Fragmentos de Ciência & Filosofia (em busca de Harmonia)

“A ciência, como cultura para o benefício da humanidade, implica certamente na melhor disseminação da ‘informação científica’ para o público em geral, mas também, por outro lado, na maior compreensão dos problemas do nosso tempo pela comunidade científica.”

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A demarcação das ciências naturais, em relação  à filosofia, no interior do pensamento ocidental foi um processo longo e gradual… Inicialmente,  a investigação da ‘natureza das coisas’ consistia numa mistura do que hoje podemos considerar filosofia (considerações gerais sobre o…“Ser”; incluindo sua própria natureza, e nosso acesso cognitivo a ele)…e o que hoje seria próprio das diversas…”ciências particulares” (como…física, matemática, biologia, química, etc); com fatos observáveis e hipóteses gerais para explicá-los.

Se olharmos os “fragmentos” que nos restam das obras dos filósofos pré-socráticos, encontraremos, não só tentativas engenhosas para aplicar a razão a várias questões metafísicas e epistemológicas…como também as primeiras teorias físicas – simples,      mas extraordinariamente imaginativas, sobre a ‘natureza da matéria‘…e os seus diversos aspectos mutáveis. Na filosofia grega clássicajá podemos encontrar uma separação entre as 2 disciplinas. Nas suas “obras metafísicas”, Aristóteles faz o que        hoje seria feito por filósofos mas em seus trabalhos sobre astronomia…biologia e      física, podem-se achar “métodos investigativos”…hoje comuns na prática científica.

À medida que “ciências particulares”…como física, química e biologia foram aumentando em número, canalizando cada vez mais recursos, novas metodologias individualizadas se desenvolveram para descrever/explicar ‘aspectos fundamentais’ do mundo onde vivemos. Dado o sucesso dessas investigações específicasmuito se pergunta se ainda restará algo para os filósofos fazerem…Para alguns deles, não obstante…ainda podem existir áreas de investigação radicalmente diferentes das que pertencem às ‘ciências particulares’…como, por exemplo – a “vida após a morte” – “Universos Paralelos”; ou qualquer outra coisa do gênero. – Já outros filósofos, buscam uma prática mais próxima das…”ciências naturais”.

Segundo uma perspectiva mais antiga…que foi perdendo popularidade ao longo dos anos, existe uma forma de conhecer o mundo, que em seus fundamentos, não precisa depender da investigação observacional ou experimental própria do método específico das ciências. Tal visão foi em parte influenciada pela existência pura da “lógica” e “matemática”, cujas ditas “verdades” não parecem depender de qualquer base observacional ou experimental.  Com efeito, desde Platão e Aristóteles…a Leibniz e os racionalistas; passando por Kant, e idealistasaté aos contemporâneos, tem persistido a esperança de que…suficientemente inteligentes e perspicazes … obteríamos um ‘corpo de proposições’ descritivas do mundo, carregadas da mesma certezacom que dizemos saber verdades da lógica e matemática.

Benefícios da filosofia…no mundo atual

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Acredita-se hoje que o papel da filosofia não seja só atuar como fundamento…ou extensão das ciências — mas…propriamente, como sua “observadora crítica”.     

A ideia é que ciências particulares, ao empregarem métodos próprios, fazem com que… as relações entre seus vários conceitos — implícitas ao uso científico‘…não nos sejam explícitas. A finalidade da ‘filosofia da ciência seria “por a limpo” tais relações conceituais.

Como as ciências particulares usam métodos específicos … para fazer generalizações … a partir dos dados da observação – em direção a hipóteses e teorias, a “função da filosofia”, segundo esta perspectiva é o de descrever os métodos científicos, explorando as bases de sua apropriação, para encontrar a ‘verdade’…circunscrita dentro dessa mesma disciplina.    Mas será que assim podemos diferenciar de uma maneira simples e direta, a ‘filosofia da ciência’…de sua ciência específica?… – Muitos especialistas sugerem, que não, posto que nas ciências específicas, teorias por vezes não são adaptadas apenas por sua consistência com dados da observação, mas também com base na ‘simplicidade‘, força explicativa, ou outras considerações que pareçam contribuir para sua…plausibilidade intrínseca… Ao constatarmos isto, perdemos a confiança na possibilidade de existirem dois domínios de proposições antagônicas – aquelas apoiadas em dados empíricos, e as apoiadas na razão.

Muitos dos “filósofos contemporâneos” – entre eles… Willard Quinedefendem que as ciências naturais, a matemática…e até a lógica pura, formam um contínuo unificado de crenças sobre o mundo… Todas, indiretamente apoiadas em dados observacionais, mas contendo também elementos de ‘apoio racional’. Sendo isto verdade, não será a própria filosofia, um lugar das verdades da razão…parte de um todo unificado?…Ou seja, não será também a filosofia, apenas uma componente do corpo das ciências especializadas?

metodo cientificoQuando procuramos a descrição e… a justificação apropriada dos métodos da ciência… parece que esperamos…por seus resultados.

Como compreendermos o poder desses métodos para nos guiar à verdade… se não estivermos em condições de comprovar o valor, que lhes é atribuído?… E…como poderíamos fazer isso, sem usar    nosso…”conhecimento” sobre o mundo – revelado pela ciência?

Como poderíamos…por exemplo…justificar a confiança da ciência na                                  observação sensorial… se nossa compreensão do processo perceptivo                                (baseada na física, neurologia e psicologia) não nos assegurasse que                                      a percepção … tal como é usada quando se testam teorias científicas,                                    se trata de um bom “guia da verdade”…sobre a natureza do mundo?

É ao discutir as teorias mais gerais e fundamentais da física que a imprecisão da fronteira entre ciências naturais e filosofia…torna-se mais manifesta. Dado que elas têm a ambição ousada de descrever o mundo natural em seus aspectos mais gerais e fundamentais… não surpreende que os tipos de raciocínio usados … ao desenvolver estas teorias tão abstratas, pareçam mais próximos dos…”raciocínios filosóficos“…que dos métodos empregados, quando se conduzem “investigações científicas” de âmbito mais limitado e particular.

Ao explorarmos os conceitos e métodos usados pela física, quando esta lida com suas questões fundamentais mais básicas … vemos repetidamente que pode estar longe de    ser definido se estamos explorando questões de “ciência natural” ou de “filosofia”. Na verdade, nesta área da investigação sobre a “natureza do mundo”…a distinção entre      as duas disciplinas … torna-se bastante obscura.  (Lawrence Sklar, texto base, 1992)  ********************************************************************************

teoria do conhecimentoO que é teoria do conhecimento?    “A ciência retrata a vitória dos métodos da…’observação‘… — sobre os métodos da pura especulação”.  (Anísio Teixeira)

A “reflexão”…sobre a natureza do nosso conhecimento dá origem a uma série de desconcertantes problemas filosóficos, tema da…”teoria do conhecimento“.

