Longe da técnica e das complicações formais da arte poética…Cesar Pinheiro faz poesia com a naturalidade de quem respira. — Qualquer preocupação teórica seria uma forma de corrupção na espontaneidade de seu trabalho. — Em alguns pontos altos … a pureza arrebatadora faz a poesia simplesmente existir…em estado natural. (Luiz Carlos Lisboa)
1º ATO
Mergulha a pedra para o fundo d’água e de uma nuvem opaca desabam mágoas servis… Visto o meu terno de giz, manchado de batom…Assim como um aprendiz operário…Por um sonho solidário, A tropeçar pelo cenário, Em um rolo de fita crepom.
A ARTE DO TEMPERO
Recolha o tempo perdido em potes de cristal. Recite um improviso Para o vento no quintal … Aqueça a rotina na brasa de uma paixão, Temperando… acaso e sina… – Em um agridoce molho de emoção. Despeje na panela uma janela aberta pro céu…Misturando sonhos Na realidade…(des) cobra sua saudade… com suaves gotas de mel.
ARMADILHA
Pensamento, Consciência… Moral Discernindo entre o Bem e o Mal O Homem, esse ser racional
Torna-se um pobre, cego… Indefeso animal Preso na falsa realidade … das Luzes da sua Cidade… de consumo.
ARTÉRIA ESTELAR
Arte, matéria… Artéria estelar… Do ar que respiro – Ao lento pulsar Nave navega em próprio mar, o mundo sedento a seu tempo e lugar
A parte que é minha… Caminha pra ser… – Uma parte que sua, Como a lua e o vento. No meu pensamento…não há que se ater.
O Todo é tudo… E em tudo se faz… — Muito embora, À sombra das horas, minha verdade escorra pra trás.
Já o Todo que é Nada… nada de mal me traz… A não ser uma infinita saudade… Por tudo aquilo Que hoje… Já não existe mais.
BATENDO À PORTA
A porta acorda de um sono tardio, No trono vazio, manchado do riso Em que se escondeu A porta se abre em pétala e espinhos E procura caminhos… Que não sabe se viveu A porta se fecha…por brechas e ruídos De mundos e abismos – que o destino Já se esqueceu; E… em gritos gemidos Se entristece de sentidos Por tudo aquilo, que em vão se perdeu.
COQUETEL DE EMOÇÕES
Felicidade… palavra translúcida – Coquetel de emoções, Reabro porções de…’espectros de vida’, Deixando surgir Mentiras da existência
A essência precisa da forma… — Mas, E se a forma for austera ou submissa?
É quando lemas e brasões voam pelos cantos do quarto… Me envolvendo Em seus múltiplos sentidos… – Busco o sentimento de um… “grito no ar” Ao resgatar sonhos perdidos… – Me sincronizo com estrelas … Por entre Camadas de ozônio…Abro as portas do telhado…E, me julgo um SUPER- HOMEM!…Procuro no dicionário a forma correta para “EXPECTATIVA”
Aí está o xis do problema!…
CENÁRIO BARROCO
Peixes no aquário Repousam tranquilos Por entre abismos De um cenário barroco
Mar morto De um porto sombrio Revive seus gritos Em grutas e penhascos
A praia dos sonhos Esconde tesouros
Em submersas escunas, Entre brumas e espadas
E sob o ouro e a prata Das grandes conquistas,
Emergem lutas vividas Em naves piratas.
FANTASMA CLANDESTINO
Luzes de um sobrado na noite fria inspiram elegias Que minh’alma padece… quando o tempo esmaece E a alegria permanece…
‘Presa por um fio’
Torpor de uma aurora, que de tão distante… Vagueio errante por seus inúmeros cômodos, Entre assombros… e escombros do destino Como o sonho inquietante De um fantasma clandestino.
CÉU & INFERNO
Quero pensar, pois pensar me faz sentir que não sou eterno, E assim… viver um sonho… — prisioneiro dos subterrâneos De seu mundo interno… Para que… — depois de pensar… e Sonhar tantos mistérios… — consiga das sombras me livrar E voltar dessa “estrada profunda” que chamamos “inferno”.
AO TEMPO DAS COISAS
No fundo da noite estrelada… Nada e Tudo se misturam em Coágulos… “Tentáculos de Mundos” … A se emaranhar
Jogos de vida/espaço, Corpos… brinquedos… sonetos… Abraços… Girando ao compasso… – da sorte e do azar Caminhos, por todos os lados… A me embaralhar Numa soma infinita de laços… A se multiplicar.
