Com o “positivismo”… os pensadores brasileiros viram a oportunidade de se livrar do ‘ensino eclesiástico’… e serem donos de suas próprias ideias.

O professor de matemática e positivista Benjamin Constant achava que o ensino primário deveria, além de formar para as escolas superiores, também ser um preparador; com isso, decretou uma reforma, que consistia na gratuidade, liberdade, e laicidade do ensino. Mas, no fim das contas a reforma fracassou…e de concreto, só se adicionou o ‘ensino científico’ às disciplinas tradicionais…mantendo-se a… “esquizofrenia” – de uma ‘estrutura bipolar’.

O Ecletismo Espiritualista                                                                                                      O objetivo básico dos pensadores era conciliar o que consideravam verdadeiro                  em todos os sistemas… tomados como manifestações parciais de uma verdade              única e ampla – em que tudo o que não era contraditório entre si … era válido.

Mas, não era só de Positivismo que vivia a filosofia brasileira da época…A mescla que já ocorria entre uma filosofia metafísica…e aquela com viés iluminista, acabou dividindo a filosofia brasileira em 2 correntes principais…uma “Positivista”…e outra “Espiritualista”.  O ‘ecletismo espiritualista’ foi a 1ª corrente filosófica rigorosamente estruturada do país.  O processo de formação da corrente eclética abrange aproximadamente o período entre 1833 a 1848. Esta corrente…fundada por Salustiano Pedrosa e Gonçalves de Magalhães,    a partir do ecletismo francês, visava superar a dicotomia ‘religião/ciência’ da época, por meio de uma convergência entre as correntes do…’naturalismo‘…e ‘espiritualismo‘.

Os principais temas desta corrente filosófica eram consciência e liberdade… assuntos deixados de lado pelos empiristas durante o século 19. A filosofia de Victor Cousin, que inspirou a fundação dessa ‘filosofia’ – foi quase sempre combatida como superficial em outros paísesmas, tanto no Brasil como em Cubafoi recebida com grande entusiasmo.

A Filosofia brasileira no século 20                                                                                        A partir do século 20, com o advento da República, transformações profundas criam        um novo país… – o que leva…mais uma vez… a ‘Filosofia brasileira’ a se transformar.

mosteiro-de-sao-bento-antiga

Com a ‘queda do império’… e com a instauração da República…em 1889, a busca por uma sociedade racional, tornou-se ‘meta prioritária’ da ‘elite intelectual’ no Brasil. O surgimento de novos centros urbanos… – polos industriais… traz um forte processo de desarmonia entre campo/cidade.

E a Filosofia prossegue… — de uma forma diferente de seus primórdios, mas, ainda repleta de muitos vícios.

No ano de 1908, em São Paulo, foi fundada a “Faculdade de Filosofia e Letras São Bento“, com uma ‘orientação’ puramente “neotomista“. Nesse período também surgiram novos livros de ensino da filosofia, quase todos com orientação católica. A partir de 1914, com a 1ª Grande Guerra, acentuou-se um inédito sentimento patriótico…É nesse momento que outras modalidades do pensamento europeu, então já representados no Brasil, começam    a concorrer mais seriamente … com a até então relevante “filosofia positivista” de Comte.

Mas é a Sociologia que, aos poucos, toma conta do meio cultural. Começam a surgir obras com preocupações sociológicas. – O Brasil se descobre como um país cuja inteligência funciona melhor, resolvendo problemas práticos.

Outra contribuição importante foi a formulação do ‘método culturalista‘ na abordagem dos autores, ou seja…antes de identificá-los como membros de uma determinada corrente, era necessário saber qual a problemática que os preocupava… – a fim de construir a trilha seguida por seu pensamento. Isso permitiu ao pensamento brasileiro compreender-se a si mesmo, superando o vício da “Filosofia Apologética”, que apenas promovia o pensamento de outros filósofos… sem a capacidade de produzir o seu próprio conhecimento…e cultura.

Estado+Novo+e+as+Leis+orgânicas+do+ensino

A partir do ano de 1930, houve mais 2 reformas que mudaram a educação do Ensino Médio brasileiro. A primeira se deu em 1931…e determinava que a educação visasse não apenas à matrícula ao ‘nível superior’… mas também à formação para todos os setores profissionais.  A 2ª reforma…que aconteceu em 1942, foi a Lei Orgânica do Ensino Secundário que  dividiu o ensino básico em 2 ciclos: o ‘ginasial‘, cursado em 4 anos e o ‘colegial‘…em 3. O colegial ainda subdividia-se em científico e clássico. – O científico visava ao ensino das ciências; já o clássico previa uma carga horária de 4 horas semanais para “Filosofia”.

No ano de 1961, um marco de grande valia foi a edição da  Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, resultado de inúmeros debates e lutas ideológicas entre políticos e educadores da época. – A Filosofia foi sugerida como disciplina complementar, perdendo assim, a sua…”obrigatoriedade curricular” – na grade do “sistema federal de ensino”.

“Ditadura Militar”: A época perdida da Filosofia no Brasil

cara-da-coruja-b7b36No ano de 1964…os militares tomaram o poder para prevenir a (suposta) ameaça comunista, e o que era para ser um intervenção – acabou se consolidando em uma ditadura … que, por não combinar com pensamento livre fez com que a base da Filosofia fosse banida dos currículos… tornando-se inicialmente facultativa. Algumas disciplinas de ‘ciências humanas’… — também sofreram restrições. A educação…se voltava assim, ao serviço dos…’interesses econômicos’.

A “expansão econômica”, impulsionada pela chegada do capital estrangeiro, e acobertada pelas beneficies da proteção do ‘governo militar’ contribuíram para a extinção da filosofia do currículo das escolas… A educação da época acabou exercendo um papel ‘ideológico‘, pois foram impostos “valores culturais estrangeiros”… – como modelos a serem seguidos na educação brasileira. O modelo educacional se tornava “tecnicista“, e “burocrático“.

O intuito do governo era formar pessoas que executassem automaticamente ideias de fora, e não pessoas conscientes e críticas. – A Educação passou a ser tratada então … como uma questão desenvolvimentista, de segurança nacional. A Filosofia… assim considerada como ‘desnecessária’ às novas diretrizes do sistema…aos poucos foi desaparecendo. Até que, em 1968, o regime militar tornou-se mais rígido, com professores cassados e perseguidos por “pensamentos políticos”… além de inúmeras outras arbitrariedades… contra estudantes,  e instituições de todo tipo. – E, em 1971… a Filosofia é banida por completo dos currículos.

Lei+de+Diretrizes+e+Bases+(1971)

A reforma de 1971, conseguiu conduzir o ensino público de “nível médio” – a uma profunda ‘crise de identidade’… – que se prolonga até hoje: pouco profissionaliza, não prepara ao ingresso na universidade e não possibilita uma ‘formação humana e social’ integrada ao aluno…Pela ‘Lei de Diretrizes e Bases’…imposta por decreto, o ensino de “Filosofia” ficou ‘facultativo’, substituído por… ‘doutrinas ideológicas’, tais como… “Moral e cívica”… e, “OSPB”.

A Filosofia assim, rejeitava a formação do espírito crítico, assumindo o papel de geradora de ‘status social’ de ideias pré-fabricadascom uma função meramente ideológica. – Sua condição política constituía-se em acrítica e ornamentalcom uma teoria muito longe da prática, repetindo “doutrinas obscuras”… Esta “fase perdida” da Filosofia no Brasil, iria durar até o fim do regime militar…com a matéria ‘Filosofia’ só voltando a ter sua inclusão recomendada nos currículos escolares em 1986, depois da volta do ‘governo democrático’.

Um novo Brasil… (começa do Zero?…)                                                                                      Com a ‘abertura política’ (reflexo da anistia), tudo o que se passou antes e durante o regime militar, ficou para trás… e assim o país recomeçou. – Dentro dessa perspectiva, podemos dizer que o Brasil, ainda hoje, está aprendendo a“andar com suas próprias pernas” – tendo o“pensamento moderno”… – de volta ao…cenário contemporâneo.