A maior parte desses “problemas epistemológicos” foi debatida pelos ‘gregos antigos’, e ainda hoje é escassa a concordância sobre a forma como devem ser resolvidos – ou, em último caso, abandonados. Mas, descrevendo temas como: Qual a distinção, no âmbito    da verdade, entre ‘conhecimento’ e ‘crença’? podemos elucidar a natureza do problema.  

Se formularmos socraticamente, nossa justificativa para qualquer afirmação (A) de conhecimento será relativa a um fato (B)…e sendo rigorosos em nossa investigação, chegaremos numa espécie de fim da linha … onde  minha justificativa para pensar        que algo acontecerá…é, simplesmente, esse próprio fato. Assim, a nossa prova para    certas coisas – ao que parece…consiste no fato de termos provas para outras coisas.

Coisas que correntemente dizemos conhecer…não são ‘diretamente evidentes’.                Mas ao justificarmos a afirmação de que conhecemos qualquer dessas coisas,        podemos ser levados, de novo, à várias coisas que são diretamente evidentes.

Deveríamos dizer assim … que o conjunto daquilo que conhecemos… – a qualquer dado momento…é uma espécie de “estrutura”…fundamentada no que é diretamente evidente nesse momento?… – Se dissermos isso deveremos então estar preparados para explicar      de que modo esse fundamento serve de apoio à estruturaMas essa questão é difícil de responder…visto que o apoio dado pelo fundamento, não seria dedutivo…nem indutivo.    Noutras palavras, não é o gênero de apoio que as premissas de um argumento dedutivo      ou indutivo dão à sua conclusão, pois se tomarmos como premissa… o conjunto do que        é diretamente evidente em dado momento, não podemos formular um bom argumento dedutivo…ou indutivo – onde qualquer das coisas que normalmente dizemos conhecer, apareçam como conclusão. Portanto, talvez seja o caso de…além das regras de dedução      e indução – existirem inclusas também determinadas… “regras de evidência”… básicas.

O ‘lógico dedutivo‘ tenta formular o 1º tipo de regras; o ‘indutivo‘,                                            o 2º tipo; e a “epistemologia“…procura harmonizar essas regras.

fernando_pessoa fraseCritérios de ‘verdade’e ‘extensão’  O que é que sabemos?…Qual a extensão do nosso conhecimento?…Como decidir no caso particularse sabemos ou não? Quais são os critérios de conhecimento?    O problema do critério resulta do fato, de que, se não tivermos resposta para o limite de nosso domínio, não teremos a nosso dispor um procedimento digno e razoável para encontrar uma “verdade”.

A rigor…tal problema poderia ser formulado por outros caminhos,                                como… por exemplo – o “conhecimento metafísico” (se houver)                                      de “coisas externas”… (“transcendentes“)… aos nossos domínios.

O nosso conhecimento do que denominamos “verdades da razão” (verdades da lógica e      da matemática) dota-nos com um exemplo particularmente instrutivo do ‘problema de critério’. – Alguns filósofos consideram que uma satisfatória…’teoria do conhecimento’    deve se adequar ao fato de que, algumas dessas tradicionais “verdades da razão”…não fazem parte da realidade conhecida. – Outros, ainda procuram simplificar o problema, afirmando que tais “verdades”… pertencem à forma como utilizamos nossa linguagem.  Outros problemas da “teoria do conhecimento“…apropriadamente designados por “metafísicosabrangem certas questões sobre o modo como as coisas nos parecem.      Tais aparências, quando as observamos, parecem ‘subjetivas’, na medida em que, para      sua existência e natureza, dependem do “estado do cérebro”. – Este simples fato levou  alguns filósofos a estabelecerem algumas conclusões extremas. Alguns afirmaram que      as aparências das coisas externas, devem ser “duplicações internas”…produzidas pelo cérebro. Outros, que “coisas externas” devem ser distintas do que costumamos aceitar.

Nesse caso, por exemplo: “a lua poderia não existir, quando não se olha para ela”  (“solipsismo”)Ou então, a ideia de que as coisas físicas são feitas de aparências (‘surrealismo‘). Mas há também os que dizem que as aparências são compostas                de “coisas físicas” (como o ‘éter‘). Tal problema, levou alguns filósofos, inclusive,                  a questionar a“utilidade das aparências” (uma característica do “positivismo”).

O “problema da verdade” poderá parecer um dos mais simples da teoria do conhecimento. Se dissermos a respeito de um homem que…“Ele acredita que Sócrates é mortal”, e depois informarmos que…“A sua crença é verdadeira”…Estamos então afirmando que:  “Sócrates é mortal”… Mas, o que aconteceria se afirmássemos a respeito de um homem que…“O que ele está dizendo é verdade”…quando o que ele está afirmando…é a falsidade’ de alguma coisa. – Nesse caso, estamos construindo uma proposição que é…’verdadeira’…ou ‘falsa’?

Aspectos do conhecimento científico                                                                                  Aquilo que surge em dado momento, não é a totalidade original do “objeto investigado”.      O problema da verdade reside na finitude do homem – de um lado…e na complexidade      e ocultamento…do…”ser da realidade” – de outro. – Com efeito, esse…”ser das coisas e objetos”, que o próprio homem traz dentro de si mesmo, se manifesta de várias formas.

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a) Verdade

É o encontro do homem com o…’desvelamento’; ou seja: a manifestação do ser (objeto)Ocorre que — levado por aparências e sem auxílio de instrumentos adequados – o ser humano emite juízos precipitados … que não correspondem aos fatos da realidade – donde advém…o “erro”.

