Epistemologia da Complexidade (Bachelard & Morin)

globalização

A humanidade vive um complexo processo de transformações — atuando em escala global e local … integrando/conectando comunidades,  eas pessoas que as compõem em inéditas combinações de espaço e tempo…redefinindo as identidades, compreensões, e o ‘papel‘ dos indivíduos…Tal conjunto de mudanças, pode ser definido como globalização‘; fenômeno contemporâneo “multicultural“, resultado da tensão … entre a exigência simultânea de um reconhecimento da diferença, e da igualdade.

Fomentada pela globalização — e, pelo multiculturalismo – brota uma nova reflexão acerca da filosofia e do papel que esta exerce sobre a ciência revisando seus fundamentos…e, mais que isto, seu dever  social — como garantia desta nova ordem.            Tal reflexão conduz às teorias de Gaston Bachelard e Edgar Morin…Seus estudos              sobre epistemologia, analisam os rumos da história, ao mostrar que numa “verdade circunstancial”…a intersubjetividade e a consensualidade…não asseguram a certeza.

A pretensão do presente estudo está voltada à ‘problematização’ do pensamento científico, e para tal, buscar-se-á a visão de ciência e construção do saber nos escritos desses autores,  uma vez que suas teorias convergem em muitos sentidos, dentre eles, à crítica de aspectos obsoletos da ciência clássica, e à afirmação de urgência, da construção de um pensamento complexo para a ciência… com um novo posicionamento do indivíduo diante da realidade.

O projeto de Bachelard consiste em ‘dar às ciências a filosofia que elas merecem’. Nesse intento, o presente trabalho revisita sua epistemologia, preocupando-se com as temáticas e categorias fundamentais…principalmente discutindo a produção do conhecimento… e a descontinuidade da ciência em seu ‘processo de ruptura’… – o ‘racionalismo aplicado‘.  Edgar Morin, por sua vez… propõe uma ‘epistemologia da complexidade‘…ou seja, uma epistemologia adequada ao ‘pensamento complexo‘, que rompendo com a matriz moderna, propõe um ‘novo posicionamento’ do indivíduo diante da realidade, numa nova forma de saber, a qual opõe-se diretamente à ciência moderna – que para ele se funda em um ‘paradigma da simplificação’, tendo como princípios…disjunção, redução, e abstração.

O QUE É “EPISTEMOLOGIA”?      Reflexões atuais, sobre diversas questões do saber, têm-se voltado à epistemologia, pois nela ciência e filosofia se encontram.

O termo ‘epistemologia’ provém do grego “episteme”… que significa ciência, e logos (teoria). Já o conceito, designa a gênese e estrutura das ciências — seja de ‘natureza filosófica’…ou ‘naturais‘…como objeto de investigação – no intuito de reagrupar…a ‘crítica’ do conhecimento científico…com a ‘filosofia’… — e, a ‘história das ciências’.

Por ‘Teoria do Conhecimento entende-se… a disciplina filosófica que tem por objeto, estudar os problemas levantados da relação entre sujeito cognoscente e objeto conhecido. Neste sentido – incluem-se aí a Epistemologia, que trata da natureza do conhecimento científico; bem como o empirismo lógico, que vê a ‘linguagem física’ como ‘paradigma’ para todas as ciências…e, onde só pode ser reconhecido como conhecimento, o científico.

Percebe-se que a epistemologia é ‘multiforme‘…pois de acordo com o contexto, pode se classificar como lógica, filosofia do conhecimento, sociologia, psicologia… história – mas, sempre possuindo como questão central, estabelecer se o conhecimento se reduzirá a um puro registro…pelo sujeito (de modo autônomo) dos dados já anteriormente organizados no mundo exterior – ou, se o sujeito intervirá ativamente… no conhecimento dos objetos.  Assim…ainda se encontra em aberto a questão acerca de qual seria seu domínio de saber.

BACHELAR: UMA NOVA EPISTEMOLOGIA                                                                    “Prova-se o valor de uma lei empírica, fazendo dela a base de um raciocínio.                        Legitima-se a um ‘raciocínio’… – fazendo dele… a base de uma experiência”.                 

“Captar o pensamento científico na sua dialética, realçar o carácter inovador da ciência contemporânea, com o espírito de síntese que a anima” – tal é o propósito de Bachelar. Para isso…sugere uma epistemologia não-cartesiana que apreenda o ritmo alternativo entre… realismo e positivismo… descontínuo e contínuo… racionalismo e empirismo…próprio da história científica. Bachelard então, assume a Epistemologia como uma filosofia das ciências que trata da relação entre sujeito cognoscente e objeto conhecido, adequada às “ciências contemporâneas”…Não aceita a ‘filosofia’ como uma síntese dos resultados gerais do ‘pensamento científico’ voltada às primeiras verdades, acabadas e definitivas, propondo um modelo aberto não dogmático… para vencer seus obstáculos.

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A cientistas… Bachelard mostra a necessidade de uma reforma subjetiva‘, pois…“o pensamento científico transforma…os próprios princípios do conhecimento“.  Aos filósofos, ele propõe considerar…o conhecimento      como evolução de um espírito, que permite variaçõesPropõe uma “epistemologia filosófica” não submetida      ao sistema clássico…mas, com ‘instrumentos teóricos’ próprios à cultura científica contemporânea de modo        a conciliar, o discurso filosófico, ao científico…Avalia      ele que, para o cientista…‘a filosofia é um resumo dos resultados gerais do pensamento científico prático’; e quanto ao filósofo; que filosofia da ciência tem por finalidade articular princípios da ciência… aos de um pensamento desinteressado dos problemas práticos.

Tais posicionamentos são ‘obstáculos epistemológicos’ que limitam o pensamento…de um lado…valorizando o geral; e de outro…o imediato. Para isso, propõe operar dialeticamente os “valores experimentais” e os “valores racionais”… característica da contemporaneidade, onde…o ‘empirismo’ precisa ser compreendido; e o ‘racionalismo’ – precisa ser aplicado”. 

O empirismo sem leis claras, coordenadas e dedutivas, não                            pode ser pensado/ensinado; já o racionalismo sem provas                        palpáveis…e aplicação imediata – não convence plenamente.

Na dialética dos conceitos construídos e reconstruídos pelo pensamento científico, nada é definitivo e imutável – assim… a ‘filosofia da ciência assume um pluralismo filosófico, capaz de servir tanto à experiência quanto à teoria… Utilizando um ‘perfil epistemológico, Bachelard adota um realismo ‘empírico-racional’, ao propor que o conhecimento pode vir de uma filosofia particular…porém, não pode fundar-se em uma ‘filosofia única’, pois seu progresso implica aspectos filosóficos variados… Defendendo uma razão livre e evolutiva, contrária à ‘razão imutável’, Bachelar entende como objetivo primordial do racionalismo, refletir sobre o atual ‘conhecimento científico’… – por meio de uma dialética do racional/ experimental. – Para isso, propõe que o “vetor epistemológico“… – ao tratar do saber científico, sempre caminhe do racional ao real… (nunca em sentido contrário).

Os pressupostos epistemológicos de Bachelard fundam-se em uma nova Filosofia da Ciência, cujo papel é intervir junto à ciência quando esta produz conceitos; pensando         a produção do saber científico… oferecendo “instrumentos teóricos para superar suas dificuldades… – salientando as ‘rupturas epistemológicas’ necessárias à verificação da descontinuidade existente entre o conhecimento comum, e o conhecimento científico;        estabelecendo assim – os “conceitos fundamentais”… para uma “nova epistemologia”.