O advento de tecnologias como computadores…e internet, com suas “redes sociais“, muito têm contribuído para transformar a ‘cara’ do Brasil. – E aí uma nova produção filosófica se destaca… por ser mais que a continuação do que antes havia sido interrompido – ela surge com características novas, se mesclando às disciplinas de ciências humanas, se envolvendo no contexto social e político… – iniciando, aos poucos … a proposição de uma – verdadeira “filosofia intelectual”(sem ser demasiado ‘abstrata’), e “popular” (sem ser ‘reducionista’).

A Cultura Filosófica atual 

um-sentido-para-a-vidaA cultura filosófica brasileira; assim como a cultura do país como um todo, está bastante diversificada – inserindo-se aí… pensadores resistentes à tradição metafísica clássica, na perspectiva de compreender a “realidade”. Destes — destacam-se os… “neotomistas”. Outro grupo de expressão…cujo objetivo é a compreensão da realidade além do domínio positivista, são os…“filósofos analíticos”

Numa 3ª vertente estão os autores de natureza ‘epistemológica‘ ocupados em discutir    a própria especificidade do ‘conhecimento científico’ … não só em seus aspectos formais, mas também suas condições objetivasNesta vertente (“neopositivista”) estão Leônidas Hegenberg, Miltom Vargas, Oswaldo Porchat, Luís Peluso, Michel Ghins, Zeliko Loparic.    A vertente transpositivista reconhece a autonomia e a relevância da ciência…sem no entanto, isolá-la das outras atividades humanas. Nesse contexto, a filosofia da ciência por não ater-se apenas às… “condições lógico-formais” do conhecimento… em virtude da sua inserção histórico-social na própria ciência, implica também “condições axiológicas“. É a linha do “racionalismo científico” de Gaston Bachelard, Thomas Kuhn… e Piaget.

Mais uma vertente, abrangendo por aqui grande nº de pensadores, é a ‘neo-humanista’, que tem no filósofo jesuíta Cláudio de Lima Vaz seu representante maior…Atribuindo a “tarefa antropológica” como papel filosófico fundamentale, transitando por toda uma tradição filosófica – ele traz latente em seus escritos o…despertar de uma condição da existência humana…ancorada no seu ‘contexto real histórico’; com ênfase nos direitos humanos. Dessa forma, Claudio de Lima almeja uma vida ética“…onde seja possível        a plena realização da humanidade, dentro dos conceitos de liberdade, verdade e justiça.

Outros importantes pensadores brasileirosdo existencialismo neoliberal ao marxismo, são José Guilherme Merquior, Luiz Felipe Pondé, Mangabeira Unger, Sérgio P. Rouanet, Bento Prado Júnior, Paulo Freire…Leandro Konder…Marilena Chauí…José A. Giannotti, Carlos Nelson Coutinho, Aluísio Ruedell… e Alino Lorenzon. Além desses, recentemente criou-se um grupo de pesquisadores em torno de uma reflexão ética a partir da “filosofia dialógica” de Martin Buber & Emmanuel Levinas; são eles Ricardo de Souza, Luiz Carlos Susin, Pergentino Pivattoe Antonio Sidekum. — Não esquecendo também do grupo de pensadores ligados à ‘fenomenologia’, com um significativo número de pensadores se desdobrando em várias correntes… Uma, com inspiração em MerleauPonty…e outra sob forte influência existencial de Sartre Heidegger; esta representada por Ernildo Stein…Dulce Critelli…Gerd Bornheim…Emmanuel Carneiro Leão, e…Luiz Carlos Maciel.

Um outro grupo de filósofos – de uma corrente chamada…‘arqueogenealogia’…tem como autor fundamental Rubem Alves. — Nesse grupo estão concentrados pensadores  com influências psicossociais de Foucault — e referênciasaxiológicasde Nietzsche.        Por fim, mas não menos importante, temos o grupo de Leonardo Boff, criador do IFIL (Instituto de Filosofia da Libertação), ocupando-se com estudos filosóficos na América Latina, incluindo as temáticas da “mitologia indígena”, cultura ‘afro-latino-americana’, ética, cidadania, e “multiculturalismo”. p/consulta A ideia de filosofia no Brasil(2011)  *********************************************************************************

Filosofia: racionalidade & mistério                                                                                      Filosofia é igualmente, síntese e unidade. Não síntese amorfa, indiferenciada,                    mas orgânica e processual, onde o todo não acarreta predomínio avassalador,                mas, representa a… “coimplicação harmônica”… de peculiaridades intocáveis.                      A filosofia é racionalidade até mesmo, quando o filósofo expressa o… papel          fundamental das forças emocionais/intuitivasIsto porque filosofia também                        é linguagem…ou, ao menos…tentativa de…’expressão rigorosa’, traduzida em                        verbo ou símbolos, daquilo que a experiência oferece de essencial, duradouro.

abaporu-tarcila-do-amaral

“ABAPORU” (Tarcila do Amaral)

Toda vez que a humanidade entra em…’crise’, insistem os filósofos em apontar para a única via que resiste ao emaranhado das doutrinas: uma renovada busca daquele ‘essencial’…que assinala uma “constância” – no torvelinho da ‘contingência’ das transformações repentinas.   

É inegável quenessa procura da nitidez dos conceitos, a ‘intuição‘ exerce uma função de destaquena qual uma verdade pode brilhar, ao amanhecer das pesquisas, influenciando o ‘processo analítico’. Porém, se esta…’intuição original’ não se desenvolve, no progresso das ideias — nem se insere numa ordem racional, não sendo “fecundada” pelo poder sintético e ordenador da ‘razão histórica’, nada significa.

“Filosofia plural”                                                                                                                        A partir da surpresa e perplexidade iniciais – desde a intuição das perguntas, até à              maturidade das respostas, desdobra-se o caminho do filosofar… que, no entanto, a          todo instante se enriquece de…novas intuições – exigindo reformulações racionais contínuas, numa polaridade dinâmica entre o pensamento, e a ‘realidade pensável’.

Manda a verdade que se reconheça vivermos num mundo de problemasimerso em mistériosTalvez se possa dizer; ser o mistério que condiciona os problemas. Assim,      não bastará dizer que – à medida que avançamos na solução de problemas – surgem      novas perguntas. Note-se que esse…mundo de problemas… não se refere apenas ao ‘plano empírico’ das ciências físico-matemáticasmas também aos (problemas) que          se situam no ‘plano transcendental’ da…”teoria do conhecimento” – pois tanto neste,      como naquele — impõe-se estudar a correlação entre sujeito e objeto…pensamento e realidade… – nos amplos horizontes em que se desenvolve a “atividade cognoscitiva”. Quem põe um problema, enuncia uma hipótese, sempre fundada em dados que, ao menos representam um esquema provável do real, explicado e entendido, como algo        de ‘objetivo’, ou “objetivável” – sob relações causais, funcionais, e proporcionais…ou,        em se tratando de… “ciências culturais” – de acordo com… “conexões de sentido“.

O mistério, ao contrário, é o absoluto, e o ‘ab-solutus’ como tal supõe-se fora do âmbito ontognoseológico, permanecendo irredutível às correlações entre sujeitoe o objeto do conhecimento. A ele só nos referimos como o ‘pressuposto lógico da problemática total’.  Se conhecer é sempre conhecer…de algo, alguma coisa, e se jamais nosso conhecimento logrará abranger a ‘plenitude do real’ – aberto sempre a novas perguntas – é necessário concluir que o ‘imponderável’ do conhecimento…por falta de adequação entre o ‘sujeito cognoscente’ e o ‘objeto cognoscível’, é o condicionamento em que a esfera do saber se supõe imersa, e também a razão do caráter histórico-dialético do processo cognoscitivo.

Perspectivas da Filosofia no Brasil                                                                                    Na história cultural, aquilo que condicionou certa receptividade no próprio                      modo pelo qual fomos influenciados — poderá significar… algo de singular.