O homem pode apoderar-se, e conhecer apenas os aspectos do objeto que se manifestam, que se impõem, que se desvelam…e isto ainda de modo imperfeito, pois ele não entra em contato direto com o objeto, mas com sua impressão representativa. A realidade total de um objeto não pode ser captada por um investigador humano – quiçá, nem todos juntos alcançarão um dia desvendar todo mistério do objeto investigado… Por isso, não há uma “verdade absoluta”…o que, porém…não invalida o ‘esforço humano‘ na busca incansável de decifrar enigmas do universo. O desvelamento do ‘ser das coisas‘ supõe a capacidade      de receber mensagens…e isto implica bons sentidos, bons instrumentos e muita atenção.    O método, e muita observação, são a alma da pesquisa científica rumo ao conhecimento.

b) Evidência

A verdade só resulta quando houver “evidência” — que é a manifestação transparente do objeto, em seu ‘desvelamento. A respeito daquilo do ser, que se manifesta, pode-se dizer uma verdade…Mas, como nem tudo se desvela de um ente, não se pode falar sobre o que não se desvelou. A evidência, o desvelamento, a manifestação do Ser…é pois, o critério da verdade. — Por outro lado, afirmações humanas “erradas” … decorrem muito mais de atitudes arbitrárias e precipitadas e da ignorância do homem … em relação à natureza  do ser (que…fragmentariamente…se oculta…e se desvela)… – do que da realidade em si.

c) Certeza

A certeza é um estado de espírito que consiste na adesão firme a uma verdade sem temor de engano – e…que se fundamenta numa evidência – ou seja… – no desvelamento do ser.  Relacionando o trinômio…’verdade’/’evidência’/’certeza’, poder-se-ia então concluir que: havendo…”evidência“…(se o objeto se desvelar ou se manifestar com suficiente clareza) pode-se afirmar… – com “certeza“…(‘sem temor de engano‘)…uma certa “verdade“.

socratesQuando não houver evidência, ou suficiente manifestação do objeto,        o sujeito encontrar-se-á em outra situação; o que deve transparecer também na forma de expressar o objeto…ou na linguagem falada e          escrita…São os casos da ‘dúvida‘,          da ‘ignorância‘ — e… ‘opinião‘.

Na dúvida se verifica um equilíbrio entre afirmação e negação. É “espontânea” quando esse equilíbrio resulta da falta do exame entre ‘prós e contras’. É “refletida” quando o estado de equilíbrio permanece após o exame dos…’prós e contras’. A dúvida “metódica” consiste na suspensão provisória (fictícia ou real) do consentimento…à validade de uma afirmação, tida até então por certa, para lhe controlar o valor. E a “universal“…consiste    em considerar toda afirmação incerta (exemplo clássico: “Só sei que nada sei”, Sócrates).

Ignorância‘ consiste na ausência de qualquer conhecimento relativo a um determinado objeto. O conhecimento discursivo é aquele que se dá de forma mediata, ou seja, por meio de conceitos. Opera por etapas do pensamento…em encadeamento de ideias, juízos    e raciocínios lógicos que levam a uma dada conclusão. — Já a opinião é tão passível de enganos, que mesmo as razões em contrário não lhe garantem uma certeza. O seu valor depende da maior ou menor probabilidade das razões que fundamentam sua afirmação.

Intuiçãoe conhecimento científico                                                                                    O cosmos é uma auto-organização…da qual somos parte imanente”. (Nelson Job)

A preocupação do cientista é chegar a verdades que possam ser afirmadas…e chegar ao conhecimento dessas verdades. Tal conhecimento se dá de 2 formas: na ‘intuição’, e no conhecimento discursivo. A ‘intuição é um modo de conhecimento imediato…onde o pensamento presente no espírito humano é atingido sem intermediários. – Pode então      ser conceituada como sendo uma…”revelação súbita“…Na metodologia científica, a intuição pode ser considerada como ponto de partida do conhecimento, da descoberta,        da possibilidade de…”invenção”…trazendo consigo os grandes saltos do saber humano.

(texto base, 1977) Roderick Chisholm # (Construção do conhecimento científico, 2007)  *******************************************************************************

CIÊNCIA & MÉTODO                                                                                                                  A palavra “ciência” vem do latim “scientia”, que significa…”conhecimento”…buscando        compreender “leis naturais” para explicar o funcionamento das coisas do universo em        geral. Para isso se fazem observações, verificações, medições, análises e classificações,  com o objetivo de entender os fatos…e traduzi-los para uma… “linguagem estatística”. 

método científico

Ciência é um conceito complexo. Aristóteles a definiu como um conhecimento que pode ser expresso por uma demonstração — ou seja… comprovado com base em observações, análises e experimentos — levando em conta as mais diversas hipóteses sobre o assunto.

O método científico                                                                                                 Normalmente, para orientação do planejamento da pesquisa, o método científico                segue algumas etapas básicas…quais sejam: observação, elaboração do problema, levantamento de hipóteses, experimentação, análise dos resultadose conclusão.

O método científico é, fundamentalmente, um conjunto de regras para se realizar uma experiência, com o objetivo de produzir ‘novo conhecimento’ – corrigindo aqueles pré-existentes. Essas regras são necessárias para coibir a“subjetividade”, direcionando a pesquisa para a produção de “conhecimentos válidos” — o que significa… “científicos”.      Entre os vários tipos de métodos científicos, em linhas de procedimento, destacam-se:

  • Experimental: engloba os métodos hipotético-dedutivode observação e medição.
  • Dialético: considerando o constante movimento dos fenômenos históricos e sociais.
  • Empírico-analítico: com base na… “lógica empírica” – este “método reducionista” diferencia os elementos de um fenômeno, revelando cada um deles individualmente.
  • Histórico: relaciona o fenômeno estudado…às suas etapas – na ordem cronológica.

Períodos históricos

1) CIÊNCIA GREGA (Século VII AC até final do século XVI)                                            Também conhecida como “filosofia da natureza” – este conhecimento desenvolvido pela filosofia, hoje distinta da ciência, preocupava-se com a compreensão humana das coisas. 

Na concepção dos filósofos pré-socráticos (abandonando a “mitologia”…onde fenômenos ocorriam devido a forças espirituais e sobrenaturais) passa a existir uma ordem natural no Universo – não influenciado por “Deuses”. Já no “modelo platônico” o real não está na experiência adquirida nos fatos e fenômenos apreendidos pelos sentidos…para eles, o verdadeiro mundo está nas “ideias”, obtidas da inteligência, através da busca da verdade pelo diálogo ou lógica desenvolvida por teses, nos fornecendo o que de fato as coisas são.

Já para Aristóteles o conhecimento deve ter uma justificativa lógica, apresentando-se argumentos para sustentarem os princípios – pois nenhum efeito ou atributo poderia existir se não estivesse ligado a alguma causa…Seu modelo propõe assim uma ciência    que, amparada na necessidade do observável…produza conhecimento fiel à realidade.