MORIN: O PARADIGMA DA SIMPLICIDADE                                                                  “O ‘conhecimento científico clássico’ – usando do ‘rigor matemático’,                                  desintegrou a realidade… e, para poder quantificá-la, separou-a em                                    disciplinas. Ao negar a multiplicidade dos fenômenos, anulando sua                                  diversidade…fez da simplicidade… o paradigma científico moderno”.

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Tal como em Bachelard — e também para Edgar Morin, o… “método determinista”      da “ciência moderna” se justifica pela necessidade de um mundo fundamentado numa ordem universal dos fenômenos” produzindo a divisão entre…’filosofia’ e…’ciência’. 

Ao tornar-se uma lei, um princípio (o “paradigma“) põe ordem no Universo, reduzindo  o complexo ao simples, e banindo a desordem, a incerteza e o erro, sempre presentes nos fenômenos. – A simplicidade quer o uno e o múltiplo, mas não vê que o “Uno” pode…ao mesmo tempotambém ser Múltiplo“. Então, a simplicidade como paradigma, nem separa o que está ligado (disjunção); nem unifica o que está disperso (redução). Percebe-  se assim, que ao tratar do tema, Morin reconhece grandes avanços na ciência … os quais, porém — ao reduzirem o complexo ao simples…levaram às consequências percebidas no século 20: “A compartimentalização da realidade, levou à cegueira em relação ao global.”

Em consonância às ideias de Bachelard … de uma “epistemologia” integral e regional, Morin busca uma unidade das ciências, as quais teriam como objeto, não fragmentos estanques da realidade, mas sua ‘totalidade’. Para Morin, a ideia da necessidade de    uma… “unidade da ciência“… é incompatível com o quadro atual de fragmentação;  contudo, possível… – dentro do campo transdisciplinar de uma ‘physis generalizada’.  Nesse sentido… Morin prega a necessidade de uma “epistemologia da complexidade”,    que possa convir ao conhecimento do homem. Em seus escritos evidencia uma busca concomitante da “unidade da ciência” – e de uma teoria subjacente da complexidade humana. Entende ele que…“a ciência humana não possui um princípio que enraíze o fenômeno humano no ‘universo natural‘ — nem método apto a apreender a extrema complexidade – que o distinga de um outro qualquer ‘fenômeno natural’ conhecido”.

METODOLOGIA x EPISTEMOLOGIA                                                                                     “O pensamento muda com novas experiências, e estas                                                            estão … sempre … atualizando o conjunto das teorias”.

Tradicionalmente…parece não haver nada em comum entre Metodologia e Epistemologia, visto que a 1ª trata do estudo dos ‘métodos científicos, enquanto a 2ª representa o estudo crítico dos princípios, hipóteses e resultados das diversas ciências; no entanto, percebe-se que o estudo sobre estes princípios…deve levar em conta o método empregado por aquela.

O ‘empirista lógico‘ coloca epistemologia e metodologia em          planos diferentes. – Já aos “analíticos“…estas possuem a mesma concepção no que se refere ao rigor na produção do conhecimento.

Como a racionalização da experiência metodológica é a sua “epistemologia“, esta seria o campo teórico onde se produz o saber sobre o objeto da metodologia…Assim, nesse caso, a metodologia, ao refletir histórica e criticamente a produção do saber científico, analisa     os fundamentos da ciência, e suas produções, pois o método delimita os parâmetros da realidade onde o objeto será construído – sendo então… validado pela ‘epistemologia‘.

Bachelard, em sua filosofia da ciência, não especifica as duas disciplinas…Admite que o racionalismo, permanentemente almejado…exige multiplicação e mudança constante  de métodos… – tornando a ciência cada vez mais “metódica“. Observa também…que o conhecimento científico deve ser dinâmico, portanto…todo pensamento científico deve mudar diante de uma nova experiência”… – Por essa razão… não há ‘métodos perenes’,    e discursos sobre tais princípios (racionalismo aplicado)…serão sempre circunstanciais.

Nessa mesma linha… Morin pretende conduzir um discurso não acabado – situado em movimento, num pensamento complexo que liga teoria à metodologia, epistemologia e até ontologia – permitindo a passagem de níveis…do físico ao biológico – e deste ao antropológico, descrevendo numa metodologia específica…’unidades complexas‘.

POR UMA “EPISTEMOLOGIA HUMANA”

Uma ‘epistemologia integral‘, tem por objeto o conhecimento científico em geral … com todos problemas específicos setoriais. Mas ocorre que, embora os objetos das ‘ciências regionais’ sejam específicos…não cabem a uma ciência específica. Daí, portanto…vem a seguinte questão… – Vista como um todo…a epistemologia não dependeria basicamente dasciências humanas“?

De acordo com o…”empirismo lógico“… – a epistemologia é entendida como análise lógica das ciências, ou seja, sua linguagem é limitada    ao que pode ser captado objetivamente – já as “ciências humanas” atêm-se ao conhecimento    de fatos situados no campo do espaço e tempo.

Bachelard, partindo da ‘psicanálise do conhecimento objetivo’, relaciona epistemologia e ciências humanas… – destacando o valor da história das ciências e psicologia na reflexão sobre a reprodução do saber, onde… — “É preciso um incessante construir e reconstruir dialético da história passada…e da história sancionada pela ciência atual”… – E assim, desta ‘contextualização epistemológica’ surgem noções como obstáculo epistemológico e atos epistemológicos – essenciais à dialética proposta por Bachelard na compreensão do desenvolvimento científico… – Nesta compreensão, a “epistemológica bachelardiana” se configura como uma reflexão…que ocorre pela constante volta ao passado – a partir das certezas do presente; segundo um contínuo processo de “retificação” do saber científico.

Neste movimento contínuo… – Bachelar se utiliza da ‘psicologia do                                          conhecimento objetivo’ para desvelar o ‘processo de conhecimento’.

Gaston Bachelard (1884-1962)

Gaston Bachelard (1884-1962)

a) Epistemologia de GASTON BACHELARD

Gaston Bachelard nasceu na região de Champagne, na França, em 1884. De origem humildetrabalhava, enquanto estudava Pretendia formar-se engenheiro, até que veio a 1ª Guerra Mundial e impossibilitou a conclusão deste projeto. Após o conflito, leciona no curso secundário as matérias de… “física” e “química”.  Aos 35 anos, inicia seus estudos de filosofia…Suas 1ªs teses foram publicadas…em 1928… — Ensaios sobre o conhecimento aproximado, e Estudo sobre a evolução do problema físico da propagação térmica dos sólidos

Seu nome passa a se projetar, e é convidado, em 1930, a lecionar na Faculdade de Dijon. Mais tarde, em 1940, vai para a Sorbonne, onde passa a lecionar cursos… que são muito disputados pelos alunos…devido ao espírito livre, original e profundo deste filósofo que, antes de tudo, sempre foi um professor. – Bachelard ingressa em 1955 na Academia das Ciências Morais e Políticas da Françae em 1961 é laureado com o ‘Prêmio Nacional de Letras‘. – Bachelard morre em 1962…Dentre suas obras diurnas, destacam-se…“O novo espírito científico”, de 1934; “A formação do espírito científico”, de 1938; “A filosofia do não”de 1940; “O racionalismo aplicado”1949…e “O materialismo racional”, de 1952.