Se a filosofia é universal nem por isso deixa de receber as influências do meio em que vive o filósofo tanto pelo conteúdo ideológico como por formas expressionais. Assim, quando um povo começa a… “filosofar racionalmente” expressando seu sentir e querer,   mostra a si mesmo e ao mundo, que está atingindo a maturidade de sua autoconsciência. Poderá alguém, no entanto perguntar:  “Mas, se a filosofia brasileira tem sido um rosário de influências espelhando o pensamento alienígena, como então pensar algo de próprio?”

Já revelamos nossa arquitetura, já afirmamos nosso romance, já vivemos altos momentos poéticos, e já possuímos uma nobre ‘tradição jurídica’. Estamos agora no Brasil, em busca da afirmação integral do nosso “ser histórico”. – E, com o esforço da ‘abstração filosófica’, quanto mais superarmos o acessório e contingente – mais captaremos a realidade em sua essência e concretude – apreendendo o significado efetivo das partes no todo, e o do todo em relação às partes. Do texto: ‘A Filosofia como Autoconsciência de um Povo’ (M. Reale)  **********************************************************************************

“FILOSOFIA BRASILEIRA(uma ‘filosofia autêntica’ … voltada para a vida) jul/2008  Antes de abordar o tema filosofia brasileira…penso ser primordial dizer o que penso ser a filosofia. Filosofia, ao meu ver é uma forma de vida, de existência, que tem por meio o conhecimento (teórico), e finalidade…a prática cotidiana. Ou seja, filosofia é um modo de existência que tem por mediação o conhecimento histórico atual, teórico e prático, com o único fim de transformar a realidade; visando a reprodução da vida, e denúncia da morte.    cobras

Dada a definição de filosofia como meio de transformação social…historicamente… não se conhece um só filósofo ileso em seu pensar, que não tenha sofrido criticas, perseguições, e muitas vezes vitimado por sua própria filosofia… Quanto mais fora do ‘sistema vigente’…e contraditórias suas afirmações … maior parece ser sua “recompensa filosófica”... Sócrates bebeu cicuta, Cristo foi crucificado, muitos medievais morreram pela ‘Inquisição’…alguns modernos com privações sociais/mentais — e ainda hoje a liberdade de pensar é perigosa.  E o que faziam os clássicos Sócrates, Platão, Aristóteles e todos os que vieram antes deles, inclusive os egípcios, mesopotâmios, passando pelo mundo medieval e modernidade? E o que tem feito a “filosofia autêntica”… se não utilizar o conhecimento ‘teórico-prático’ para transformar para melhor a sociedade? Melhor qualidade de vida, nas relações individuais, melhor interação como sujeitos…de si…entre si, compartilhando a natureza e a sociedade.

Sendo viver a vida, a finalidade última de todo ser…’O Ser humano é ser para a        existência… – Isso pode parecer óbvio… mas tratar do óbvio, parece ser uma das funções da filosofia… – Todavia, a filosofia é universal, indo do particular ao geral.         E, se o particular é em âmbito local – sempre partindo da ‘experiência concreta’ do filósofo… o universal último da filosofia tem como fim a vida, em oposição à morte.

filosofiaPressupor uma…”filosofia brasileira…é pensar antes de tudo em uma…ética, dando conta de 2 momentos: negativo e positivo… Negativo, enquanto recusa da identidade eurocêntricaimposta a nós numa assimilada filosofia brasileira pré-histórica. E positiva… como propositora  de caminhos que reproduzam em multi- dimensões…uma vida mais digna…num profícuo diálogo com a…”euro-tradição”.

Portanto…agora que estamos conseguindo, ao menos gritar que somos tanto quanto eles, não podemos ignorar nossa constituição e “querer dar o troco”, simplesmente ignorando-os; pois repetiríamos o erro ontológico que eles cometeram. Ao contrário, podemos dizer-lhes…vocês erraram, e nós poderemos errar em outras coisas, mas não nisso. Permitindo assim, a “alteridade” em nossa filosofia – acredito que o diálogo com a tradição filosófica eurocêntricanuma forma ética, seria reconhecer os resultados positivos, e assim tentar avançar, a partir deles, na resolução de nossos problemas. Hugo Allan Matos (texto base)   ***********************************************************************************

A busca por uma “filosofia própria” (Wallece José Silva Lima) mar/2021                      Há uma “filosofia brasileira”?…É possível falar numa filosofia feita genuinamente no Brasil?… Estas perguntas moveram as breves e modestas considerações feitas abaixo. Porém, antes de aprofundarmos nas questões supracitadas, é necessário, mesmo que brevemente, tentarmos estabelecer…na história, uma relação entre Nação e Filosofia.

Machado,De,Assis,(1897-1908)novelist,,Short,Story,Writer,,Poet,,Literary,Critic.empireA formação dos “Estados Nacionais”…um  dos marcos fundamentais da…’modernidade’, ajudou a transformar a identidade cultural do Ocidente. Longe da Igreja Católica: ‘princípio medieval unificador’, símbolo institucional da formação social europeia, o homem ocidental adquire um novo senso de orientação – e uma nova forma de…”consciência” – a constituição do Estado e da Nação, como representantes, e guias da culturada qual o cidadão pertencia. Nessa época, o homem medieval dá espaço ao indivíduo…identificado a um Estado-Nação.

Outro traço fundamental da transformação social citada, a filosofia mesma, sofre uma mudança no seu repertório de interesses e volta-se a problemas específicos, tais como:        o processo subjetivo do conhecimento – a natureza social do homem – a finalidade do Estado etc. Mediante processo gradual, esta nova prática filosófica – escrita em língua nacional – ajuda a formar os…”traços característicos” de cada povo. – E assim, o novo  repertório de perguntas-problema, e a consolidação do Estado e da Nação como guias  culturais, fizeram da filosofia uma técnica idiossincrática responsável por expressar o “popular”; e desse modo surgia um modo francês, alemão, inglês…de se fazer filosofia.

No mundo contemporâneo…após o horrível fenômeno das guerras mundiais … novas dinâmicas globais ergueram-se contra o exacerbado nacionalismo moderno, diluindo          as identidades nacionaisem padrões de comportamento globalizados – as tornando membros de uma comunidade globalà medida em que as fronteiras entre as nações desaparecem…e novos paradigmas desconstrucionistas surgem. Nascem assim novas teorias contemporâneas como uma tentativa de reconsiderar o trajeto histórico — até    aqui percorrido pelo homem ocidental. – Todavia, há um paradoxo muito próprio do mundo atual…Simultaneamente à criação de uma forma global de comportamento, o homem contemporâneo, abrindo mão da possibilidade de uma universalidade do Ser (objeto máximo da filosofia) faz do…exercício do filosofar…uma atividade cada vez    mais regional; as filosofias alemã, inglesa ou francesa tornam-se áreas especializadas        do pensamento ocidental, pertencentes a 2 grandes blocos…’Analítica’ e ‘Continental’.

Contudoo traço marcante da modernidade deixou sua marca indelével – a filosofia ainda parece apresentar-se como uma tradição europeia, que expressa o espírito europeu. Diante desse cenário, lanço uma pergunta: a filosofia é um produto limitado a expressar o espírito de um povo?… Em caso afirmativo… há alguma característica fundamental na história da filosofia no Brasil … que nos permite reconhecer uma filosofia propriamente brasileira?

A filosofia no Brasil (lidando com problemas universais)                                            Dentre vários outros autores que se debruçaram sobre essa problemática, podemos mencionar Jorge Jayme, Fernando Arruda Campos, Julio Cabrera, e Antônio Paim.

Stanislavs Ladusans.

Stanislavs Ladusãns (1912-1993)

Pesquisar a cerca da “atividade filosófica” no Brasil, levou o filósofo Stanislavs Ladusãns a organizar sua obra “Rumos da filosofia atual no Brasil em auto-retratos” livro contendo ensaios autobiográficos de diversos filósofos brasileirosexpondo, em linhas gerais, seus variados itinerários filosóficos e existenciais.