2) CIÊNCIA MODERNA (Século XVII até final do século XIX)                                              No ‘Renascimento’, com a introdução da experimentação científica, modificou-se radicalmente a concepção teórica de mundociênciaconhecimentoe método. 

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Isaac Newton (1643-1727)

Segundo Bacon…“a natureza é a mestra do homem, e para dominá-la devemos obedecê-la”. E para isto, seria preciso uma “indução experimental” para várias coisas ainda por acontecer – ede posse das informações, concluir então sobre os … “casos positivos”.

Isto passou a ser conhecido como “método científico”, e deveria seguir os seguintes passos:

  • Experimentação
  • Formulação de hipóteses
  • Repetição da experimentação por outros cientistas
  • Repetição do experimento para testagem das hipóteses
  • Formulação das generalizações e leis

A revolução científica moderna foi idealizada por Galileu Galilei (1564-1642) ao introduzir a matemática e geometria como linguagens científicas, e o teste quantitativo experimental, estipulando com isto a chamada“verdade científica”. A visão do universo por Galileu era de um mundo aberto, unificado, determinista, geométrico e quantitativo…muito diferente daquela concepção aristotélica – impregnada pelo resquício das crenças míticas religiosas. Galileu estabeleceu assim o domínio do “diálogo experimental científico”…entre homem e natureza. Pela razão e inteligência o homem teoriza e constrói a interpretação matemática do real – e à natureza cabe então responder se concorda ou não com o modelo sugerido.

Newton, numa interpretação diferente da de Galileu, afirma que suas leis e teorias eram tiradas dos fatos, sem interferência da especulação hipotética. Esse seria o método ideal, através do qual se poderia submeter à prova, uma a uma, as hipóteses científicas. Assim fica estabelecido o novo método científico “Indutivo-Confirmável”, no seguinte formato:

• Observação dos elementos que compõem o fenômeno.
• Análise da relação quantitativa existente entre elementos do fenômeno.
• Introdução de hipóteses quantitativas.
• Teste experimental das hipóteses para verificação.
• Generalização dos resultados em lei.

O sucesso da aplicação de Newton, no decorrer de 3 séculos, gerou tal confiabilidade neste tipo de ciência, que fez com que, não apenas as ciências naturais, mas também as sociais e humanas procurassem esse ideal científico, e o aplicassem, para ter os mesmos resultados.

3) CIÊNCIA CONTEMPORÂNEA (Início do século 20 até os dias de hoje)                          No início do século 20, as ideias de Einstein e Popper revolucionaram a concepção de ciência e método científico. ‘Princípios’…tidos com incontestáveis no século 19, foram cedendo seu lugar à atitude crítica; a partir deles desmistificou-se a concepção de que método científico é um procedimento regulado por normas rígidas que o investigador      deve seguir para a produção do conhecimento científico. A bem da verdade, há tantos métodos … quantos forem os problemas analisados… – e os investigadores existentes.

Na ciência contemporânea, a pesquisa é resultado da identificação de dúvidas…e da necessidade de elaborar e construir respostas para esclarecê-las. Nela, a investigação desenvolve-se pela necessidade de uma possível solução para um problema…oriunda          de algum fato…ou grupo de conhecimentos teóricos. Analisando a história da ciência, constata-se que muito de seus princípios básicos foram modificados, ou substituídos,        em função de novas conjeturas, ou padrões. Isto aconteceu quando Galileu mudou    uma parte da mecânica de Aristóteles… e quando Einstein fez o mesmo com Newton.          A concepção atual da ciência, com efeito, está muito distante das visões aristotélica e modernanas quais o conhecimento era aceito como científico – quando justificado    como verdadeiro. A ciência de hoje reconhece não haver regras para uma descoberta,        tal como não há para as artes… E assim, a atividade do cientista é similar a do artista. Pesquisadores podem seguir caminhos diversos para chegar a uma conclusão, mas o objetivo da ciência ainda é o de criar um mundo cada vez melhor para vivermos – ao alcançar um conhecimento científico sistemático e seguro de toda realidade numa investigação contínua e incessante de soluções/explicações aos problemas propostos.

A ‘ciência’ é uma aventura ousada … de objetivos nunca jamais alcançados… usualmente obtidos combinando-se uma série de ideias… já anteriormente disponíveis. Nesse jogo criativo, sua atividade é uma tentativa de entender o desconhecido com nossos melhores recursos cognitivos — incluindo a “imaginação”. (texto base1) (texto base2) (texto base3**********************************************************************************

FILOSOFIA e CIÊNCIA (uma complementaridade)                                                              Historicamente – ciência e filosofia surgiram juntas… – e durante muito                                  tempo se confundiram – a própria física começou como filosofia natural.

plataoDe origem grega, a palavra filosofia significa amor à sabedoria. Desde a Antiguidade a surpresa e espanto perante o mundo levam o homem a formular questões sobre a origem e      razão do Universo, buscando assim,            o sentido para a própria ‘existência’.   

Todos aspectos da cultura humana podem ser objeto de reflexão; cada corrente filosófica está inserida na estrutura econômica – política – e social de algum… ‘momento histórico’.  Segundo a tradição…foi Pitágoras, matemático e filósofo grego do séc. VI a.C, quem criou    a palavra… “Philosophia” (“amigo do saber”) — atribuindo a ela um profundo sentimento religioso e ético. — A partir daquela época — todos os filósofos têm tido a preocupação de definir adequadamente a…’amplitude do termo‘ – o que, aliás…tem propiciado múltiplas definições sobre a verdadeira natureza da ‘Filosofia’, e seu verdadeiro sentido para a vida.

Vivemos em uma época na qual os filósofos…em sua maioria…estão muito afastados dos cientistas. Com o passar do tempo…a ciência ganhou uma complexidade cada vez maior,    e enquanto nossa compreensão do mundo e universo (ao menos a nível fenomenológico) se expande, uma atividade fica cada vez mais distinta da outra, e as fronteiras da ciência parecem cada vez mais distantes…para muitos, de quase toda atividade cientifica. Desse modo – chegamos a uma…”cisão suspeitíssima”…na qual supõe-se ser possível produzir ciência da alta qualidade, sem nunca gerar qualquer pensamento filosófico novo…sendo assim possível filosofar sobre a… ‘realidade’ sem conhecer, ou se reportar à… ‘ciência’.

Por outro lado…a ciência não pode avançar, ou sequer existir, sem filosofia cujas estruturas…conscientes ou não, constituem a ferramenta através da qual tentamos interpretar a realidade…Até ai, poderíamos conceber a filosofia como fundamento implícito e dissociado do objeto da ciênciaMas conhecer não consiste apenas em preencher com percepções e experiências uma forma já pronta. – Ao contrario, os         grandes saltos da razão se dão justamente quando reformulamos nossos conceitos.