Dentre as obras noturnas destacam-se “A psicanálise do fogo”, de 1938;                                “A água e os Sonhos”…de 1942 – “O ar e os sonhos”…de 1943 – “A terra                                  e os devaneios da vontade”, de 1948 – e “A poética do espaço”…de 1957.

Objetivosnormas… – e “instrumentos teóricos”                                                                Tanto o “empirismo” de tradição baconiana, quanto o “racionalismo idealista”…são              incapazes de dar conta da efetiva prática científica em seu caráter histórico e social.

Tendo lançado as bases do chamado racionalismo aberto…Bachelard é considerado um dos fundadores da ‘epistemologia contemporânea’, cuja característica histórica é uma renovação científica…pela crítica da epistemologia tradicional. Em sua teoria, desenvolve ‘instrumentos teóricos‘…tais como: ‘psicanálise do conhecimento objetivo’, ‘racionalismo aplicado’, e ‘materialismo técnico’… – para lidar com noções básicas à sua epistemologia, como… “descontinuidade” – “perfil” … “obstáculos” … “corte … e região epistemológicos”.

E, como diz Hilton Japiassu, em Para Ler Bachelar“.  “Dessa forma…Bachelard elabora  um novo racionalismo, que se constrói instaurando uma ‘ruptura‘ entre o saber comum    e o conhecimento científico… – Não há ‘primeiras verdades’ – mas sim, erros primeiros. Quando se apresenta à cultura científica – o espírito nunca é jovem, pois tem a idade de seus preconceitos. – Ao espírito científico…todo conhecimento responde a uma questão.    Se não há questão, esse saber não pode existir…porque nada é dado. Tudo é construído”.    Em sua obra “Conhecimento Comum e Conhecimento Científico”Bachelard coloca tal ruptura nítida e evidente: “Entre o conhecimento comum e o conhecimento científico, a ruptura parece tão nítida – que estes tipos de saber não poderiam ter a mesma filosofia”.    Empirismo’ é a filosofia que convém ao conhecimento comum, encontrando aí sua raiz, suas provas, seu desenvolvimento. O ‘conhecimento científico’, ao contrário, é solidário com o ‘racionalismo’que reclamando ‘fins científicos’…exerce uma ‘atividade dialética’.

O método histórico doconhecimento aproximado”                                                        “O crescimento é um processo de tentativa e erro… – As experiências                                  que não deram certo (como lições) também fazem parte do processo”.

Em 1927, Bachelard lança sua teoria acerca do ‘conhecimento aproximado, na qual usa o conceito de ‘aproximação‘ em vez de identidade, ao referir-se à apreensão da realidade.  Afirma ele que o saber científico constrói-se a partir de retificações, que o aproximam sucessivamente do real. É a ‘filosofia do trabalho‘…da ‘tentativa e erro’; de onde Bachelar  aprimora a ideia de que a abordagem do objeto científico deve se fazer pelo sucessivo uso de diversos ‘métodos’ – um superando outro, para uma possível ‘evolução intelectual. Para ele, o espírito científico” é essencialmente uma “retificação do saber”; alargamento do saber, julgando seu passadocondenando-o. Sua estrutura é a consciência dos “erros históricos – o que faz sua epistemologia…tão flexível quanto o “saber científico”…que se constrói…a partir de constantes retificações. Para sua ‘razão aberta‘, Bachelard propõe uma evolução em consonância ao ‘saber científico’, criando assim a noção de…”história recorrente“, que permite à epistemologia uma projeção sobre o passado das ciências, a partir do presente, para que a filosofia evolua de modo compatível ao ‘espírito científico’. 

O pensador busca assim, fundamentos à sua epistemologia… nas mais diversas áreas da química, matemática, e em especial, na física relativística e quântica…as quais, ao tratar    de conceitos como ‘espaço’, ‘tempo’…e ‘causalidade’, confirmam a ideia de que a ciência avança com rupturas epistemológicas (paradigmas). Daí, Bachelard faz uma subdivisão;    a princípio focando em problemas específicos, para depois, elaborar a proposta de uma “filosofia evolutiva da ciência” – nos moldes críticos… de uma “epistemologia histórica”.

“A razão deve obedecer à ciência A doutrina tradicional de uma razão                                absoluta, imutávelnada mais é que filosofia obsoleta. Tendo o espírito                                estrutura variável, o instrumento para a investigação científica não é a                            lógica (‘neopositivista’), mas história…Todo conhecimento é histórico”.

Os obstáculos epistemológicos‘                                                                                                  O autor penetra no mundo da descoberta científica, como uma nova atividade                        filosófica, que se propõe a acompanhar a evolução do conhecimento científico.                  Para tal…parte dos conceitos atuais, e faz uma releitura da história científica,        buscando os conceitos que se conservam… — e aqueles que são ultrapassados.

gaston-bachelardSe o…”conhecimento científico”      avança por sucessivas rupturas epistemológicas – a procura da verdade… nada mais é, que um constante…’aproximacionismo’, onde afunção da ciência”        se faz presente, através de uma ininterrupta… – “retificação“.

Isso porque, ao buscarmos as condições psicológicas do “progresso científico”, chegamos logo à convicção de que o “problema do conhecimento”…deve ser colocado em termos de obstáculos a serem superados. E estes não são externos a lentidão e as disfunções, por exemplo, surgem dentro do próprio ‘ato cognoscitivo’. E é aí nestas causas de estagnação    e repressão, que vamos achar aquelas “causas de inércia“. – Noutros termos, poder-se-ia dizer que tais obstáculos epistemológicos são ideias que impedem ou bloqueiam outras ideias, pois implicam uma parada do pensamento – isto éum “contra-pensamento“.

Afirma Bachelard, que é através desses “contra-pensamentos” que se analisam as condições psicológicas do ‘progresso científico’…O ato de conhecer, dá-se contra            um (incompleto) prévio saber…reconstruindo conhecimentos mal estabelecidos”.              Um exemplo dessas ideias-obstáculo são os chamados dogmas ideológicos‘…que    sustentam e legitimam o discurso científico. – Tais empecilhos proliferam-se nas      formas de pensamento do racionalismo idealista, e também do realismo ingênuo.

Para superar os obstáculos das ciências, toma-se a ideia de “racionalismo aplicado” para designar a ciência trabalhada pela inteligência, se opondo ao puro formalismo, ao convencionalismo, e ao idealismo abstrato, do positivismo, pragmatismo, e empirismo.    De acordo com Bachelar – é na “historicidade das ciências” que emerge o “saber científico” retificando-se constantementenuma profícua dialética do já constituído com o…’a constituir-se’… Para ele: “O conhecimento vulgar é feito de respostas…já o saber científico vive mergulhado na enorme agitação…dos seus próprios problemas”.

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b) Epistemologia de EDGAR MORIN                    “Conhecer não consiste necessariamente em construir sistemas sobre…’bases pré-determinadas’… – trata-se, sobretudo – em manter um diálogo com a…incerteza”. 

Edgar Morin nasceu em Paris em 8 de Julho 1921, é sociólogo e filósofo francês pesquisador emérito do CNRS (‘Centre National de la Recherche Scientifique’).