Dentre os que colaboraram com o ‘projeto’: Leonard Van Acker – Henrique Cláudio de Lima Vaz, Mário Ferreira dos Santos, João Camilo de Oliveira Torres…e Miguel Reale.

Ladusãns, adepto da corrente fenomenológica, permitiu que a filosofia brasileira se apresentasse por si só. Ao fim do trabalho, o filósofo deixou-nos um juízo acerca da problemática envolvendo a busca por um traço genuinamente brasileirona práxis filosófica, elencando para isto 3 características próprias de uma ‘filosofia brasileira’:

Em primeiro lugar, embora o Brasil não tenha produzido um sistema filosófico totalmente original; dependendo assim de sistemas filosóficos tradicionais já consolidados filósofos brasileiros buscam estabelecer um diálogo entre a ‘tradição filosófica’e problemas atuais do país. Surgem daí… interpretações originais…e até mesmo heterodoxas…das tradições filosóficas ocidentais. Em segundo lugar, filósofos brasileiros, utilizando-se de “sistemas filosóficos” consolidados na Europa e EUA – adquirem uma visão da dinâmica da filosofia, por uma ‘ótica externa’. Esta posição de observador, nos permite desenvolver um inovador senso crítico em relação àquilo que se discute noutros paísesEm terceiro lugar, o filósofo brasileiro possui uma visão mais humanista e pluridimensional das…’questões filosóficas. Tal percepção provém…dentre vários outros fatores, da consciência dos problemas sociais, culturais e econômicos do Brasil. De modo geral, o filósofo brasileiro não faz uma filosofia, tomada à parte dos problemas reais do país…Assim, para Ladusãns, não existe um sistema filosófico brasileiro, mas sim, uma forma genuinamente brasileira de interpretar filosofia.

Estes pontos – que caracterizam a forma brasileira de lidar com os problemas filosóficos, na realidade … talvez revelem uma crise na forma moderna — e também contemporânea, de enxergar a filosofia. Desde a ruptura entre modernidade e o mundo clássico – ruptura sobretudo com as instituições que salvaguardaram o Ser que conduziu a filosofia durante séculos, o projeto inicial da Filosofia diluiu-se em problemas regionais até ser totalmente esquecido. A ciência do ser enquanto ser, e dos problemas referentes ao ser enquanto ser, que foi delineada por Sócrates, Platão. e Aristóteles…e consolidada por uma tradição que Leibniz denominou…”filosofia perene”, é a ciência acerca das “possibilidades universais”.  Enquanto “problema metafísico”, o ser é a possibilidade de existência de cada ente nesse mundo. E… é a existência do ‘ser’ que possibilita o conhecimento humano…porque só há conhecimento daquilo que afirma ‘presença’. Enquanto as demais ciências se ocupam da significação da verdade no tempo, a filosofia preocupa-se com a condição universal da possibilidade de uma verdade. – O exercício do filosofar, por ser um problema universal, não se enclausura em uma nação, sociedade, povo…ou reino…“A filosofia é serva do Ser”.

Tendo em vista essanatureza filosóficanão seria exagero afirmar que a atividade filosófica no Brasil…ao manter sua ligação com a tradição filosófica clássica…está mais      ligada ao “fio do ser” da filosofia perene…do que inicialmente aparenta. – Não há, pois,      uma filosofia nacional ou regional; o que há é o desafio de criar um modo particular de lidar com problemas universais‘. E há no Brasil grandes filósofos para tal. (texto base*****************************(texto complementar)*******************************

ABOLICIONISMO (Monarquista & Republicano)                                                            O século 19 foi marcado pela pressão inglesa no Brasil pelo fim dotráfico atlântico“, intensificando ainda mais a luta pelo fim da escravidão…sobretudo na 2ª metade do        século. Mesmo assim, muito antes da Lei Áurea (13 de maio de 1888), já havia a luta          de homens e mulheres…para consolidar o fim deste regime de trabalho e exploração.

Joaquim_NabucoJoaquim Nabuco (1849-1910) foi um político, diplomata, historiador, jurista, orador e jornalista brasileiro formado pela Faculdade de Direito do Recife. Foi um dos grandes diplomatas do Império do Brasil (1822-1889), além de orador, poeta e memorialista. Além de O AbolicionismoMinha Formação figura como uma importante obra de memórias, onde se percebe o paradoxo de quem foi educado por uma família escravocrata, mas optou pela luta em favor dos escravos. Nabuco diz sentir “saudade do escravo” pela generosidade deles, num contraponto ao egoísmo do senhor. “A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil”, sentenciou.

Joaquim Nabuco se opôs de maneira veemente à escravidão, contra a qual lutou tanto por meio de suas atividades políticas e quanto de seus escritos. Fez campanha contra a escravidão na Câmara dos Deputados em 1878 (não foi reeleito em 1882), e em legislaturas posteriores, quando liderou a bancada abolicionista naquela Casa, e fundou a Sociedade Antiescravidão Brasileira, sendo responsável, em grande parte, pela abolição da escravidão no Brasil, em 1888.

Nabuco defendia um liberalismo social próprio que mesclava diversas concepções: “A filosofia política nabuqueana, em seu pensamento social e não só político e institucional, veio do liberalismo neo-girondino da juventude ao socialismo agrário de Henry George, passando pelo socialista quarante-huitard Louis Blanc e o liberalismo social neo-whig de Gladstone. Liberdade e igualdade mais a solidariedade do cristianismo social e liberal do seu tempo”. Nisso, após a abolição da escravatura, ele propunha uma socialização de terras defendendo a doutrina do georgismo, da qual afirmou: “esse novo Evangelho da Democracia socialista anglo-saxônica”.

Nabuco era um monarquista e conciliava essa posição política com sua postura abolicionista. Atribuía à escravidão a responsabilidade por grande parte dos problemas enfrentados pela sociedade brasileira, defendendo, assim, que o trabalho servil fosse suprimido antes de qualquer mudança no âmbito político. A abolição da escravatura, no entanto, não deveria ser feita de maneira ruptúrica, ou violenta, mas assentada numa consciência nacional dos benefícios que tal resultaria à sociedade brasileira. Também não creditava a movimentos civis externos ao parlamento o papel de conduzir a abolição. Esta só poderia se dar no parlamento, no seu entender. Fora desse âmbito cabia somente assentar valores humanitários que fundamentariam a abolição quando instaurada.

Muitas vezes o “abolicionismo” é diretamente associado ao “republicanismo”tendo em vista que debates sobre modelos de governo já eram de domínio público. Porém, ao final do século 19, havia tanto monarquistas quanto republicanos lutando pela causa da ‘abolição’ no Brasil. Havia aqueles que defendiam a ‘abolição gradual’com indenização aos proprietários de escravos, mas também havia os que lutavam por uma “reforma social”…ou seja, “democracia rural”, que deveria combater o “latifúndio“, distribuindo terras, para então promover uma “reforma agrária”…fomentando a educação dos libertos…e dando assim condições de vida para novo mercado de trabalho.

André Rebouças (1838-1898) nasceu na cidade de Cachoeiraregião do Recôncavo Baiano“. Apesar do preconceito racial, seu pai…mulato, foi um homem importante e de prestígio na época. Autodidata, obteve o direito de advogar em todo o País; representou      a Bahia na Câmara de Deputados por várias legislaturas…tendo sido também secretário      do Governo da Província de Sergipe; e conselheiro do Império. André… em fevereiro de 1846… mudou-se com a família para o Rio de Janeiro — sempre com ótimo rendimento escolar – até ingressar, em 1854, na Escola Militar. Bacharelou-se em Ciências Físicas e Matemáticas, em 1859… na Escola de Aplicação da Praia Vermelha – obtendo o grau de engenheiro militar, em 1860. Ganhou fama no Rio de Janeiro, então capital do império,      ao solucionar o problema de abastecimento de águatrazendo-a de mananciais fora da cidade. – Em 1871, André e seu irmão Antônio…também engenheiro…apresentaram ao Imperador D. Pedro II o projeto de uma estrada de ferro … ligando a cidade de Curitiba,    ao litoral do Paraná. Quando da execução do projeto…o trajeto foi alterado para o porto      de Paranaguá. Esta obra ferroviária…até hoje se destaca, pela ousadia de sua concepção.