EFERVESCÊNCIAS
Fervilham sons e ideias… Quimeras e ilusões
Visões apaixonadas… – paixões de toda sorte
Mais forte, fecunda… Cometas vibrando sua luz vagabunda
Jogos de carta… mapas… magia
Orgia de astros e estrelas vadias Espaços abertos… Multi-sinfonias
Revistas da moda… Magia Cantigas da roda Que gira … Que gira.
SONHO IMPOSSÍVEL
Atmosfera solar da tarde sem dono Ardendo seu sono… Seu sonho impossível, A guerra…a terra…o míssil A fome serena, terrena, terrível Lua minguante, Ventos cortantes… De algum precipício.
ENIGMA
Resiste… Às vezes tão dócil… Às vezes tão fria Revelando – à luz do dia … Sua magia estelar
Repleta de horizontes, que por fim se escondem Atrás de montes, onde a vista não pode alcançar
Insiste, buscando caminhos… Onde tempo não conte, Ou não saiba explicar…Sempre em busca de liberdade, Que aos nervos afronte; Para muito mais longe chegar.
À espera do alento…Momento de se revelar…Num canto… Um tanto quanto qualquer… Enquanto puder…assim ficar Numa imagem da pele no ar… Na carne do olhar.
FLORAÇÃO
Nas bordas de um céu… cor de mel e algodão De dentro da terra… – sob um sol primavera, De uma tarde sincera Uma flor se abre…
Em pétalas de verão
Encobrindo espinhos… Espalhando caminhos, Se esparramando pelo chão…
FRAGMENTOS
Na estrada que corre solta… Em volta da mata…envolta Na noite… De onde o vento grita, agita…açoita… Madrugada escura Pedras da lua, entre nuvens de estrelas Refletem sombras vermelhas… Na Terra… no Céu… E, no Anel que tu me deste… Que era vidro, e se quebrou.
INTERSTÍCIO
Um velho sentado, numa cadeira De palha…lentamente se embala De memórias e sorrisos… Ao cair Da tarde, que lhe serve de abrigo E, quando o Sol… enfim desmaia Ao som de pássaros amigos.
EXÍLIO
Decretei morte ao sentido da perda Decretei corte, ao arame da cerca… Gritei forte… Descartei sorte e azar
Decretei livre pensar!
Foi quando me enredei nas teias da história… E abracei minha glória, com emoção, Banindo os meus sonhos mortos, Pros caminhos tortos do meu coração.
CHORO UM CHORINHO
Choro um chorinho… um choro pequenino Molhando pandeiro e tamborim… Choro um chorinho de saudades sem fim
Pelos tempos de outrora, Pelas luzes da aurora… Em serestas de verão
Choro um chorinho … de flauta e clarineta, Cavaquinho e violão … que vai como quem Não quer nada, se insinuando pela calçada Driblando as dores do meu coração.
ELEGIA (à Ribeiro Couto)
À noite, no refúgio em que me faço… Num véu de nuvens… me descubro, Me disfarço
Lanço palavras tontas pelo espaço… Tantas, que logo delas me desfaço, Entre burburinhos gerais
Sempre que a cada momento Atravessado no tempo… pendurado no ar
Vem um vento profano Me envolver de enganos Em murmúrios do mar.
LADO PROIBIDO
Naturalmente…algo urgente, pra me fazer Recordar o que já nem mais se diz… ou se Pode imaginar… – por tais…pensamentos Palavras e atos… – abstratos ou concretos Um mais amanhã, se faz incerto, disperso Em/cantos do mar…O silêncio vibra solto Um sopro de vento, que dos céus … escoa Um infinito longo demais… até que a vida A toa, palpita espremida no banco de trás.
OCEANO IMAGINÁRIO
Uma gruta se esconde do mar E o mar bate nas pedras…que Se desmancham em areia…
Onde à noite… se deitam homens sonhando com a vida Que feita de dores, encobre o prazer que se espalha na terra Que se espelha no mar…
E o sol que alimenta a terra, aquece o ar… No horizonte da praia deserta Começando enfim… seu despertar.
DE VOLTA À ESTRADA PERDIDA
Liberdade, no berço da paixão…A idade da razão, incompreensivelmente se manifesta … Liberdade, a saudade do ser…que Nada no mundo das bocas caladas
Liberdade, a louca palavra… que Abre grades das grandes cidades
Liberdade – lua sombria entre muros e utopias, Um espaço futuro de noites vazias, À espera de um raro pôr de sol.
LINHA DA VIDA
Existe um sinal ao final de uma estrada… Anunciando a pousada… onde minh’alma Descansará. Para lá levarei…para esse porto distante… Uma túnica…e um turbante. E ao luar cintilante que jamais esquecerei, nesse altar deslumbrante, desaparecerei.