É considerado um dos principais pensadores sobre a “complexidade”. Autor de dezenas de livros…entre eles: O método(6 volumes); ‘Introdução ao pensamento complexo’; ‘Ciência com consciência’… ‘Os 7 saberes necessários à educação do futuro… – No mesmo viés de Bachelard, a palavra complexidade para Morin exprime nosso embaraço e incapacidade em definir as coisas de maneira simples…por ideias claras. E, é justamente sobre ela  não como ‘chave’, mas como desafio do pensamento na visão da complexidade, à que Morin se dedica, com 2 observações necessárias…uma, a título de “conceituação”, outra…”ressalva”.  Quanto à ‘conceituação‘… Morin define “complexidade” como aquilo que não se pode resumir a uma ‘palavra mestra‘… – o que não pode reduzir-se a uma lei, ou a uma ideia simples…Portanto…’complexidade‘ é uma “palavra problema“…e não, uma solução.

Sua ideia fundamental é denunciar a “metafísica da ordem”…como um princípio do pensamento que ‘julga o mundo’…e não, como deveria ser:  um imprevisível princípio revelador da rara essência oculta do mundo. 

E Morin ainda argumenta existir ‘ressalvas’ a serem feitas, quanto à necessidade de se dissipar 2 ilusões: A 1ª é crer que a complexidade conduz à supressão da simplicidade.    Na verdade,complexidade aparece somente onde o pensamento simplificador falha. Enquanto este, desintegra a complexidade do real; o pensamento complexo integra os diferentes modos simplificadores de pensar … o melhor possível. A 2ª… é confundir complexidade, com ‘completude‘…O pensamento complexo aspira ao conhecimento multidimensional…em todas as suas variáveis; e não, em sua final totalidade…ou seja:      complexidade não é a chave do mundo…mas o desafio a ser enfrentado.

E…considerando que o pensamento complexo busca revelar, e por vezes ultrapassar o desafio…a epistemologia do pensamento complexo rompe com a “matriz moderna”… propondo novo posicionamento do indivíduo diante da “realidade”…e, portanto… – uma nova forma de ver o mundo.

Para tratar da ‘epistemologia‘… Morin faz uma retomada às circunstâncias do século XIX, dizendo que os físicos ensinavam o princípio da desordem tendente ao mundo, a arruinar qualquer coisa organizada… enquanto os historiadores e biólogos pregavam um princípio das coisas organizadas. – Assim… parece haver um “contraponto” entre as ciências… – se umas tendem à ‘decadência’…outras, ao “progresso”. – Dessa forma, o autor se questiona acerca de como seria possível associar essas 2 visões sobre a mesma realidade – e, sugere que esta não seja fragmentada… – mas as leituras que se fazem dela…é que são limitadas.

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Wladimir Kush – ‘On this way’

Ao separar o sujeito pensante (‘ego cogitans’)  da coisa extensa (Res extensa)…e pôr como princípio da verdade, o próprio “pensamento disjuntivo”, a filosofia cartesiana rompe com  a concepção de ciência moderna. O resultado é… a “compartimentalização/especialização”. Assim a realidade é fragmentada pela ciência moderna – pela ‘universalização’ de suas leis.  O ideal do “conhecimento científico clássico”, para Morin, é descobrir a ordem perfeita por trás da simplicidade aparente do fenômeno.

Tal concepção leva a uma inteligência cega, pois…“destrói o conjunto das totalidades, isolando todos objetos daquilo que os envolve. ‘Realidades chaves’ são desintegradas, passando entre as fendas que separam disciplinas”. Para o autor tal leitura, de fato,        não é condizente com a necessidade de unir ciência à complexidade humana‘. Afinal,      de que serviriam todos saberes parciais – senão para formar uma configuração capaz          de responder a nossas expectativas…nossos desejos, nossas interrogações cognitivas?      (E…portanto… – para isso… precisamos de uma nova… “epistemologia”!)

c) EPISTEMOLOGIA DA COMPLEXIDADE                                                              Trata-se, portanto, de…reintegrar o homem entre os ‘seres naturais’,                                 para distingui-lo neste meio… mas, não… para reduzi-lo a este meio.

Morin parte da ideia de que a própria necessidade do tipo de pensamento complexo que sugere, exige a reintegração do observador em sua observação. Deste modo, a ciência do homem não possui um princípio que enraíze o fenômeno humano…no universo natural, nem um método apto a apreender a extrema complexidade… que o distinga de qualquer outro fenômeno natural conhecido. É preciso assim desenvolver uma teoria, uma lógica, uma “epistemologia da complexidade” … conveniente ao “conhecimento humano”.      Portanto, o que se busca aqui é a ‘unidade da ciência‘  em termos de uma “teoria da complexidade humana”, onde esta ciência encontre seus fundamentos…no consenso do conflito…se desenvolvendo livremente, baseada em seus 4 elementos interdependentes:

a racionalidade … o empirismo … a imaginação … e a verificação.

Racionalidade e empirismo‘ são antagônicos – à medida que as descobertas empíricas destroem e atualizam as construções racionais; ao passo que ‘imaginação’ e ‘verificação’    se adicionam…“A complexidade científica…é representada na presença do observador”. Esta imbricação entre científico e não-científico, entre elementos demonstráveis, e não demonstráveisacarreta que a ciência nunca chega ao objeto que procura. Para Morin:

“Há…com efeito – não apenas níveis e escalas…há igualmente os ângulos                              de visão, o ponto de vista do observador, além dos níveis de organização;                            dos quais emergem, algumas propriedades características desses níveis”.

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Picasso – “Dora Maar” (1941)

Do delírio da lógica…à “hipercomplexidade”  “Enquanto a ciência de inclinação cartesiana…trata  ‘mui logicamente — o complexo, como ‘simples’…o ‘saber científico contemporâneo’, tenta encontrar o ‘pluralismo’ … imerso numa identidade cartesiana”.

A razão não é um dado a priori, podendo autodestruir-se por ‘processos internos’…da própria racionalização. Este é o ‘delírio da lógica’, de uma coerência que deixa de ser controlada pela realidade empírica. Daí brota a racionalidade ‘incomunicável’, num diálogo irracional. A essência da ‘complexidade‘, está na impossibilidade de se homogeneizar, reduzir. Nesse sentido Bachelard  defende a necessidade…na ciência… de uma ‘teoria da complexidade’ – mais apta às… “necessidades atuais”.  

Tal racionalidade é profundamente tolerante aos mistérios. Porém, a humanidade vive uma época de transição na concepção de espaço e tempo…antes, parâmetros fixos, que permitiam a ‘ideia de certeza’ das ciências – mas, agora…’complexos‘… exigindo uma nova “perspectiva dimensional“. O espaço e o tempo não são mais entidades absolutas, independentes. Não só falta base empírica simples como também uma base lógica com noções bem definidas, em realidade não contraditória, para formar o “substrato físico”.

Resulta daí uma consequência capital – o ‘simples’ (categoria da “física clássica”; modelo de qualquer ciência) – não é mais o fundamento de todas coisas, mas uma passagemda complexidade microfísica…à macrocósmica. Sendo assima nova conduta adequada à nova realidade… – é, não mais negar o que não pode ser classificado/simplificado; mas o reconhecimento da realidade complexa visando uma complexidade ainda mais profunda.