Defensor da democracia rural e da monarquia, como engenheiro, Rebouças desenvolveu diversos serviços ao Império Brasileiro. Negro…neto de escrava com português — foi um importante ator na luta pela abolição da escravatura no país. Com a abolição, também se deu a queda do império e, assimem 1889, juntamente com a família imperial, ele vai para a Europa. Por 2 anos permanece exilado em Lisboa…como correspondente do “The Times” de Londres. – A seguir, transfere-se para Cannes, onde lá permanece até a morte de D. Pedro II, em 1891Em 1892, trabalha em Luanda, por 15 meses; e a partir daí, vai residir em Funchal, capital da Ilha da Madeira, até sua morteno dia 9 de maio de 1898. 

luiz gama_1880Nascido em Salvador…Luiz Gama (1830-1882) era filho de uma escrava liberta com um descendente de portugueses. Com 10 anos, seu próprio pai o vendeu como escravo; sendo então mandado para São Paulo. Conseguiu a ‘alforria’ aos 17… ainda analfabeto. Sem nunca ter tido aulas formais – mas provavelmente, frequentando a biblioteca da…”Faculdade de Direito” (Largo São Francisco) tornou-se estudioso das letras.

Apenas 12 anos depois de ter aprendido a ler, Gama publicou, em 1859, seu único livro, “Primeiras Trovas Burlescas”. Foi assíduo colaborador de jornais da época…redigindo centenas de artigos para publicações, tanto em São Paulo, onde morava, quanto do Rio.

“Para a grandiosidade de Gama…o negro libertador de escravos…o uso da palavra é            uma coisa corriqueira. – Ele se colocou nesse lugar da produção…na literatura e no jornalismo, depois na advocacia. E estas…são justamente áreas, que sem o domínio            da palavra escrita, ele não poderia nem ser nem se definir”. (Ligia Fonseca Ferreira)

“Em nós, até a cor é um defeito, um vício imperdoável de origem, o estigma de um crime;    e vão ao ponto de esquecer que esta cor é a origem da riqueza de milhares de salteadores, que nos insultam; que esta cor convencional da escravidão, () à semelhança da terra, através da escura superfície, encerra vulcões, onde arde o fogo sagrado da liberdade. Nós, os abolicionistas, animados de uma só crença, dirigidos por uma só ideia, formamos uma só família – e assim, visando um sacrifício único – cumprimos um só dever.” (Luiz Gama)

Cruz e Souza (1861-1898)  filho dos escravos alforriados Guilherme da Cruz – mestre-pedreiro – e… Carolina Eva da Conceição; João da Cruzdesde pequeno recebeu a tutela e      uma educação refinada do ex-senhor de seus pais, marechal Guilherme Xavier de Sousa…de quem adotou o nome Sousa.

Em 1881, dirigiu o jornal “Tribuna Popular”, no qual combateu a escravidão e preconceito racial. Em 1883foi recusado como promotor de Laguna por ser negro. Em 1885 lançou o primeiro livro… “Tropos e Fantasias” – em parceria com Virgílio Várzea. Cinco anos depois foi para o Rio de Janeiro, trabalhando como arquivista na Estrada de Ferro Central do Brasil‘, colaborando também com diversos jornais. Em fevereiro de 1893publicou “Missal” (prosa poética baudelairiana), e em agosto, “Broquéis” (poesia) dando início      ao “simbolismo” no Brasil…que se estende até 1922 (“semana da arte moderna”). — Em novembro desse mesmo ano casou-se com Gavita Gonçalves, também negra, com quem teve quatro filhostodos mortos prematuramente por tuberculose, levando-a à loucura.

Mesmo tendo sido filho de escravos, e recebido a alcunha de “Cisne Negro”, o poeta João da Cruz e Sousa não logrou escapar das acusações de indiferença pela causa abolicionista. A acusação, porém, não procede, pois apesar de a poesia social não fazer parte do projeto poético do simbolismo, nem de seu projeto particular, metaforicamente, o autor retratou em alguns de seus poemas a condição do escravo. Ele militou contra a escravidão tanto da forma mais ‘corriqueira’ fundando jornais e proferindo palestras … participando da campanha “antiescravagista” promovida pela sociedade carnavalesca… Diabo a quatro”, quanto nos seus textos abolicionistas … demonstrando desgosto com a política imperial.

Livre

Livre!Ser livre da matéria escrava, arrancar os grilhões que nos flagelam e livre penetrar nos Dons que selam a alma e lhe emprestam toda a etérea lava…livre da humana/terrestre bava dos corações daninhos… que regelam quando os nossos sentidos se rebelam contra  a Infâmia bifronte…que deprava. – Livre!… bem livre para andar mais puro – mais junto à Natureza – e mais seguro do seu Amor bem como todas as justiças. – Livre!para sentir a Natureza… para gozar na Universal Grandeza… Fecundas e arcangélicas preguiças.

Lima Barreto (1881-1922), o crítico mais agudo da época      da Primeira República Brasileira, rompendo as amarras do nacionalismo ufanista…pondo a nu a miragem republicana,  que conservou velhos privilégios de aristocratas e militares.  Descendente de escravos sentiu na pele a exclusão social associada à sua origem inclusive nos “meios acadêmicos”. Definindo seu projeto literário, como o de escrever um tipo      de literatura militante (apropriando-se assim, da expressão      de Eça de Queirós), sua produção se concentra quase que totalmente numa investigação das ‘desigualdades sociais’,    da hipocrisia – em sua insensibilidade, e – da falsidade dos homens e mulheresem suas relações dentro da sociedade.

O ideal do crítico” (Machado de Assis – trechos, 1865)                                                        “A propriedade escrava é um roubo duplo, contrária aos princípios humanos,                        que qualquer ordem jurídica  deve servir” (José do Patrocínio 1853…1905)

“Exercer a crítica afigura-se a alguns que é uma fácil tarefa, como a outros parece igualmente fácil a tarefa do legisladormas, para a representação literária, como                à representação política … é preciso ter alguma coisa mais que um simples desejo              de falar à multidão. Infelizmenteé a opinião contrária que domina, e a crítica, desamparada de esclarecidos é exercida por incompetentes () Não compreendo                o crítico sem consciência. Ciência e consciência…Eis as duas condições principais          para se exercer a crítica. A crítica útil e verdadeira será aquela que … em vez de          modelar suas sentenças por um interesse quer seja o interesse do ódio o da              adulação ou simpatiaprocure produzir unicamente os juízos da sua consciência.            Ela deve ser sincera sob pena de ser nula. Não lhe é dado defender nem os seus interesses pessoais, nem os alheios – mas, somente a sua convicção … e esta deve    formar-se tão pura e tão alta que não sofra a ação das circunstâncias externas”. 

Machado de Assis (1839-1908) é considerado escritor maior das letras brasileiras, e um dos maiores da…”literatura de língua portuguesa”…autor de obras-primas, que fogem a qualquer rótulo descritivo da… ‘escola literária universal’. – Destacou-se, sobretudo, no romance e conto — mas também, na poesia…crônicas…peças de teatro e crítica literária. Como característica marcante nota-se em seu trabalho o questionamento do homem…e seu lugar na sociedade, pela reflexão – numa trama intertextual de “humor psicológico”.