FÉ PROFUNDA
Quando… nesta vasta vida a toa – não há mais nada … nem Ninguém…que talvez te faça um bem…ou até te escute a toa
Num canto qualquer, qualquer esperança… Alivia…abençoa Na moita, faço fé profunda… Tão profunda – que me atordoa.
OS 7 SENTIDOS
Da minha boca à sua, existem luas velozes, Gritos ferozes, gemidos…Canções de ninar
Canções de acordar…os 7 sentidos… Paixões secretas, com janelas entreabertas Por cortinas… sem fim
Invertendo palavras Inventando fornalhas Recolhendo migalhas… Esqueletos de mim.
MEMÓRIA DOS VENTOS
De onde vens vento mensageiro Me envolver por inteiro… Em teu perfume volátil?
Quantas terras hás cruzado, Quantos mares navegado… Em tua missão secular?
Diga por tua ‘linguagem cifrada’ – peregrino da esperança, Onde desemboca a encruzilhada do futuro e da lembrança, Da vida e do destino… — Mas, se não puderes responder… Ou se não for eu capaz de entender teu ensino… Segue teu Caminho pelo ar… — Até encontrar… um olhar de menino.
DO FUNDO DO BAÚ
Quero calar minha voz para que em silêncio Ela penetre na… tênue atmosfera… dos dias Em que não nos sentimos sós…
E nas noites escuras, Salpicadas de estrelas… pontilha de sóis Talvez percebamos, nossa solidão atroz.
APENAS UM GESTO
E seria preciso apenas um olhar sem pudor Uma brisa que passasse…Trazendo consigo Um perfume de flor
Apenas um gesto por certo seria…Um atalho para meus pés Descalços… – Um resto de festa … em uma fresta de sorriso Chegaria como um aviso… – De que a brincadeira começou.
E eu me entregaria com prazer para me perder no jogo, E eu seria fogo… – Mágico louco … – Do circo de lona…
E você seria a dona do meu coração.
PENSAMENTOS AMBULANTES
Por entre voos de pássaros, em rotas tortas e oblíquas Fora do compasso … Como um barco em redemoinho Cravei na terra submersa… A linha aberta do meu destino
Por entre setas & pedras… Desmarquei linhas retas E atento — segui sonhando… um tempo… caminho
Quando quanto mais esperava, Mais verdades sonhava… mais tristeza engolia, E, no meu bolso de saudades… Guardava as sobras do dia. .
METAMORFOSE (1979)
Quando as estrelas tímidas forem surgindo na luz do crepúsculo Quando os músculos do corpo forem se relaxando… — um a um, Enquanto pássaros livres seguirem cantando sem motivo algum
Como se um sonho imenso abraçasse a realidade…E passasse a existir…Como Se a Vida inteira se abrisse… Para tudo aquilo que se possa sentir… Como se a Própria razão… Escondida do mundo… Perdesse o medo de viver… Como se o Homem cansado de tanto sofrer pudesse afinal entender o que diz seu coração.
O JULGAMENTO
Senhoras e senhores…aqui estamos reunidos nesta ocasião À espera da inapelável sentença… — desta respeitosa corte, Na mui digna presença… do meritíssimo juiz… — Mais alta figura que representa a justiça em nosso país. Levantem-se Por favor – pois o veredito vai ser dado… Incontestemente:
A CORTE DECLARA QUE O RÉU É CULPADO… DE SER INOCENTE!…
LUSCO-FUSCO
Por trás de arranhacéus põe-se o sol, De dentro da noite… — pisca pisca… Luz de farol
Na beira da praia… Castelos de areia… Sonham ao luar… Enquanto em dunas Ao vento, o tempo se espalha… Por correntes de ar
E assim… – como se para sempre fosse o mundo acabar… Suave, Macia… Das ondas se anuncia… A leve breve vadia… brisa do mar.
O PULO DO GATO
Refresco a memória…nas horas em que existo, E avisto entre sombras e conjecturas… rastros, Pegadas… passadas e futuras
Na estrada, a poeira, que um barco Atravessa, na pressa de um caracol
O anzol na fruteira, e a maneira de ser o gesto Em um ato de pura destreza…Do pulo do gato Ao prato na mesa. Miséria, riqueza…tranquila beleza…Pros olhos do gato…em cima da mesa.