Noutros termos, o conhecimento científico deve evoluir, não do simples ao complexo, mas para uma complexidade cada vez maior… — uma ‘hipercomplexidade‘… onde o ‘simples‘ não passa de um “aspecto momentâneo“, entre várias complexidades.

d) AO FINAL DAS CONTAS                                                                                                      A “idade de ferro planetária” indica que entramos na era planetária, onde todas as        culturas e civilizações estão doravante, em uma interconexão permanente. E, ao    mesmo tempo, na barbárie total das relações entre raças, culturas, etnias e nações.

Considerando uma tendência à ‘complexificação‘ crescente…pelo desenvolvimento da ‘autorganização’ (autonomia, individualidade, criatividade, etc), chegamos ao cérebro humanoonde se dão os fenômenos mais complexos. Para Morin… “a humanidade    vive um contrapontoentre o processo global e a consciência individual”. O mundo    vive a idade de ferro planetária, enquanto o espírito humano vive sua pré-história, no início do plano consciente, na transição entre o fim de uma era…e a esperança noutra.

Nesse sentido o presente estudo deixa evidente, que uma das principais marcas de ‘congruência’ entre os autores estudados — é o fato de ambos criticarem o pensamento científico do ponto de vista clássico, por uma ideia de “complexidade” na ciência…Tratando a ‘epistemologia‘ como uma reflexão crítica na história da produção de conhecimento científico, tanto Bachelard como  Morin propõem uma ‘abertura’ do pensamento filosófico, visto que nos moldes modernos, este está enraizado em “sistemas fechados” – com a pretensão de traçar limites do “saber científico”.

Enquanto Bachelard critica no pensamento moderno, uma leitura simples e absoluta, em que a ‘natureza dos elementos’ se encontra desvinculada das relações com outros objetos; propondo evidenciar, numa ruptura epistemológica…o ideal de ‘complexidade’ da ciência contemporânea; Morin destaca que o pensamento determinista e mecanicista, fragmenta    e isola o saber…apenas permitindo a especialistas alcançarem alto desempenho em áreas muito específicas da ciência, distanciando-se da realidade social e de seus participantes; perdendo a percepção do “contexto global”e da complexidade dos problemas humanos.  Diante disso, os 2 defendem que o discurso filosófico precisa estar vinculado ao ‘discurso científico’ onde, cada ciência teria a sua própria filosofia. Em conformidade com este raciocínio, a cada problema do pensamento científico devem existir diferentes elementos de reflexão filosófica; de modo que cada problema, ou experiência, exigiria sua própria filosofia…com a necessidade do pensamento científico trabalhar numa realidade coletiva.

Assim, ao criticar o método da ‘individualização mecânica’, que trata seu objeto como individual, separado e distinto, os autores propõem que o pensamento cientifico deva      ser percebido, definido e agrupado. Nesta nova perspectiva, em última análise, Morin          e Bachelard propõem uma ruptura no conhecimento científico, de modo a atender ao conjunto de mudanças exigidas por um multiculturalismo global. (texto base) (2008)

 textos p/consulta: “La Barbárie Del ‘Especialismo” (trecho) Ortega y Gasset                         O fenômeno Criador na Poesia  # Edgar Morin (“Educando os Educadores”)  ]]]]]]]]]]]]]]]]]]]]]]]]]]]]]]]](texto complementar)[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[[

Sistemas complexos: novas formas de ver a Botânica (set/2004)
Uma parte da ciência denominada Complexidade vem se desenvolvendo rapidamente, e      as aplicações de tais ferramentas em diferentes áreas…como na Botânica, são iminentes. 

Diversity_of_plantsAssim como em outras áreas da ciência, aBotânicavem sofrendo uma lenta…e por vezes, imperceptível transformação. Não se trata de uma ‘transformação’ relacionada às descobertas…em sua própria área de abrangência masna maneira como os cientistas aproveitam métodos de outras áreas para aplicá-las à Botânica…contribuindo em novas descobertas.

Para que tais transformações sejam apreciadas… se faz necessário compreender algumas das principais descobertas da matemática – e suas consequências, durante os últimos 15 ou 20 anos…Na realidade, os pilares fundamentais … para a constatação de que as inter-relações entre as “leis naturais”…poderiam ser bem diferentes… do que até então se pensava, com efeito – já haviam sido plantados bem antes.

Georg Cantor, Gaston Julia e Henri Poincaré foram alguns dos responsáveis pela fundação destes alicerces; porém foi só na década de 1960, graças ao advento de computadores mais eficientes, e técnicas matemáticas mais refinadas…que Edward Lorenz percebeu que havia algo errado quando tentava fazer com que seu computador fizesse uma previsão do tempo. Ele verificou que ao dar entrada nos números iniciais para que as equações calculassem as probabilidades de ocorrência de ‘eventos climáticos’ — nºs bem à direita da vírgula faziam grande diferença…Lorenz compreendeu que pequenas diferenças eram fundamentais. Em 1982, Benoit Mandelbrot, com a publicação do hoje clássico livro “The fractal geometry of nature“, pôs abaixo a ideia de que só existem dimensões geométricas inteiras; ele mostrou que, em toda natureza, existem “dimensões fracionadas. Ao mesmo tempo, e de uma forma independente – Robert May, com uma publicação em 1976 sobre ‘complexidade’…e em seguida…com outros importantes trabalhos, tem gerado descobertas desconcertantes sobre como o universo “não linear” funciona. Tais descobertas acabaram se fundindo com as descobertas de Lorenz e Mandelbrot, gerando a ideia geral de que ‘fenômenos naturais’ podem passar da linearidade ao caos – e vice-versa…mas que esse tipo de “caos” não seria tão desorganizado assim…sendo por isso, inclusive, chamado de “caos determinístico“.

Dessa forma, cada vez que um sistema passa a variar não linearmenteà                            maneira do caos determinístico (diferente de fenômenos verdadeiramente                            aleatórios) … deixa como rastro uma estrutura com dimensão fracionada.                          Uma característica importante dos ‘sistemas não lineares’ é que equações                          extremamente simples … podem gerar padrões extremamente complexos. 

Gradativamente…essas descobertas foram absorvidas – e, com isso…a existência de dimensões fractais e fenômenos não lineares começaram a ser detectadas em várias      áreas das ciências, e a Botânica não é exceção. Uma “estrutura anatômica”, ao ser estudada – ainda possui as mesmas formas previamente descritas – desenhadas ou fotografadas pelos botânicos mas, o que muda, quando se empregam estas novas ferramentas…é a interpretação de, por exemplo, como tal estrutura se desenvolveu,            ou de como ela foi moldada pela evolução, ou ainda como afeta relações individuais        com o seu ambiente. Na imensa maioria dos casos…nossas descrições de estruturas              e mecanismos ainda são facilmente explicadas – de um ponto de vista estritamente        linear, e ainda que tais arcabouços intelectuais possam ser transpostos no futuro,      para visões mais amplas e modernas – as ferramentas intelectuais necessárias para implementar tal visão de fenômenos nas “ciências biológicas”já estão disponíveis.