Ele foi também um grande relator/comentador dos eventos político-sociais de sua época, testemunhando in loco aabolição da escravatura, a mudança política no país quando a “República” substituiu o “Império”, e várias reviravoltas pelo mundo na virada de século.  ***********************************************************************************

O CONCEITO DE TRADIÇÃO (resumo) por Gerd Bornheim (1987)
A palavra tradição vem do latim: ‘traditio’. O verbo é ‘tradire’…e significa precipuamente entregar…designa o ato de passar algo para outra pessoa. Através da tradição, algo é dito,    e então o dito é entregue de geração a geração…e isso constitui a tradição, e nos constitui.

filosofiaSão sobretudo historiadores que se comprazem em analisar os períodos de estabilidade social — e o jogo das crises…que empurram a história em direção a “novos horizontes”. Assim, tudo parece indicar que a intrínseca necessidade da ‘tradição’ só poderia    se manter viva, pelo apelo à ruptura.  E a história seria entendida como “a sucessão do estável…e descontínuo”, ou seja,  a contradição fundamental, de que fala Foucault … da “sucessão dos acontecimentos”. Acontece que, comode fato, o esquema nunca se repete da mesma maneira, aqui não  se pode falar propriamente em lei.

Se há uma lei histórica, ela está justamente em reconhecer que tudo é histórico, ou seja, tudo é datado, original, único – e a necessidade da lei termina se refugiando no “campo formal”. – Acrescente-se que alguns períodos são meio que arrastados por uma espécie      de “equivocidade fundamental”…acarretando movimentações já bem mais intensas nas suas coordenadas gerais. E a novidade hoje, está justamente nesse ponto: a experiência      da ruptura suplanta em muito a vigência da tradição. – No passado, o ‘surto da ruptura’ não conseguia prejudicar de modo substancial a ‘estabilidade da tradição’ sendo pois, precisamente – essa ‘força de erradicação’, que vem caracterizando os novos tempos. É normal, portanto – toda uma galeria de pensadores – se ocupando dessa nova situação.

Com efeito; silenciado o capítulo profundamente apaziguador…que definiu tudo o que representava o ‘sistema hegeliano’, irrompe no século 19, o ineditismo do pensamento      da ‘ruptura’, ou “reforma radical”. É essa reforma que delimita os primeiros passos docientificismo” … inspiradora também, da energia revolucionária e transformadora do marxismo; e que se constitui como mola propulsara da vontade de poder de Nietzsche.

Neste século 19, tudo parecia prometer que as utopias sonhadas pelos instauradores          da burguesia deveriam, de algum modo, tornar-se ‘realidade concreta’. E, ainda que,      nos pensadores do século 20, se fez escasso aquele ardor reformista é indubitável        que a seta transformadora do mundo continua perseguindo a política, as ciências,            e as artes…e, de modo a escapar sobretudo à visão antecipatória do cálculo humano;      tudo isso se faz agora mais entranhado em ambiguidades. Todavia… há também um    tema bastante frequente no pensamento filosófico – a partir da morte de Hegel, que    pode ser negativamente resumido na expressão já clássica de extinção da metafísica;          e, de muitos modos…e em diversos níveis… o pensamento trabalha nessa destruição.

A doutrina dos 2 mundos                                                                                                                “A tradição é a afirmação de que a lei tem vigência desde tempos imemoriais…e pô-la em dúvida constitui impiedade contra os antepassados…A autoridade da lei (dada por Deus), fundamenta-se em teses; antepassados são testemunhas.” (Nietzsche “O anticristo”, §57)

José do PatrocínioA tradição tem um fundamento absoluto, e uma garantia indubitável … seja lá qual for a interpretação desse absoluto. — Em todo caso, uma “vigência”…praticamente absoluta. Hegel, em seu ensaio: A razão na história chegou mesmo a dizer que o Espírito possui a idade de… 6.500 anos.

E ele tem razãoFoi com o neolítico que se delineou a primeira grande revolução na história humana. Não há exagero em afirmar que a ‘tradição’ instituiu-se no decurso          do neolítico. – A asserção vale inclusive para os dias de hoje…apesar de sua crise, e a despeito das fantásticas transformações históricas por que passou; é que o seu nervo básico (”doutrina dos 2 mundos”) manteve-se vivo e indevassável…por milênios.

Nos primórdios, quando o homem se torna sedentário, vivendo em pequenas aldeias, inicia-se a organização racional da agricultura e da criação de animais. Joga-se então,          a primeira grande cartada do destino humano (dominar a realidade) em seu primeiro grande ápice – com a instauração da ‘teoria grega’. Entretanto, tudo ainda é ambíguo. Realmente, a vontade de domínio (ou de podercomo dirá Nietzsche), logo choca-se      com seus próprios limites naturais: o relâmpago assusta, pode destruir o ser humano.    Um passo a mais e o relâmpago se torna um deus ou um instrumento dos deuses.

Surge, desse modo, a contraposição entre dois mundos – o dos deusesque tem o poder maior, e o dos mortais, que habitam o mundo das sombras, como dirá Platão. Os gregos, de resto, ensinaram a interpretar aquele ‘mundo superior’, como investido dos atributos da própria “verdade” – o deus identifica-se com o fundamento, com o próprio “ser”…E o mundo “simplesmente humano”  das coisas que são geradas e se corrompem  passa a sofrer da ‘culpa’…que gera uma espécie de complexo de inferioridade…ou “menos valia”.

Hegel, e a tradição do absoluto                                                                                                Nisso tudo…um traço salta aos olhos é que… em todo o passado, aquela ‘transformação interna’ arrastava-se mais na permanência, e cedia menos à transformação. Modificações se processavam de modo extremamente lento. O estar instalado assegura tal estabilidade.

Hegel.É portanto a partir do próprio absoluto,          que se entende a ‘estabilidade’…caráter          de permanência que impõe a “tradição”;        ela se quer “princípio de determinação”,          como afirma Nietzscheaté mesmo do          futuro. – A tradição seria habitada pela      vontade – de se querer… “permanente”.        Por outro lado…percebe-se que uma tal permanência jamais poderia alcançar o    êxito pleno de seu desejo de “absoluto”;      ela permanece emperrada na vontade, justamente por uma…”impossibilidade de efetuar definitivamente seu projeto”.

É o óbvio… a história existe. – E…é ao menos curioso, observar que,                                justo quando a tradição entra em crise, surge…quase que a antever                                        a virulência de seus sintomas, a tentativa consciente de eternizá-la.

No panteísmo hegeliano, a realização da “Ideia absoluta”, seria a supressão da história? Se a verdade é total — e se o sistema consegue enfim traduzir adequadamente essa totalidade, o que poderia restar para a história?… Ainda que noutro nível… a mesma questão pode ser colocada para Marx; e não deixa de ser inquietante o seu total silêncio acerca da sociedade sem classes: seria a suspensão, ou a inauguração de uma nova história, enfim ‘verdadeira’?

Ridicularizado o intento hegeliano, a resposta talvez exclua tais extremos, muito próximos da atmosfera metafísica. – De toda forma, aquele traço aventado de querer-se permanente da tradição não exclui a sua própria evolução histórica mesmo a permanência tem uma história. Hegel diria que tudo é obra do próprio espírito do tempo…o Zeitgeist…que leva o sentido a se modificar. – Por esse motivo, estamos imbricados num complexo de fatores em que respeitados os desníveis — “tudo é causa de tudo” — e, como participamos dessa totalidade móvel, jamais conseguiríamos apreendê-la de fora, restando-nos tão-somente o modesto acúmulo das análises do ponto de vista dos detalhes…mais ou menos reveladores.

Compreende-se daí que o todo da cultura humanainclusive suas discrepâncias, assente no Absoluto. O deus se torna a razão de ser, a base a partir da qual se constituem o poder    e as ciências – o rei governa com abonação divina e Newton…com suas leis, descobre a linguagem, impressa na natureza pelo próprio Deus. Tradição e absoluto se pertencem em tal grau radical – que caberia até colocar o problema de saber secom o desaparecer dos deuses, o próprio conceito de tradição não perderia vigência; pois, sem o deus, o que se estabeleceria seria uma experiência social tão diversa, que toda possível continuidade cultural passaria, necessariamente, a se desenvolver…a partir de parâmetros inovadores.