TRAJETÓRIA
Longe, tão longe… Correndo contra o vento… Por um vago sentimento…insano e insaciável Morre… morre lento… – O sol magento… Celebrando mais um dia… De sua infinita passagem
Movendo sua luz… entorno da paisagem, Escorre, andaluz – sua sombra & imagem Anunciando ‘noites de lua’…cuja carne crua Assim também flutua… Em esplendor & sobressalto Toda sua pálida face de aço
Refletindo teus braços macios Teus lábios frios de orvalho.
RELÓGIO DE ESPUMAS
15 para as 4 no relógio de espuma da parede de cristal
15 para as 4 nas teclas do piano … onde A voz do cantor se debruça apaixonada
15 minutos para o fim da festa… 15 minutos é tudo o que resta para toda Sorte de convites, todo acerto de contas
15 minutos para a dama e o rapaz 15 minutos… — Nada mais…
PAISAGEM DISTANTE
Sangra dos meus olhos – em cores dissonantes (distante nostalgia)… Uma paisagem do horizonte, em plena luz do dia. De sonho e realidade constroem-se utopias. E a sombra luminosa…em perpétua calmaria…traz mistérios de portais – navegando em vendavais, (seus problemas mais banais)… tornam-se distúrbios centrais — na rotina das famílias.
RESTINGA
Há um céu – bem detrás das ruínas…onde o véu da neblina já não pode alcançar. Céu de um azul…cor de tempo esquecido…que Aquece os sentidos … que me faz recordar
De um mar na restinga … onde o vento se vinga, sem parar de soprar…Memórias de sonhos que em conchas se abrigam, como ondas que agitam … duras pedras do mar.
OS FRUTOS
O sol na cabeça, E os sapatos pela estrada de barro Onde frutos maduros, caem pelo mato Em meio a um regato tranquilo…
O sol no regato, e os frutos caídos no mato… Por um tempo esquecidos…ao longo da estrada Embrenhada na mata – onde correm esquilos…
O sol pelo mato, e a mata que resta, pelo fogo…comida Da floresta, só sobraram memórias… sementes de vida.
SIGNIFICADO
Vagueia no ar… — no altar das coisas sem nome, Um olhar inconstante de tonalidade multiforme Que varia… conforme… — sua própria sutileza… Seus tons são “clarões” … que incendeiam meus nervos. E se chego a tocá-los nos limites da pele, Sua presença mais leve… – Se traduz em desejo.
O MURO E O ABISMO
No azar ou na sorte da vida e da morte – Quando em vez Surge um corte … Que nos precipita… – No escuro vazio.
De onde um muro sombrio – Que limitava o caminho Observa abismos… – Guardado em espinhos.
VELEIRO
Velejo um barco… – que os mares invade Cortando águas tranquilas no crepúsculo Da tarde. Viajo com o rumo voltado para Um lugar … A “ilha de liberdade”… Onde Almejo chegar
Ventos sopram brisas Que inflam a vela, presa no mastro Até que…chega a noite – buscando Seu rastro… No silêncio dos astros.
COISA & TAL
Olhos pairam, pensamentos voam… Aves sobrevoam Seus ninhos… Caminhos se bifurcam num até breve
Uma onda leve… – desaba no porto… Uma longa saudade habita meu corpo
Um resto de sol… nas nuvens ao vento No mar, na cidade… E, nas loucas Verdades do meu pensamento.
SINO DE BRONZE
Pelo trabalho do corpo… – Na inércia do mar, Se faz passar…da água ao vinho. Pelos rumos Da vida…retorcida ao vento. – Se surpreende O momento em que não se está mais sozinho. Multiplicam-se os pães… Entorna-se o vinho. A mesa é farta…A palavra, nada mais que um Hino. O sino…de bronze. – E o teto… destino.
SONHO SELVAGEM
É quando as luzes se apagam – e as promessas se pagam … em beijos de despedida, Que vejo em teus olhos refletida, minha vida passageira, de estrangeiras realidades
E me atrai a vontade… de tê-la em meus braços… Pelo espaço de um segundo Por onde ninguém mais sabe… Nem jamais voltou… Até que o mundo desabe
No vazio reconfortador De um infinito sonho selvagem Perdido, e louco de amor.
TRILHA DO BONDE
Por onde flutua… – na noite escura A lua e a rua … na minha ou na sua Imagem solar?… Por onde se esconde A trilha do bonde… A fruta do conde, A curva do monte Na linha do horizonte Da terra ou do ar?…
Por onde se foi, minha vida passageira, De infindas brincadeiras À beira de tanto sonhar?