O tipo de conhecimento que a ciência pretende obter da realidade…se acha bem mais nas estruturas que descobre serem adequadas para interpretá-la, do que no acumulo infinito de percepções. Assim, todo grande avanço na ciência…não só requer, mas consiste numa mudança nas… “estruturas filosóficas” — através das quais podemos pensar a realidade.

Na medida em que a ciência avançapenetra em domínios que antes pertenciam à filosofia, nossa apreensão da realidade se altera…e aos poucos questões que antes pertenciam por excelência ao domínio do…”debate filosófico”, e mesmo demarcavam limites do cognoscível, passam a poder ser tratadas ‘cientificamente’. Questões como “O que são estrelas?”, “O que  é luz?”…“Será o Universo infinito?”… que em outras épocas eram filosóficas – hoje, podem também ser consideradas como…’científicas’. 

Já outras questões como: “O que é o bem?”…“Por que estamos aqui?”…“Existe Deus?”,  são ainda hoje, sobretudo, competência da filosofia. Talvez algum dia se torne possível tratá-las no âmbito da ciência…talvez não…A filosofia é mesmo mais abrangente que a ciência. Todavia, é dever do filosofo perceber que aquelas revolucionarias descobertas cientificas… — não apenas apresentam consequências filosóficas profundas… — como,    mais do que isto…consistem em reformulações filosóficas, muito bem fundamentadas.

FILOSOFIA DA CIÊNCIA                                                                                                                      A ciência responde a duas grandes necessidades do ser humano: compreender a natureza,  e agir racionalmente sobre ela…À necessidade de compreender corresponde hoje o que se entende por “ciência pura” – e à necessidade de agir … uma ciência aplicada (‘tecnologia’).

A ciência é um ramo do conhecimento sistematizado por princípios rígidos e regras especificas. Tal organização caracteriza o conhecimento científico, e o diferencia do conhecimento vulgar, ou empírico, que se limita a verificar fatos…sem buscar deles      alguma explicação racionalnem suas relações inteligíveis com outros fatos. Sua procura abrange os antecedentes necessários dos fenômenos, chamados“causas”;        mas sendo estas apenas as “eficientes”, não as ‘primeiras’ (originais), nem ‘últimas’ (causas finais)…do domínio da filosofia. – Ocupa-se assim em descobrir as leis dos fenômenos, isto é…as relações necessárias entre 2 fatos, de maneira que para certa quantidade de um deles se defina uma determinada quantidade correspondente              do outro. Advém daí a obrigatória aplicação da Matemática…como característica fundamental da ‘ciência moderna’, bem como o emprego do ‘método experimental’.

Quanto às qualidades do investigador científico…pode dizer-se que são principalmente        a paixão pela precisa observação dos fatos, a objetividade de concepção, o senso crítico,      e um intuitivo inter-relacionamento das partes… A lógica da descoberta consiste numa íntima combinação/alteração do processo indutivo e do dedutivo. O primeiro passo da investigação consiste no coligir dos dados sobretudo nas mensurações, minuciosas e exatas; a seguira classificação dos fatos para depois, a concepção de uma hipótese explicativa a que se segue a devida experimentação…com a finalidade de verificar se        a hipótese é por ela confirmada ou informada. – O resultado é a formulação de uma lei.

O objetivo final da ciência é formar um quadro ordenado e explicativo dos fenômenos,    que nos permita, em termos de relação causa/efeito, o domínio do seu funcionamento,    de modo a poder prever sua sequência – garantindo assim… maior controle e domínio      da natureza. Por tudo isso, a ciência é reversível…sujeita à controvérsia, e modificação      de seus quadros explicativos A objetividade do conhecimento científico relaciona-se diretamente com a eficaz articulação dos ‘meios técnicos’…com os ‘conceitos naturais’.

A RECONSTRUÇÃO DO REAL                                                                                                            Pretender alcançar a realidade através da ciência, sem empregar filosofia – é como tentar construir a cobertura de um prédio antes de lançar as fundações. Mas filosofar ignorando a ciência é como estudar fundações desprezando os arranha-céus já construídos por aí.

reconstrucao_da_realidadeA compreensão humana como tentativa de ordenação…e estruturação…dos seus elementos perceptivos‘…se apresenta a nóscomo um esforço de apreensãoe racionalização da realidade, que em sua totalidade – não pode limitar-se apenas aos ‘dados espontâneos’ imediatamente captados … através dos nossos sentidos.

O objetivo da ciência consiste em estabelecer uma ordenação constante nas sequências dos fenômenos, ou nas relações entre fenômenos … que nos permitam explicá-los, e prever seu funcionamento. Para isso criam-se métodos e instrumentos adequados para reconstruir os fatos experimentalmente, dando da realidade uma…”percepção“…a qual podemos chamar de uma visão pensada e construída. Assim, tal organização da realidade procura substituir a imagem imediata da experiência corrente do dia a dia por uma unidade/identidade que permita estabelecer leis constantes“…que nos assegurem um certo domínio da realidade.

Nessa reconstrução da realidade a ciência deixa de lado a espontânea observação imediata (e ingênua) do senso comum meramente empírica para…com artifícios instrumentais, proceder a uma observação rigorosa e sistemática – que nos permita quantificar o real – e construir dele uma determinada “visão objetiva”… O “vívido imediato” do homem comum, as impressões sensíveis do cotidianona ciência, são substituídas pelo rigor instrumental; por uma leitura de medições em escala padronizadaque as reduzem a unidades precisas.

UMA FRONTEIRA NEBULOSA                                                                                                            O que distingue uma ciência de outra – não é a natureza dos                                            objetos estudados, mas o ponto de vista sob o qual os estuda.

As relações entre filosofia e ciência sempre estiveram, e continuam…mais do que nunca, marcadas pelo sinal da ambiguidade, que se estabelece com maior frequência, ao tornar conceitos sinônimos e unívocos. Tal identidade porém não se realiza com exatidão, pois tanto cientistas quanto filósofos…nem sempre tomam o cuidado de… ‘distinguir’ – para finalmente poderem unir. — Daí então… as confusões… as intempestivas reivindicações territoriais e/ou de soberania… as mutuas depreciações… as ignorâncias… ou anátemas.