Nietzsche – o “paradigma”                                                                                                              “Ou bem as teses de Nietzsche discutem o sentido de um passado ao qual ele, e todos nós pertencemos, ou então a filosofia não passa de um devaneio escondendo uma submissão”.

nietzsche

Friedrich Nietzsche (1844-1900)

Nietzsche foi, sem dúvida, o pensador que soube…como ninguém, visualizar os conflitos entre ‘tradição’ e ‘ruptura’; sendo mesmo este o motivo condutor de toda sua obra. — No fragmento 65 de ‘A vontade de poder’…em especial, vê-se previamente — que no decorrer de seus muitos livros…sua crítica não se restringe, somente … à situação da cultura ocidental, mas refere-se…sim, ao destino da própria…”humanidade”.

“O que hoje mais se ataca é o instinto e a vontade da tradição: todas as instituições que devem a sua origem a esse instinto opõem-se ao gosto do espírito moderno…No fundo,      não se pensa e não se faz nada, que não persiga o objetivo de arrancar pelas raízes esse sentido. Tomada a tradição como fatalidade, é estudada e reconhecida (como herança), mas não se a quer…A tensão de uma vontade projetada sobre longos espaços de tempo,    bem como a escolha das condições e valorações que permitem que possamos dispor de séculos do futuro, justamente isso é antimoderno…na mais alta medida. Segue-se daí,    que são os princípios desorganizadores que emprestam o seu caráter à nossa época.”

O parágrafo citado gira em torno de um verbo e sua negação…”não querer” … não se quer  a tradição. A vontade da tradição está em querer-se tradição, e ela se quer tão totalmente tradição, que se pretende eterna…determinando não apenas o passado e o presente…mas, o próprio futuro. – Porquanto tudo pode ser previsto, exige-se a antecipação: tudo vai ser sempre basicamente idêntico… sem percalços maiores ao possível surto da alteridade. A tradição se pretende, portanto…”uma grande segurança”…Estamos na própria segurança, vivemos dentro de uma resposta, e estamos assegurados nela. – ‘Somos organizados pela tradição’, ela é nosso princípio. E não foi isso o que nos ensinaram os gregos, em especial,  o platonismo? O fundamento está na ‘mesmicidade’, na Ideia divina. E toda teoria, e toda prática se constituem pautadas pelo “princípio de identidade”, base da ‘lógica aristotélica’.

Mas Nietzsche contrapõe a esse princípio um outro…que no parágrafo citado ele chama “princípio da desorganização”. – Aliás, já sabemos o nome desse princípio plural, e que configuram a conjuntura geral onde nos achamos confinados: o “niilismo“. O que se faz possível pensar através do niilismo é precisamente a ruptura da tradição, e mais do que isso, ele evidencia o caráter incontornável e irrecorrível da recente ‘ruptura’. O niilismo, portanto…é o grande tema a ser pensado. – A tradição, compreendida como o conjunto dos valores dentro dos quais estamos estabelecidosnão se trata apenas das formas do conhecimento ou opiniões que temos, mas também do comportamento humano, que    só se deixa elucidar a partir do conjunto de “valores constitutivos” de alguma sociedade.

Tradição & ruptura                                                                                                          “Conceitos opostos costumam atrair-se, porque formam de algum modo uma unidade, ainda que conflituada… Opostos se pertencem…como que nascem de uma mesma raiz. Eles se reclamam, talvez para se destruírem; ou então, mesmo dentro de sua oposição, avançam e, nesse processo – podem até construir uma nova e harmoniosa unidade”. 

artemodernaÉ fácil perceber uma atração recíproca entre conceitos comocontinuidade e descontinuidade – dinâmica e estática, tradição … e ruptura. – Tudo acontece como se…um dos termos não existisse sem o outro. – Atração… mas também repulsa mútua — já que cada termo só    se afirma na medida de seu ‘oposto’.

Dessa maneira toda a realidade seria entendida a partir de uma ‘oposição de contrários’, os quais mesmo que nunca “definitivamente superáveis” … seriam instauradores da dinamicidade do real.

A tradição só parece imperturbavelmente ela mesma – na medida em que afasta qualquer possibilidade de ruptura. Ela se quer perene e eterna, sem aperceber-se de que a ausência de movimento termina condenando-a à estagnação. – A necessidade da ‘ruptura’ se torna, em consequência, imperiosa, visando restituir a dinamicidade ao que parecia…“sem vida”.

Os gregos já chamavam atenção para certas dimensões do problema…ao desprezarem,    por exemplo, a opinião ‘doxa’…proposta por eles em contraponto à ‘episteme’ (ciência, espírito crítico). No seu livro da “República”, ao relatar o “mito da caverna”, Platão, de modo contundente, descreve a situação de homens presos à doxa…No relato, a opinião  não deve ser descartada – unicamente por constituir-se ‘modo falho’ de conhecimento; antes disso – o que a ressalta é a força de que vem investida – tão grandeque faz dos homens, escravos acorrentados ao fundo da caverna. Sem ver a realidade, vislumbram apenas sua sombra; e a tomam como se fosse a ‘verdade’. Normalmente, ensina Platão, não alcançamos o ‘conceito das coisas’; mas tão-somente o ‘pré-conceito’. Vivemos em função de um tipo de visão … que não escolhemos e tudo permanece mergulhado na mais crédula incipiência. A força dessa escravidão é tão forteque ela tende a fazer-se invencívelser perpétua. Cabe ao filósofo tentar romper cadeias, voltar-se e encarar o    sol…reeducando totalmente…até mesmo, o princípio de sua visão. – As consequências disso…então, não se fazem esperar – são dores profundase o risco da perda da visão.

Se perguntarmos a Platão pela causa que gera essa situação calamitosa, sua resposta    deixa muito a desejar, já que tudo deriva simplesmente da doxa. Mas naquele tempo,    nem se poderia pensar de outra forma…Ainda estamos a milênios das possibilidades      que começaram a ser vislumbradas por Marx… quando se abriram perspectivas para    uma análise mais ampla e abrangente – e aquimesmo ainda hoje, quase tudo resta        ser feito. Porém, aos homens do passado essa causa se colocava de outro modo, pois            o real se apresentava e era vivenciado, a partir de alguma espécie de ‘garantia divina’.

Aspectos irreconciliáveis da tradição                                                                                 A verdade do ‘sistema hegeliano’, quando na “Filosofia do direito” postula que todo real é racional, e todo racional é real, só confirma um projeto de desenvolvimento da metafísica moderna, cujas raízes mais remotas coincidem com o próprio “surto”…da ‘filosofia grega’. 

CULTURAPor maiores que fossem o intercâmbio e as influências sofridas, no passado, as formas   de cultura…irremediavelmente, tendiam a regionalizar-se…O ‘globo terrestre’ não era tido como… – unidade espacial e temporal.

Aliás, o próprio conceito ‘cultura universal’      é uma criação burguesa. Mas é justamente aquele relativo ‘isolamento’ em que viviam    as culturas tradicionais que lhes garantia a unidade e preservação de um estilo. – Nos ‘tempos modernos’, verifica-se o contrário: pluralidade e internacionalizaçãoem um processo de renovação perpétua de estilos, que se pretende sempre…”surpreendente”.

Nietzsche tinha razão ao afirmar que…’não é apenas a nossa tradição ocidental que está em crise’…são todas formas passadas de tradição que ostentam os sinais do desgaste…o mundo se faz uma aldeia global, em um processo que – tudo indica… ser “irreversível”. Somos levados a crer, por isso, que é o próprio conceito de tradiçãoe não apenas suas formas concretas…que passa a manifestar mudanças em seu sentido último. – E o mais grave indício disso está justamente na profunda modificação, verificada hoje no caráter regional da cultura. Ainda que não se trate da abolição do regional, a sua contrapartida    se faz sempre mais e mais presente e atuante: “O mundo tende a ser um sistema. Antes,      o regional acolhia em seu seio o absoluto; hoje, o sistema expulsa esse mesmo absoluto”.

Evidentemente… o “gosto” do sistema por muitas e bem fundamentadas razões foi excluído do âmbito da filosofia contemporânea; mas isso não impede por outras e bem fundamentadas razões, mesmo êxito dos processos de ‘sistematização’, não apenas nas modalidades puramente formais do saber: como lógica e matemática, mas em todas as maneiras como se organiza a ‘sociedade humana’: desde o tráfego e construção urbana,    até as formas econômicas, de organização da produçãoe da distribuição das riquezas.