VESTÍGIOS
Qualquer gesto … qualquer olhar… Pra surpreender (ou imaginar) o prazer que vier de um verso qualquer… Na noite estelar…Noite a pulsar, fazendo vibrar, pelo vasto Teto solar…teias de veias carnais… Sintonizando ondas, Onde oficinas siderais, carentes de um mundo a sonhar Transmitem o arrepio… — De um relâmpago fugidio… Que TRANSPASSA o AR…
UM INSTANTE, LIBERDADE
Rebusco na estante…Um instante, liberdade, Rabisco folha em branco em brancas nuvens De saudade… — deixando os sonhos soltos…
Voarem pelos ares…
Aposto corrida, com a vida que me cerca… Qual a regra a ser cumprida…Quantas ilhas, Quantos mares?…
São os ossos do ofício. Artifícios, tempestades Mentiras… quase verdades… – Que feito vício, Nos distraem… Pelos quatro cantos da cidade.
INVENTÁRIO
Por isso me invento… – com o vento levando meus passos… – para o lado contrário do espelho … Em busca de um objetivo… – “objeto ativo”… cuja imagem…se faz na ação… No chão, paisagem deserta, solidão sempre alerta, em contida emoção…Quando então, A paixão proibida se sente…entre a serpente e a maçã…mito e talismã…culpa e perdão. *****************************(texto complementar)*******************************
Vou-me Embora pra Pasárgada (Manuel Bandeira)
Vou-me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do rei… Lá tenho a mulher que quero… Na cama que escolherei
Aqui não sou feliz… Lá, a existência é umaaventura, De tal modo inconsequente, que Joana, a Louca de Espanha Rainha e falsa demente, Vem a ser contraparente… Da nora que nunca tive (…)
E andarei de bicicleta… Montarei em burro brabo… Subirei no pau-de-sebo… Tomarei banhos de mar!…
E quando estiver cansado… Deito na beira do rio… Mando chamar a mãe-d’água, pra me contar histórias… Que no tempo de eu menino… Rosa vinha me contar
E quando estiver mais triste… Triste de não ter jeito
Quando de noite… – Me der vontade de me matar… Lá sou amigo do rei… – Terei a mulher que quero… Na cama que escolherei.
Poema de sete faces (Carlos Drummond de Andrade)
Quando nasci, um anjo torto, desses que vivem na sombra, me disse: Vai, Carlos!… ser gauche na vida.
As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres. A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos. O bonde passa cheio de pernas: brancas pretas amarelas. Para que tanta perna, meu Deus… pergunta meu coração.
Porém meus olhos não perguntam nada (…)
Deus, por que me abandonaste, se sabias que eu não era Deus… Se sabias que eu era fraco. — Mundo… vasto mundo… — Mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer, mas essa lua, esse conhaque… Botam a gente comovido como o diabo.
Navios Negreiros (IV)
Era um sonho dantesco… o tombadilho Negras mulheres, suspendendo às tetas
Que das luzernas avermelha o brilho. Magras crianças, cujas bocas pretas
Em sangue a se banhar. Rega o sangue das mães:
Tinir de ferros… estalar de açoite… Outras moças, mas nuas e espantadas,
Legiões de homens negros como a noite, No turbilhão de espectros arrastadas,
Horrendos a dançar… Em ânsia e mágoa vãs!
E ri-se a orquestra irônica, estridente… Presa nos elos de uma só cadeia,
E da ronda fantástica a serpente A multidão faminta cambaleia,
Faz doudas espirais… E chora e dança ali!
Se o velho arqueja, se no chão resvala, Um de raiva delira, outro enlouquece,
Ouvem-se gritos… o chicote estala. Outro, que martírios embrutece,
E voam mais e mais… Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a manobra, E ri-se a orquestra irônica, estridente
E após fitando o céu que se desdobra, E da ronda fantástica a serpente
Tão puro sobre o mar, Faz doudas espirais…
Diz do fumo entre os densos nevoeiros: Qual um sonho dantesco as sombras voam!…
“Vibrai rijo o chicote, marinheiros! Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
Fazei-os mais dançar!…” E ri-se Satanás!…
Boa-noite (Castro Alves)
Boa noite, Maria!… Vou-me embora.
A lua nas janelas… bate em cheio…
Boa noite, Maria!… É tarde, é tarde…
Não me apertes assim contra teu seio. Boa noite!… E tu dizes – Boa noite.
Mas não me digas assim, por entre beijos
Não me digas assim, descobrindo o peito;
Mar de amor…onde vagam meus desejos.
SEMPRE
Jamais se saberá, com que meticuloso trabalho… Veio o “Todo” – e apagou os vestígios de tudo. E, quando nem mais suspiros havia…Ele surgiu de um salto Vendendo… – “súbitos espanadores”… – De todas as cores. (Mario Quintana)
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