A ciência expandiu-se tanto nos últimos séculos, que muitas vezes filósofos e cientistas perdem de vista que são atividades com uma fronteira…frequentemente nebulosa…em comum, onde quanto mais a filosofia discute ‘realidade concreta’, mais se aproxima da ciência, enquanto que a crescente universalização da ciência, faz esta recorrer cada vez mais aos caminhos da… “filosofia pura”… Porém, por mais forte e evidente que seja tal ligação, sempre há uma forma de se desfrutar de considerável popularidade…ao negar,  não só acessibilidade mas a própria existência de uma “realidade objetiva” (concreta suposição básica, sem a qual a ciência se torna – não só desconectada da filosofia, mas completamente inviável). – A consequência destas concepções “subjetivas/relativistas”      é uma idolatria de opiniões…onde ninguém está efetivamente “com razão” sobre coisa alguma. – E assim, em tal situação, isentos de qualquer responsabilidade…como nada      faz sentido mesmo…só nos resta submeter perenemente nossa vontade pessoal a tudo        e a todos; ao invés de tentar adaptar nossas concepções…a tudo que nos faz percebido.

Felizmente, essa visão dantesca de mundo se revela de pouca consistência. Afastada a possibilidade de todas nossas realidades subjetivas numa única e universal “realidade objetiva”…qualquer proposta filosófica se transforma num fim em si mesma – em um “delírio exclusivamente formal” … pois a evidência mais contundente da existência de algum tipo de realidade objetiva subjacente se justifica, justamente, pelo sucesso cada    vez maior que a ciência vem obtendo em operar baseada nessa suposição. (texto base) ********************************************************************************

Relação entre filosofia e ciência…Diferenças e semelhanças                                        Enquanto a Ciência se ocupa de problemas específicos dos fenômenos naturais a Filosofia trata dos problemas gerais‘. Porém, em última análise, o estudo de ambos              não é contraditório, e sim…complementar. (Juliana Bezerra/Professora de História)

mae-da-cienciaA ‘filosofia da ciência’ é o campo de estudo filosófico focado…na compreensão…no questionamento…e no aprimoramento dos processos e métodos científicos, buscando sempre garantir os fundamentos para que o trabalho científico se dê da melhor forma possível, proporcionando um saber “naturalmente confiável”.

A filosofia da ciência pode discutir a importância de um método científico rigoroso, bem como elaborar conceitos que norteiem a criação desse método… Além disso, ela lida com conceitos importantes para a ciência, como verdade, validade argumentativa, paradigma,  e com a importância da… – “problematização” ou seja, do questionamento e da dúvida.    O filósofo, lógico e matemático inglês contemporâneo Bertrand Russell – afirmou quea filosofia é a ciência dos resíduos“. – Essa afirmação ancora-se no fato…de que a filosofia, apesar de participar de todo o conhecimento racional no início do pensamento ocidental, teve que se contentar (após a “revolução científica moderna”), em proporcionar as bases metodológicas para qualquer saber que se pretenda racional. O ‘conhecimento filosófico’ tornou-se assim o conforto racional buscado por cientistas para estabelecer suas teorias, sem esbarrarem em preceitos, que deixariam seu trabalho sem a correta fundamentação.

Mesmo com a filosofia sendo uma espécie de “mãe” das ciências…a “filosofia da ciência” busca a compreensão e aprimoramento dos métodos e processos de validação científica. Enquanto a ‘ciência’ ocupa-se com seu objeto específico de estudoa ‘filosofia’ procura entender se esse objeto é corretamente estudado além de tentar aprimorar os modos    do fazer científico…a fim de proporcionar à ciência a maior “validade racional” possível.

Epistemologia & método científico                                                                                      Um dos ramos que ajuda a ciência por meio da filosofia é a…”epistemologia“,                    que busca compreender como o ser humano consegue chegar ao conhecimento.

A pergunta ‘o que é’, é antiga e importante para a composição do conhecimento filosóficopois ela busca pela essência de algo – possibilitando assim a enunciação do ‘conceito’ que delimita o que é perguntado… Não podemos dizer, a rigor, que filosofia é uma ciência por diferenças entre o método e objetos de estudo de uma e outra. Enquanto a ciência moderna…busca conhecer objetos bem delimitados – o campo da filosofia é amplo, em relação à possibilidade de estudos.

A filosofia pode dedicar-se a tentar conhecer absolutamente tudo o que é de formação humana ou racionaldesde a moral, a ética e a políticaaté a lógica, os fundamentos    das ciênciasde modo geral, os fundamentos da matemática, as técnicas, as artes etc.

A filosofia surgiu muito antes das ciências. Enquanto estas, como as conhecemos hoje, datam do período da Modernidade, mais ou menos no século 16, a filosofia teria surgido no século 6 a.C. O que há em comum entre estas 2 áreas é a busca por um conhecimento que seja válido, racional, fuja do senso comum, e seja passível de validação…ou racional (filosofia), ou demonstrações e pesquisas empíricas (ciência)Nessa relação entre duas áreas do conhecimento, a filosofia é uma espécie de “mãe” das ciências, por ter sido a 1ª    a questionar o saber tradicional e de senso comumbuscando respostas mais racionais.

Por serem áreas distintas do conhecimento, filosofia e ciência possuem suas diferenças, porém, não podemos considerá-las áreas completamente antagônicas. Pela filosofia, as ciências encontraram caminho para formarem-se – como uma busca de ‘conhecimento racional’amparando-se na necessidade de estabelecer-se algum tipo de ‘validação’ do que é conhecido. Já a filosofia ampara-se na racionalidade…para pautar e validar o seu conhecimentoassim como a ciência. No entanto, em relação ao rigor metodológico, a ciência vai alémO método científico procura não somente pautar-se na racionalidade, como também provar empiricamente, por testes rigorosamente controlados – que suas suspeitas são verdadeiras. Então, enquanto a filosofia lida apenas com conceitos e com argumentos, a ciência lida com a prática. Mas, por uma área ampla do saber, a filosofia pode investigar as mais diversas áreas do conhecimento, e fundamentar várias ciências.

GalileuDa filosofia para a ciência

A filosofia é uma espécie de conhecimento                          geral e fundamental sobre a racionalidade.                          Seu objetivo é compreenderquestionar e                    fundamentar as diversas áreas do…’saber’,                    tanto de modo amplo e geral, quanto mais          específico, podendo fornecer assim ajudar                        na fundamentação … de uma dada ciência.