O “sistema hegeliano” é a 1ª manifestação adulta de tal processo. – Não obstante seus entraves idealistas, ele pensa a realidade de modo global, sendo que seu pressuposto      mais importante talvez esteja na visão totalizante do espaço e tempoé todo espaço e      todo o tempo que se pretendem racionais. – O impacto desse “modus operandi” nos hábitos da tradição só poderia ser de uma radicalidade inédita e desnorteante. – E ele      vem se verificando … possivelmente em todos os níveis – num processo cada vez mais intenso de universalização. O corolário fatal do processo – encontra-se no inevitável e contundente desraizamento dos valores que constituíam o passado, isto é, a tradição.

A manifestação da crise, em seus variados aspectos                                                    A cultura ocidental pode ser interpretada como um longo diálogo, pouco harmonioso, entre os dois troncos principais de que decorre: o “hebraico cristão”, responsável pela moral e religião, e o “greco-romano”… do qual herdamos a filosofia, a arte além das diretivas jurídicas, e parafernália militar. – Mas, como conciliar essas duas vertentes?

1º) a própria noção de “crise”

Toda Idade Média é atravessada pelo conflito entre razão e féna oposição entre teólogos e místicos…Só isso já faz entender que a cultura ocidental se caracteriza por uma sucessão de crises, e que elas costumem se apresentar com uma mesma invariável; trata-se sempre de “renascenças”…que buscam encontrar seus parâmetros em alguma ‘particularidade’ do que se considera nossa origem…que pode situar-se nos evangelhos…nos romanos…gregos, e até mesmo nos etruscos. – Tais crises terminam por preservar a conflituada ‘unidade’ da tradição ocidental, pois a origem nunca ultrapassa as fronteiras primordiais da…’tradição’.

2º) quebra abrupta de qualquer tipo de “estética normativa”

Indicação facilmente notada nesse barômetro de todas pressões…que define o mundo das artes, a submissão à norma, garantia no passadocontinuidade à evolução do estilo. Isso acontecia, independente de considerações de ordem teórica, basicamente, no plano prático da feitura da obra de arte. Mas, a hegemonia normativa se verificava também no plano teórico, pois, no respeito à norma, reside a garantia de toda possível continuidade da tradição. Esse quadro, entretanto, muda totalmente de figura em nosso tempo…Hoje, qualquer tentativa de continuísmo tropeça em um tipo de criatividade destituidora das normas…e é aqui que se instala todo o “estranhamento” da arte atual. Contraditando qualquer aceitação prévia de normas até a própria identidade…o “ato criador” inventa    a “norma” que preside a confecção particular de tal obra. E as regras perdem seu caráter transcendente. Desse modo, a criação se deixa guiar por critérios absolutos e imanentes    ao seu próprio surto, e assim, o rompimento da continuidade não poderia ser mais total.

3º) contrato social” (paralelo ao processo de emancipação do “homem burguês”)

Não é descabido afirmar (a tese deveria ser amplamente desenvolvida) que o principal pressuposto do contrato social‘, situa-se naquilo que mais tarde Nietzsche vai chamar    “morte de Deus”. Quando o princípio “religador” que une indivíduos estabelecendo-os        na essência do fundamento perde vigência, é que pode surgir qualquer coisa como o artifício do contrato social. O tema pode ser considerado também na perspectiva da “crise dos universais” na medida em que deixam de ser a “realidade”, por excelência, sendo deteriorado pela “concreticidade” do indivíduo singular…O “pacto social” busca estabelecer uma coesão coletiva através do universal abstrato…mas, mais uma vez, é o problema do esvaziamento da religião que torna quebradiça a estabilidade da tradição.

4º) crítica à metafísica” (e à imposta tarefa reformatória…pós Hegel)

O fato de Hegel, e o romantismo de um modo geral fazerem coincidir história e tradição, acaba sendo um prenúncio de “morte súbita”. – Com o positivismo…o marxismo…e sem esquecer os movimentos anarquistas e afins — tudo acaba se deixando levar pelos ideais de uma nova forma de sociedade, numa diversidade de projetos…que caracteriza todo um período da história do pensamento. Assim…o que Nietzsche afirmava tão-somente à sua própria visão do mundo, amplia o seu alcancee torna mais severa sua advertência: “Estamos experimentando a ‘verdade’, e com ela, a humanidade talvez venha a perecer.”

5º) niilismo” (síndrome de “menos valia”)

É nele que se mostra que a ruptura ajusta-se às próprias raízes da tradição. O fundamento da tese de Nietzsche está exatamente aqui: a tradição vem informada, desde seus começos platônico-cristãos, por um processo que fatalmente, terminaria por levar à sua destituição. Nele, o homem e seu mundo sempre vêm caracterizados como inferiores, como menos ser, enquanto devassados pelo nada. O niilismo é a vontade de poder às avessas; já que instala o nada no cerne dessa vontade, num esforço aparentemente vitorioso de atrofiá-la. Assim, instaura-se aquele complexo de condutas, que Nietzsche, com muita justeza, admite sob o título geral de “ressentimento”. Mas, tanto quanto se alcança ver, a repressão metafísica cumpriu o seu ciclo…com a crítica ao idealismo ela entra em crise, e com tal crise inicia-se o processo de… “evidenciação” através do qual o niilismo se revela como constitutivo da essência mesma da tradição. Realmente, o grande tema que deve ser pensado é o niilismo.

Pensando na situação atual do problema… parece lógico que se tornou impossível a abordagem do conceito da tradição, independente de seu corolário atual…que é a ruptura; tradição e ruptura se espelham reciprocamente…e a dialética dos 2 termos esclarece por onde andamos – nessa grande esquina da história de nosso tempo. Se            há uma crise radical da tradição ocidental…e mesmo, como pretende Nietzsche…de      todas tradições do mundo … tudo indica que é o conceito mesmo de tradição que se modificaportanto, não se trata de apenas mais uma crise, mas sim de sua própria “suspensão”. Uma vez que a experiência da ruptura tornou-se o ‘espaço natural’ em        que se move o homem contemporâneooniilismo torna-se a essência da tradição    

Paralelamente…com isso equaciona-se toda a problemática da inquietação maior de nossos dias, isto é, a pergunta pelos caminhos de superação do niilismo. São muitas          as perguntase todas apresentam um clamor inédito. Tal como: para onde nos leva            a ciência?… Qual a função da arte?… Qual o estatuto próprio da “realidade humana”,          na sua condição mundana enfim descoberta?… Talvez tudo possa ser resumido…em      uma única questão fundamental, para a qual não há resposta teórica antecipada: é a própria práxis humana que deve inventar as balizas de sua criatividade. (texto base)

Sobre Cesar Pinheiro

Em 1968, estudando no colégio estadual Amaro Cavalcanti, RJ, participei de uma passeata "circular" no Largo do Machado - sendo por isso amigavelmente convidado a me retirar ao final do ano, reprovado em todas as matérias - a identificação não foi difícil, por ser o único manifestante com uma bota de gesso (pouco dias antes, havia quebrado o pé uma quadra de futebol do Aterro). Daí, concluí o ginásio e científico no colégio Zaccaria (Catete), época em que me interessei pelas coisas do céu, nas muitas viagens de férias ao interior de Friburgo/RJ (onde só se chegava de jeep). Muito influenciado por meu tio (astrônomo/filósofo amador) entrei em 1973 na Astronomia da UFRJ, onde fiquei até 1979, completando todo currículo, sem contudo obter sucesso no projeto de graduação. Com a corda no pescoço, sem emprego ou estágio, me vi pressionado a uma mudança radical, e o primeiro concurso que me apareceu (Receita Federal) é o caminho protocolar que venho seguindo desde então.
Esse post foi publicado em filosofia e marcado . Guardar link permanente.

Uma resposta para Breve panorama da prática filosófica no Brasil

Deixe um comentário