Tal visão pode permitir uma apreciação mais profunda, e próxima da realidade natural,    de forma a possibilitar a compreensão de correlações imperceptíveis quando usamos estritamente ferramentas do universo linear. Neste novo contexto teórico, o estudo dos sistemas ditos complexos tornou-se um aspecto central na “ciência contemporânea”. O desenvolvimento de teorias matemáticas em sistemas dinâmicos não-lineares na teoria        do caos…e fractais, trouxe novas possibilidades de observação e interpretação de dados biológicos, com maior aproximação à complexa realidade dinâmica dos ‘sistemas vivos’.

Caos, fractais, e sistemas complexos: um novo paradigma                                          Sistemas biológicos… – do nível molecular ao ecológico – são geralmente controlados por mecanismos não-lineares de retroalimentação – ou seja, laços recorrentes (feedback) que permitem a amplificação de sinais de comunicação pelo sistema (feedback positivo), bem como uma regulação do sistema através de relações de antagonismo (feedback negativo). Não surpreende, portanto, que tais mecanismos apresentem…comportamentos caóticos.

Genericamente, sistemas complexos são aqueles compostos de muitos elementos e/ou subsistemas diferentes interagindo espacialmente/temporalmente de modo não linear, gerando padrões emergentes que apenas são observáveis em maiores escalas. O termo complexidade refere-se à descrição de estados de um sistema, cujos constituintes — mesmo diferentes, estão …inseparavelmente associados.

Existem diferentes medidas de ‘complexidade’. – Algumas delas podem estar relacionadas simplesmente com a quantidade de diferentes elementos que compõem um sistema, o que, na verdade — é uma medida parcial … pois desconsidera as relações entre os elementos do sistema. Outras medidas estão relacionadas com o nº e intensidade (‘grau de conectância’) das relações entre os elementos do sistema…formando uma intrincada rede de relações. E outras ainda … podem estar relacionadas pela razão entre o nº de diferentes elementos do sistema, e o nº de funções realizadas pelo sistema, de modo que um sistema com pequeno número de elementos diferentes, mas um maior número de funções…seria mais complexo que um sistema com um grande número de elemento…todavia, com relativamente poucas funções. — Desta forma, alguns sistemas podem ser mais ou menos complexos que outros. 

Sistemas biológicos…de árvores a florestas possuem um padrão típico de estruturação com propriedades auto-similares que independem da escala de observação. Por exemplo,    o padrão de ramificação de uma árvore, formando sua copa, pode ser também observado no padrão de ramificação das nervuras de uma única folha. — Tal padrão auto-repetitivo de construção de estruturas costuma ser associado à construção de…”estruturas fractais”. Fractais são conjuntos com formas extremamente irregulares (‘fragmentada’) exibindo essencialmente o mesmo padrãoem todas as escalas. A geometria dos fractais permite uma estimativa bem mais precisa da dimensão de “objetos naturais” muito distintos das formas euclidianas, com diversas aplicações em biologia. De maneira geral…a dimensão fractal mede a ocupação irregular de um espaço — devido a um processo de crescimento.

Por exemplo colônias de bactérias crescendo em um meio de cultura homogêneo e rico em nutrientes tendem a formar estruturas esféricas (ocupação homogênea de espaço). Mas se o meio apresentar recursos limitados e/ou alta densidade simulando ambientes naturais as colônias de bactérias apresentarão uma forma irregular(“fractal”) caracterizando um processo não-homogêneo de ocupação de espaço.

Sistemas biológicos não são apenas estruturalmentemas também funcionalmente complexos. Plantas ou comunidades vegetais são sistemas que evoluem no tempo,          isto é…seus estados, em todas as escalas de organização, sofrem modificações numa determinada faixa de amplitude em função do estado anterior do sistema. — Tais modificações imprimem uma dinâmica temporal que raramente pode se caraterizar        por alterações proporcionais no sistema…e assim, dinâmicas temporais de sistemas biológicos são predominantemente não-lineares. Tais sistemas, com dinâmicas não-lineares podem ser particularmente sensíveis a perturbações externas…de tal forma,      que a previsibilidade de seus…”comportamentos futuros“…torna-se bastante difícil.        Este tipo de comportamento pode ser caracterizado como uma…dinâmica caótica.

O termo caos ou caótico, portanto, refere-se ao tipo de sistema cujos processos, têm dinâmicas temporais sensíveis a variações externas, e suas previsões de longo alcance tornam-se cada vez mais improváveis – como… por exemplo… o processo sucessional numa floresta, ou o “metabolismo respiratório”. Todavia esse tipo de comportamento    não deve ser confundido com um procedimento somente probabilísticoou aleatório. Sistemas dinâmicos caóticos estão associados, pelo menos teoricamente, a equações matemáticas que descrevem sua dinâmica no espaço de…estados (espaço cartesiano        N dimensões, onde cada dimensão se relaciona a uma variável observada no sistema).    São sistemas que…embora imprevisíveis em longo prazo, possuem um determinismo subjacente que permite sua modelagem por meio de equações diferenciais. E, de fato, sistemas caóticos são caracterizados por “atratores(regiões restritas do espaço de estados para onde as trajetórias do sistema convergem). No caso de um sistema com dinâmica puramente aleatória o atrator do sistema preenche inteiramente o espaço          de estados, e portanto, não há nenhum tipo de organização temporal – a dinâmica do sistema é totalmente imprevisível a curto ou longo prazo, enquanto que, num sistema caótico… – sua dinâmica fica restrita a uma região do espaço de estados: (o “atrator”). 

A emergência da complexidade                                                                                              Segundo uma visão sistêmica, as propriedades essenciais de um ‘organismo vivo’                  são do todo, que nenhuma das partes possui. – Elas surgem das interações entre                essas partes, mas desaparecem quando o sistema é dissecado em partes isoladas.

moléculadna

Na síntese proteica ocorre a conversão de informações contidas nas moléculas de RNA em proteínas.

Montar uma proteína não é nada fácil. As relações de energia e logística celular, na montagem de uma molécula proteica, muito provavelmente envolvem mais complexidade, do que a mais sofisticada tecnologia, já desenvolvida pelo homem.

Mesmo assim asíntese proteicaocorre todos os dias…em milhões de células de uma única planta… Mais do que montá-las…é necessário controlar seus tempos de vida e destruí-las no momento certo, para permitir que assim o sistema continue…normalmente…funcionando.

A proteína é um exemplo que pode ser extrapolado para todas outras moléculas orgânicas. Pode-se imaginar – portanto…que um sistema extremamente complexo, como uma célula vegetal – esteja se renovando a todo momento – e que… – para isto ocorrer – é vital que a repetição contenha pouco ou nenhum erro. Nesse caso, então, uma pergunta fundamental seria…como pode tudo isso acontecer em paralelo e, mesmo assim, repetir praticamente a mesma coisa no dia seguinte? – Tal observação poderia ser contestada, pelo fato de que, a planta de amanhã não é exatamente a mesma de hoje pois… até lá… já se desenvolveu. Todavia tal crítica é uma forma de transpor o problema para outro nível de complexidade, pois o desenvolvimento também sempre ocorre por sequências bem parecidas de eventos. Através de mecanismos de… “reiteração de processos” – talvez com maior propensão a erros – o sistema acaba produzindo…células…órgãos, e organismos…bastante similares.