As regras, fundamentos e conceitos, racionalmente organizados, de determinada ciência encontram-se no âmbito da “filosofia” daquela ciência. Assim, temos então a filosofia da matemática, do direito, da educação, da história, da ciência…entre outras tantas. Apesar de parecer que a filosofia entra apenas como uma palavra comum, deslocada do sentido original, para designar os fundamentos encontrados por aquela ciência, filósofos em seu trabalho se dedicam a buscar as profundas raízes teóricas que constituem essas ciências.

A filosofia busca sobretudo entender processos gerais do conhecimento          e do raciocínio, formulando uma espécie de… “teoria do conhecimento” (epistemologia), cujo objetivo é compreender os traços…que mostram          os modos como o conhecimento ocorre na formação da mente humana.

De Platão aos filósofos contemporâneos, várias teorias epistemológicas foram formuladas. Destacamos as teorias modernas, que se centraram em tentar entender se o conhecimento ocorre na mente de maneira “empírica” (por meio da “experiência prática”) ou de maneira completamente cognitiva e racional. – O primeiro grupo é conhecido como…”empirista“, enquanto o segundo — faz parte do chamado grupo dosracionalistas“. (texto base********************************************************************************** 

einsteinTeorias científicas & ‘Processo filosófico’  O que se entende por teoria científica é que seja algo, até prova em contrário, provado‘. Teorias científicas podem ser tomadas como verdade. Mas, teorias estruturadas abstrativamente; sem necessidade de experimentos e observação… tal como a…Navalha de Ockham…são anteriores à própria…’teorização científica’, se tratando de “teorias filosóficas”… – fundamentais à ciência.

Nesse sentido, o significado científico de teoria difere do significado filosófico…havendo inclusive inúmeros pensamentos, também considerados teoriaindependente de serem validados cientificamente, ou não (exemplo…a “teoria do valor-trabalho”…em economia política, concorrendo sua validade com outras pseudo-teorias como a do valor marginal).  Um outro exemplo de ‘teoria filosófica’, portanto não-científicaé a longa disputa entre “realismo x idealismo”que é totalmente teórica, metafísica e abstrata…Não se trata de algo para se… “provar cientificamente” – pois a articulação para sustentar uma ou outra posição é filosófica. Mesmo assim… o que for definido dessa discussão…por exemplo, se átomos existem realmente, ou se são apenas ‘constructos teóricos’…criados para melhor entendermos um fenômeno estranho…irá impactar a fundo na própria prática científica.

Teoria científica e teoria filosófica parecem evidentemente divergir… levando em conta que, como comumente entendido no campo científico…para ser uma teoria, deveria ter    um experimento, ou teste comprovados – o que não se aplica a muitas ideias…também consideradas teóricas, no relativo…”senso-comum“…do ‘campo filosófico’. (texto base) *****************************(texto complementar)*******************************

Novo paradoxo quântico (“3º excluído”) em nossa visão do Universo (ago/2020)    Kok-Wei Bong e colegas da Universidade Griffith, na Austrália, acabam de nos dar mais um exemplo cabal dessa insustentável fluidez do saber, demonstrando que quando se trata de certas teorias longamente aceitas sobre a natureza, alguma coisa tem que ceder.    A equipe de físicos levantou um novoparadoxo quântico“, estabelecendo que – entre 3 princípios, devemos abrir mão de pelo menos 1 delespara que os outros se sustentem.

Nos acostumamos com explicações que a ciência costuma nos dar sobre a natureza, frequentemente – considerando-as como “explicações definitivas“. — Mas não nos enganemos pelas aparências. Poucas das nossas teorias— se é que alguma delas,      pode ser considerada como“definitiva”.  Afinal — além de extremamente jovem, a ciência está em ‘permanente construção’,          e nossa compreensão da natureza — está constantemente sendo “ajustada”para conseguir “dar conta” dos novos saberes.

Pressupostos fundamentais sobre a natureza          

Mesmo excepcionalmente eficaz para predizer o que observamos em objetos minúsculos, como átomos, a aplicação da “teoria quântica” em escalas muito maiores – em particular para os observadores que fazem as medições, traz questões conceituais complicadas. – O professor Eric Cavalcanti, um dos que elaborou o paradoxoexplica esta situação assim:

“O paradoxo significa que, se a ‘teoria quântica’ funcionar, ao descrever os observadores  os cientistas terão que desistir de uma das 3 ‘suposições’ mais estimadas sobre o mundo.  A 1ª delas é que…quando é feita uma medição, o resultado observado é um evento real e único no mundo. Essa suposição exclui, por exemplo, a ideia de que o Universo possa se dividir … com diferentes resultados sendo observados em diferentes universos paralelosO 2º pressuposto é que ‘cenários experimentais’ podem ser escolhidos livremente — nos permitindo realizar testes aleatórios. E o 3º é que uma vez feita a escolha, sua influência não pode se espalhar no universo mais rápido do que a luz. Cada uma dessas suposições fundamentais parece inteiramente razoável…e amplamente aceita. No entanto, também    é amplamente aceito que experimentos quânticos podem ser escalonados para sistemas maiores; até mesmo a nível de observadores. Mas nós demonstramos que uma dessas crenças amplamente aceitas deve estar errada!… E abandonar qualquer uma delas, tem consequências de longo alcance para nossa compreensão do mundo” … disse Cavalcanti.

emaranhadoParadoxo quântico-filosófico

A equipe estabeleceu o paradoxo analisando um cenário com “partículas quânticas entrelaçadas” bem separadas incluindo um “observador” quântico … um “sistema quântico” que pode ser manipulado e medido de fora, mas podendo ele mesmo fazer medições numa partícula Quem  explica o experimento — é a Dra. Nora Tischler:

“Com base nessas 3 hipóteses fundamentaisdeterminamos matematicamente os limites de quais resultados experimentais são possíveis nesse cenário. Contudo, a teoria quântica, quando aplicada aos observadores, prevê resultados que violam esses limites. Na verdade, já fizemos um experimento de ‘prova de conceito‘…usando fótons entrelaçados…achando uma violação exatamente como prevista na teoria quântica. Mas nosso ‘observador’ tinha um tipo de cérebro muito pequeno – por assim dizer… com apenas 2 estados de memória,  implementados como 2 caminhos diferentes para um fótonÉ por isso, que o chamamos de experimento deprova de princípio‘, e não uma demonstração conclusiva de que um dos 3 pressupostos fundamentais deste paradoxo deva estar errado”… ponderou Tischler.

E, acrescentou o professor Howard Wiseman…“Para uma implementação mais definitiva do paradoxo – nosso ‘experimento mental’…é aquele em que o observador quântico é um programa de inteligência artificial a nível humano, rodando num gigantesco computador quântico…Esse seria um bom teste para saber se a teoria quântica é observacionalmente falha, ou se uma das 3 suposições fundamentais é falsa. – Mas isso provavelmente levará décadas…para que possa ser realizado experimentalmente. – Há muito se reconhece que ‘computadores quânticos’ irão revolucionar nossa capacidade de resolver problemas difíceis. O que ainda não percebemos, é que eles também podem nos ajudar a responder problemas, tais como a natureza da relação entre mundosfísico e mental”. (texto base**********************************************************************************

A dimensionalidade do tempo (fev/2021)                                                                                  Em 14 de setembro de 2015 o observatório ‘LIGO’, pela 1ª vez, detectou a existência            de ondas gravitacionais. Sua implicação científica é grande, mas também a filosófica,        ao demonstrar a falsidade da doutrina, que afirma a existência exclusiva do presente.

salvador-dali-tempoQuantas dimensões o mundo tem? Para alguns filósofos ‘imediatistas‘ são apenas as 3 dimensões espaciais…E o tempo?…Eles pensam que só existe o momento presente…nem passado ou futuro têm “existência real”. Do passado podemos lembrar, mas não existe mais — enquanto o futuro … como ainda não aconteceu…não existe. – Apenas “há” o momento presente…e um momento não constitui uma dimensão (conjunto infinito de pontos), mas um único ponto. Mas esta visão filosófica, similar ao senso comum, comprovadamente…é incorreta.

A teoria da relatividade especial é prova disso. Não existe “um” momento presente para todos os sistemas que constituem o Universo. Eventos que podem parecer ‘simultâneos’ para um observador, são sucessivos para outro. Se a existência não depende do sistema      de referência usado para descrever o mundo (“princípio da objetividade”)então não é possível afirmar que “apenas o presente existe”A “relatividade geral”, entretanto, nos deu evidências ainda maiores para pensar que passado e futurosão tão reais quanto o presente, e que as dimensões do mundo são 4não 3. Isto é…o tempo é uma dimensão      tão válida e real quanto as espaciais – da qual faz parte um “objeto quadridimensional”.

Uma forma de comprovar essa afirmação, foi dada pela colaboração LIGO, ao relatar a deteção direta de ondas gravitacionais. O anúncio…feito em fevereiro de 2016, refere-se      a um evento registado em 14 de setembro de 2015. — As ondas gravitacionais detetadas, foram produzidas pela fusão de 2 buracos negros, o que resultou em emissão energética      de 3 massas solares…na forma de ondas gravitacionais. – Como o evento ocorreu a uma distância de uns 400 megaparsecs, as ondas viajaram pelo espaço perto de 1,3 bilhão de anos…Posteriormente, um segundo evento foi detetado em 26 de dezembro de 2015O sinal, produzido por um sistema menos massivo, foi anunciado em 15 de junho de 2016.

Estas detecções mostram a correção da relatividade geral em suas previsões de campos gravitacionais – confirmando    a existência das “ondas gravitacionais”,    e fornecendo novas evidências de BNs.  E tambémpara o astrofísico Gustavo Romeropodem servir para mostrar a falsidade de uma ‘doutrina presentista‘,  de acordo…com o seguinte argumento:

1. Existem ondas gravitacionais. 2. Estas têm curvatura de Weyl diferente                          de zero. 3. Essa curvatura de Weyl só é possível…em 4 ou mais dimensões.                          4. Sendo a doutrina incompatível ao mundo quadridimensional … é falsa.

As premissas 1 e 3 são necessariamente verdadeiras. – As “ondas gravitacionais” se propagam no “espaço vazio”, onde as equações de campo de Einstein implicam que componentes da gravitação associados à matéria, no vácuo, são identicamente zero.      Mas, a curvatura total do espaço-tempo não engloba apenas esse tipo de ‘curvatura’          (de Ricci), como também a curvatura associada ao próprio… “campo gravitacional”, chamada “curvatura de Weyl, representada por um objeto matemático, conhecido        como “tensor de Weyl”. Portanto, como as ondas gravitacionais são alterações na curvatura do espaço-tempo, com elas – o tensor de Weyl deve ser diferente de zero.

Se as dimensões do mundo fossem 3, como então proposto, o tensor de Weyl deveria        ser zero. Só em 4 ou mais dimensões a gravidade pode se propagar no espaço-tempo        vazio. Portanto, o presentismo é incompatível com um mundo quadridimensional;    mas sendo esta essencialmente a doutrina das coisas atemporais, admitir a extensão temporária — significa desistir de sua afirmação básica… “não há futuro ou passado”. Conclui-se então que a existência de ondas gravitacionais torna falso o ‘presentismo’.

Mais uma vezvemos como as ‘observações astronômicas’, baseadas em considerações físicas, podem servir para testar doutrinas filosóficas. Quanto mais próximas da ciência estão as teorias filosóficas, mais factível é estabelecer sua plausibilidade. Por outro lado, quanto mais informada a ciência dos…problemas filosóficos…mais diretas serão suas contribuições ao conhecimento do mundo… – Nesse círculo virtuoso… nossa esperança talvez resida em que, algum dia…”pensemos filosoficamente” sobre todos os problemas científicos, e resolvamos cientificamente…todos os “problemas filosóficos”. (texto base)

Sobre Cesar Pinheiro

Em 1968, estudando no colégio estadual Amaro Cavalcanti, RJ, participei de uma passeata "circular" no Largo do Machado - sendo por isso amigavelmente convidado a me retirar ao final do ano, reprovado em todas as matérias - a identificação não foi difícil, por ser o único manifestante com uma bota de gesso (pouco dias antes, havia quebrado o pé uma quadra de futebol do Aterro). Daí, concluí o ginásio e científico no colégio Zaccaria (Catete), época em que me interessei pelas coisas do céu, nas muitas viagens de férias ao interior de Friburgo/RJ (onde só se chegava de jeep). Muito influenciado por meu tio (astrônomo/filósofo amador) entrei em 1973 na Astronomia da UFRJ, onde fiquei até 1979, completando todo currículo, sem contudo obter sucesso no projeto de graduação. Com a corda no pescoço, sem emprego ou estágio, me vi pressionado a uma mudança radical, e o primeiro concurso que me apareceu (Receita Federal) é o caminho protocolar que venho seguindo desde então.
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Uma resposta para Fragmentos de Ciência & Filosofia (em busca de Harmonia)

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