De maneira geral, podemos conceber o desenvolvimento de “sistemas organizados”, ou o fenômeno da auto-organização, como um processo que induz variações na complexidade de um sistema, frequentemente aumentos de complexidade, simultaneamente estrutural    e funcional, devido a uma sucessão de desorganizaçõesgeradas por distúrbios internos ou externos ao sistema Assim, tais desorganizações provocadas pelo ambiente externo, sujeitas à segunda lei termodinâmica (aumento da ‘entropia’ no sistema) constituem um ruído que afeta o desenvolvimento do sistema. Tal ruído provoca erros no sistema, que a posteriori podem ser causadores do aumento de variedade (complexidade) no sistema, por exemplo…aumentando as ‘taxas de mutação’ de uma espécie – conferindo-lhe maior grau de adaptação, e assim, melhores chances de sobrevivência em um “ambiente hostil”.

Outra importante propriedade intrínseca de sistemas auto-organizados é a “emergência”.    Nessa teoriaa totalidade do sistema é maior que a soma de suas partes – e o todo exibe padrões e estruturas — que surgem espontaneamente dessas partes. — O crescimento de um sistema auto-organizado é autônomo, isto é, sem controladores externos…de modo a possibilitar o surgimento de ‘novidades imprevisíveis’. Porém, é possível fazer distinções significativas observando certos aspectos do sistema como um todo. Um desses aspectos mais relevantes é a hierarquia ascendente de uma ‘ordem’…Em sistemas de vários níveis (moléculas/células/tecidos/órgãos)a hierarquia tem especial importância – cada nível inclui todos níveis inferiores numa organizada rede auto-controlada. — Na evolução das florestas da emergência de interações individuais, há também comportamento de ‘redes’.

A morfologia fractal das plantas                                                                                            A dimensão fractal pode ser empregada como uma medida quantitativa para o estudo        do desenvolvimento de plantas caracterizando mudanças de complexidade estrutural.

Para tratar um problema sob a perspectiva de um enfoque sistêmico, certas condições e princípios devem ser reconhecidos; entre estes destacamos: a) existência de um sistema com estrutura subjacente formada por um conjunto de elementos, e da relações entre eles (hierarquia), e com uma funcionalidade, b) caracterização de elementos internos, externos e de fronteira, c) expectativa do sistema receber energia, matéria e informação    do ambiente, transformá-las internamente, e transmiti-las ao exterior, d) possibilidade    de manter o equilíbrio estrutural/funcional do sistema, em sua relação com o ambiente externo, e) possibilidade de mudança deestado‘, com a emergência de um novo estado, que caracteriza a criação/evolução pelo mecanismo de adaptação estrutural e funcional.

Objetos com características fractais possuem auto-similaridade em sua estrutura, e são gerados por processos de crescimento que proporcionam ocupação não-homogênea do espaço. Isto possibilita a utilização de modelos baseados na…’geometria fractal’, para a simulação do padrão de crescimento de organismos com ‘crescimento modular’…como      as plantas. Estudos têm se desenvolvido utilizando medidas de dimensão fractal, isto é, medidas fracionárias da dimensão geométrica – de um objeto qualquer, para estudar a complexidade da forma de folhaspossibilitando a discriminação de ‘espécies’ através    de programas computacionais associados a outros tipos de“medidas morfométricas”.

De forma geral, a dimensão fractal é um indicador direto da maior complexidade da forma de um determinado objeto quanto maior a dimensão fractalmaior o nível de complexidade da forma avaliada. A dimensão fractal assim permite avaliar e comparar padrões de ramificação de copas de árvores, e especialmente de “sistemas radiculares”. Como um instrumento de avaliação da complexidade’…a dimensão fractal pode então,      ser empregada como um modo original de medida quantitativa em estudos que tratem    de experimentos com “estresses ambientais” – que possam alterar a forma das plantas.

Uma forma de estudar o crescimento vegetal que envolve a geometria fractal constitui      os Sistemas de Lindenmayer (L-Systems). Através da construção desses modelos, que envolvem o conceito básico de auto-similaridade, é possível simular…em computador,        uma variedade quase infinita de formas geométricas, simulando surpreendentemente    bem as formas vegetais. Esse tipo de modelo tem sido usado para simular a formação      de árvores, inclusive utilizando desvios de simetria para emular o crescimento num ambiente naturalCom efeito, em 1998, um L-System associado a modelos biofísicos      foi utilizado (por C. Fournier e B. Andrieu) para simular um “modelo tri-dimensional”      do desenvolvimento de plantas de milho  em diferentes condições microclimáticas.

Complexidade em fisiologia e bioquímica: “Sistemas Adaptativos Complexos”  Particularmente em sistemas biológicos, padrões complexos correspondem à organização hierárquica do sistema…e têm a potencialidade de se modificar, em função das interações com o meio circunvizinho. – Este tipo de sistema, com capacidade de responder de forma organizada aos estímulos externos, denomina-se“Sistema Adaptativo Complexo” (SAC).

SistemasAdaptativosComplexosRecentemente (2002) foi publicada uma revisão sobre “modelagens não-lineares” em…fisiologia de plantas. – Os autores focaram a relevância de ‘representações matemáticas não-lineares’ para um bom entendimento de um mundo vivo onde certas propriedades emergentes exigem especial instrumental analítico, baseado nas teorias sobre… – “complexidade“.

De fato, embora a literatura ainda seja muito escassa, têm-se observado a ocorrência de estudos sobre uma dinâmica caótica em variados processos fisiológicos de plantas…Por exemplo a possível existência de dinâmica caótica no ritmo circadiano em espécies com metabolismo ácido; ou alterações na intensidade luminosa, como padrões temporais no comportamento do sistema fotossintético…variando…de periódico…a caótico; ou ainda,    a ocorrência de períodos duplos e triplos de ‘correntes bio-elétricas’ nas folhas de certas espécies de plantas em resposta à temperatura. Estas observações então trazem consigo      a seguinte pertinente indagação: Por quê estas dinâmicas existem?…Pode haver algum tipo de… vantagem adaptativa nestes tipos de comportamentos?

A dinâmica não linear dos fatores ambientais, assim como do metabolismo, torna bem improvável que uma estabilidade global de um sistema possa ser atingida. – Ou seja, é improvável que todos níveis de organização do sistema possam ser…simultaneamente, estáveis. Sendo assim, parece provável que em um ambiente naturalonde sempre há oscilações — plantas e outros organismos apresentem um metabolismo com ‘dinâmica irregular’propiciando condições favoráveis de crescimento e adaptação. Estes são osSistemas Adaptativos Complexos(SAC)Em cada caso há vários modelos possíveis competindo, e os resultados da ação sobre o ambiente retro-alimentam cada modelo, influenciando na competição entre eles…E, nesse caso, para plantas crescendo em um ambiente com “flutuações naturais”…se torna difícil acreditar que “respostas caóticas” representem um comportamento anormal ou prejudicial  pois essas plantas têm sobrevivido por milhões de anos de evolução num ambiente em contínua modificação.

SACs costumam desenvolver propriedades emergentes; tais propriedades surgem em função de ‘interações retro-alimentadoras’ locais — entre elementos da vizinhança de      um sistema, possibilitando a emergência de um “padrão global” de organização. Este    tipo de ‘processo organizacional’ é oposto àqueles nos quais a organização do sistema          é imposta por algum tipo de agente controlador a nível superior de escala…como, por exemplo, uma pressão seletiva muito forte em um ecossistema…ou a coordenação do cérebro sobre movimentos do corpo. Porém, é bastante provável que em um ‘sistema biológico’; ambos os processos, variando em sua importância relativa, atuem sobre a organização do sistema em sua evolução de longo prazo. — Um exemplo de ‘processo organizador’ do tipo “individual”…é o da organização de uma…”comunidade vegetal”.        As características relacionadas à distribuição ou frequência de espécies, e até mesmo            a dinâmica de uma ‘sucessão florestal’ … são dependentes dos estados fisiológicos de    cada indivíduo, em cada espécie – frente às eventuais pressões de…”seleção natural”. Assim, pela capacidade dos organismos em responder às perturbações ambientais, a estrutura da comunidade – em uma dada região – poderia variar ao longo do tempo.

Dinâmicas caóticas permitem que o organismo tenha flexibilidade nas respostas às mudanças ambientais. Isto se deve ao fato de atratores caóticos coexistirem com um grande nº de órbitas periódicas instáveis. – Quando um sistema em estado caótico é perturbado, pode responder seguindo caótico, ou estabelecendo sua dinâmica numa        das órbitas periódicas instáveis na vizinhança do atrator caótico. – Estas órbitas são frequências regulares…na dinâmica do sistema representando uma periodicidade,        que pode ser facilmente alterada por alguma perturbação. Igualmente, em sistemas “enzimáticos”comportamentos caóticos têm sido cada vez mais observados — tais      como uma maior capacidade de recuperação (“homeostase”) das plantas com maior complexidade de suas dinâmicassuportando hipóteses previamente consideradas.

“Criticalidade auto-organizada” (complexidade x estabilidade)                              Sistemas com uma certa estabilidade em relação a perturbações ambientais possuem interações tipicamente…não lineares‘. Tal estabilidade se deve à existência de vários atratores possíveis ao sistema devido à flexibilidade de seus componentes. – Pode-se assim, dizer que quanto mais complexo um ecossistemamaior a sua estabilidade.   

A dinâmica da sucessão ecológica também pode ser abordada como um fenômeno de “organização emergente”…Formações de florestas tropicais têm se caracterizado como um mosaico sucessional, com várias fases estruturaisinduzidas pela abertura de clareirasSua dinâmica e manutenção, decorrem das interações…entre diferentes ambientes — gerados desse mosaico… nos quais as espécies adquirema capacidade diferencial de sobreviver, e se desenvolver. 

A dinâmica de clareiras numa ‘floresta tropical’ pode estar relacionada a um fenômeno comum na natureza conhecido como…”criticalidade auto-organizada“. Tais sistemas são aqueles onde, no “estado crítico”…todos seus elementos constituintes podem influenciar uns aos outros direta ou indiretamente…Assim, algumas perturbações, independentes    de sua escala – poderiam influenciar o sistema com um todo. – Numa dinâmica matriz complexa a disponibilidade de luz por exemplo varia mais drasticamente que qualquer outro recurso, influindo criticamente na formação, crescimento, sobrevivência    e reprodução das espécies vegetais. O uso fotossintético da luz…portanto, é componente fundamental à distribuição das espécies … ao longo de um gradiente de sua regeneração.

Neste caso, com base na sua capacidade de ocupação espacial/temporal, as espécies podem se dividir em 2 grupos sucessionais: as espécies iniciais…que demandam luz;            e as tardias – tolerantes ao sombreamento. Em geral, espécies do início da sucessão apresentam maior flexibilidade à resposta, em função do aumento de luminosidade.      Deste exemploentão, percebe-se que um “padrão global” da dinâmica de clareiras emerge das diferentes capacidades dos indivíduos de cada espécie…em lidar com os recursos disponíveis. – Portanto…as interações espaço-temporais entre os variados componentes…em um dado ambiente…estabelecem uma organização em rede…que apresenta determinadas características apenas observadas numa escala ecológica.

Particularmente em ecologia o debate diversidade/estabilidade possui importância marcante no contexto das discussões sobre o impacto das atividades humanas – nos programas de preservação ou recuperação da biodiversidade. Uma vez que a própria      vida, em seus mais variados sistemas (células…organismos…ambientes), constituem “dinâmicas não lineares”, frequentemente apresentando “dinâmica caótica” – certas diferenças ambientais poderiam levar à evolução de ecossistemas específicos – num tempo relativamente curto. – E, sendo assim, o aumento da ‘diversidade’, em média,    pode levar a um aumento da estabilidade do ecossistema…Tal relação positiva entre diversidade e estabilidade pode se explicar de 2 formas…Uma é que…aumentando a diversidade, aumentam-se as chances que pelo menos algumas espécies respondam diversamente a condições ambientais variáveis ou perturbações. A 2ª explicaçãoé        que, quanto maior for a diversidade, maiores as chances de um ecossistema possuir redundância funcional – contendo espécies capazes de substituir funcionalmente    outras espécies mais importantes…Isto significa que, quanto maior o nº de espécies,      mais relações fracas entre componentes do ecossistema, diminuindo a dependência        das interações fortes – que poderiam desestabilizar o sistema – caso perturbadas.

Diversidade…que considera o número de diferentes espécies que compõe um ecossistema, pode assim ser relacionada a uma das medidas de complexidade do ecossistema a outra está relacionada às interações entre as espécies, formando redes, por exemplo, como teias ou cadeias alimentares. Por outro ladoem uma escala global, compreendendo a biosfera como um todo – esses mesmos princípios de organização emergente podem ser utilizados para explicar e modelar o surgimento de diferentes biomas – como diferentes ‘atratores‘, representando os mais variados sistemas surgindo — sob diferentes condições ambientais.  A importância de “dinâmicas caóticas”…à organização espaço-temporal de uma vegetação, tem sido amplamente reconhecida… — bem como — a possibilidade de que a formação de “ecótipos” estáveis possa ser alcançada em poucas gerações… com base em… processos epigenéticos…Assim, cada ‘ecossistema’ também poderia ser encarado como um atrator em um “espaço de possibilidades” – dependente de condições ambientais específicas.  Gustavo M. Souza/Marcos S. Buckeridge…”Sociedade Botânica de São Paulo” (texto base)

Sobre Cesar Pinheiro

Em 1968, estudando no colégio estadual Amaro Cavalcanti, RJ, participei de uma passeata "circular" no Largo do Machado - sendo por isso amigavelmente convidado a me retirar ao final do ano, reprovado em todas as matérias - a identificação não foi difícil, por ser o único manifestante com uma bota de gesso (pouco dias antes, havia quebrado o pé uma quadra de futebol do Aterro). Daí, concluí o ginásio e científico no colégio Zaccaria (Catete), época em que me interessei pelas coisas do céu, nas muitas viagens de férias ao interior de Friburgo/RJ (onde só se chegava de jeep). Muito influenciado por meu tio (astrônomo/filósofo amador) entrei em 1973 na Astronomia da UFRJ, onde fiquei até 1979, completando todo currículo, sem contudo obter sucesso no projeto de graduação. Com a corda no pescoço, sem emprego ou estágio, me vi pressionado a uma mudança radical, e o primeiro concurso que me apareceu (Receita Federal) é o caminho protocolar que venho seguindo desde então.
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3 respostas para Epistemologia da Complexidade (Bachelard & Morin)

  1. SOLANGE disse:

    Adorei a reflexão, continue.

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